quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Balança Comercial: o seu espectro na sociedade

Desde os 1990 que a balança comercial de Portugal tem sido historicamente negativa, ou seja, Portugal continua a importar mais mercadorias e serviços do estrangeiro do que a exportar. Como somos um país deficitário em vários setores da economia, é necessário realizar importações. Todavia, como país produtor em alguns setores económicos também temos algum peso nas exportações internacionais.
De acordo com os dados do Banco de Portugal, nos últimos cinco anos, as exportações e importações de bens e serviços registaram taxas de crescimento médias anuais de 4,9% e 1,2%, respetivamente. No 1º semestre de 2016, as exportações de bens e serviços verificaram uma quebra de 1,3%, face ao período homólogo do ano anterior, e as importações diminuíram 2%, tendo a taxa de cobertura alcançado 103%. O saldo da balança comercial de bens e serviços foi positivo entre 2012 e o 1º semestre de 2016, invertendo a tendência negativa registada anteriormente.
As máquinas e aparelhos continuaram a ser o grupo de produtos mais exportado no 1º semestre de 2016 (15,3% do total), seguido pelos veículos e outro material de transporte (12,1%), os plásticos e borracha (7,7%), os metais comuns (7,5%) e o vestuário (6,2%). Estes cinco principais grupos de produtos representaram cerca de 48,8% do total exportado por Portugal nesse período (contra 47,8% no 1º semestre de 2015). Como principal destino das exportações de bens permanece a UE (76,9% do total no 1º semestre de 2016), seguida do NAFTA (5,7%), dos PALOP (3,7%), do MAGREBE (2,9%) e do MERCOSUL (1,4%). Os cinco maiores clientes de Portugal - Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e os EUA - concentraram 63,7% do total exportado nesse período. Relativamente à estrutura dos principais clientes destaca-se um reforço de quota por parte de Espanha, de França e do Reino Unido, enquanto a Alemanha manteve, e os EUA reduziram-na em relação ao 1º semestre de 2015.
Em relação às importações de bens, as máquinas e aparelhos, os veículos e outro material de transporte, os produtos químicos, os produtos agrícolas e os combustíveis minerais, lideram o ranking das compras ao exterior efetuadas no 1º semestre de 2016, representando 61,6% do total (contra 63,3% no 1º semestre de 2015). A UE foi a origem da maioria dos produtos importados nesse período com 78,1% do total, seguida do MERCOSUL (3,3%), do NAFTA (2%), dos PALOP (1,2%) e do MAGREBE (1%). A Espanha, a Alemanha, a França, a Itália e os Países Baixos permaneceram os cinco principais fornecedores, que representaram juntos 64,9% das importações efetuadas no 1º semestre de 2016. Destes, destacam-se os aumentos de quota sobretudo da Alemanha e de França.
Em Portugal, vivemos a satisfação de um saldo do comércio internacional positivo e o desespero de uma balança comercial negativa. Os políticos usam a boa nova de uma balança comercial positiva como forma de enaltecer as políticas públicas e a dedicação dos governantes a tirar o país da crise. Até a, então, oposição socialista louvou o resultado e lembrou a necessidade de “dar lugar à economia” e “estimular o crescimento”. Sabe-se que em termos estatísticos, é regular haver “deficit” em períodos de expansão.
O termo balança comercial é, somente, a diferença entre exportações e importações para bens e serviços efetuados pelo país. Um “superavit” não reflete um poderio económico como, de igual forma, um “deficit” na balança comercial não reflete uma economia débil. Os anos de mais crescimento económico em Portugal foram acompanhados por “deficits” da balança comercial. E com isto não quer dizer que um “deficit” cria crescimento económico, apenas que o que cria riqueza é o comércio internacional, sejam importações, sejam exportações.
Em suma, concluo que somos alvos de falsos testemunhos por parte dos governantes que usam a falta de conhecimento da população para se rejubilar com dados estatísticos, como neste caso o saldo da balança comercial, que são usados para mostrar um crescimento e um desenvolvimento que não é de todo justificado por esta atividade.

Rui Miguel Almeida Moreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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