sábado, 29 de outubro de 2016

UBER: a ponta do iceberg da economia da partilha

Emergiu uma nova economia baseada em torno da partilha e colaboração, a chamada “economia da partilha”, que resulta do facto de estarmos cada vez mais ligados.
Talvez pelas dificuldades, ou pela procura de maior sustentabilidade, há um conjunto de atividades e de bens que passaram, ou voltaram a ser partilhados. Partilhar é inerente à natureza humana e ao longo da nossa existência conheceu diferentes formatos. Se antes recorríamos ao crédito para ter acesso a determinado tipo de bens, para os quais não tínhamos disponibilidade financeira imediata, hoje, principalmente as novas gerações, recorrem à partilha de bens e serviços. Trocámos o crédito pela partilha de custos.
Este fenómeno é muito mais do que a UBER, a Airbnb, o Spotify ou a Netflix. São vários os benefícios económicos que estas empresas proporcionam. Além de promoverem a inovação e o empreendedorismo, estas plataformas possibilitam rendibilização de ativos não utilizados, contribuindo para uma melhor utilização de recursos e aperfeiçoamento da eficiência económica. Adicionalmente, estas empresas criam novos serviços que vão ao encontro da necessidade e gosto dos consumidores.
        Contudo, o crescimento e expansão da economia colaborativa provocou alterações significativas nos mercados, principalmente em setores muito regulados, como o alojamento e o transporte de passageiros. Francisco Veloso, investigador na área do desenvolvimento económico, afirmou: “Proibir a UBER é como parar o vento com as mãos”. Pode não ser literalmente assim, mas esta é uma nova realidade que não podemos ignorar e cujo debate é inevitável.
A UBER é o caso mais extremo deste fenómeno porque interfere com uma atividade concorrente em vigor, com muita tradição e que divide a opinião pública. Esta plataforma de transporte privado foi proibida, em 2015, de prestar serviços em Portugal, por infringir as regras de acesso, concorrência e exercício da atividade. Recorrendo da decisão do tribunal, em 2016, obteve a sua anulação.
É óbvio que a disparidade face às exigências feitas ao seu concorrente direto, o táxi convencional, parece provocar alguma injustiça. Há condições que poderão e, saliento, devem ser também ser exigidas, como por exemplo um seguro de acidentes pessoais e um mínimo de formação para os seus promotores e colaboradores.
A cara da economia da partilha em Portugal é a Uniplaces, que arrenda apartamentos, ou a  “RAIZE”, a primeira plataforma de empréstimos coletivos onde pessoas podem emprestar dinheiro a empresas, construindo uma alternativa de financiamento para a economia, onde uma empresa é financiada por várias pessoas e cada pessoa financia várias empresas.
A base fundamental do capitalismo tem sido possuir e acumular a maior quantidade possível de bens. Tradicionalmente, uma venda representa a saída de um produto e a obtenção de propriedade por parte do comprador. A estratégia central da economia compartilhada é vender o mesmo produto por diversas vezes, sem que o comprador obtenha a propriedade do bem usufruído.
Permite-nos o acesso a bens e serviços a custos mais acessíveis, sem necessidade de grandes investimentos. Será que estamos mais pobres? Acho que estamos mais sensatos e focados na sustentabilidade. Mudou-se a mentalidade do capitalismo mundial ao primar pela partilha em detrimento da propriedade.
Pelo exposto, posso afirmar que a economia da partilha tem, na minha opinião, vantagens para todos e, mais do que enfiar a cabeça na areia ou criar preconceito, é urgente fazer evoluir a mentalidade e legislação comunitária. Torna-se imperativo flexibilizar o processo de revisão das leis de forma que não sejam criadas barreiras à entrada de novos negócios no mercado. Só assim será possível promover a inovação, a evolução tecnológica e, naturalmente, a competitividade económica.
Daniela Patrícia Pires da Costa Marcelo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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