quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O DESAFIO DA OPEP

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tem, atualmente, à sua frente o grande desafio de controlar o preço de venda do petróleo no mercado mundial, o que contrasta com o seu interesse em deter a maior quota, mundial, de mercado de petróleo. É de lembrar que controlar o preço de venda do petróleo no mercado mundial é um dos seus objectivos fixados aquando da sua criação em 1960. Portanto, este desafio não é de hoje.
Ao longo destes anos, o cartel tem tentado manter a sua posição mundial no mercado de petróleo. Esta é uma tarefa que não tem sido fácil para a organização, uma vez que existem fortes concorrentes, como a Rússia, o actual maior produtor de petróleo a nível mundial, e os Estados Unidos da América. Entre controlar o preço de venda do petróleo e deter a maior quota de mercado, a OPEP tem enfrentado grandes dilemas. Vejamos: para controlar o preço de petróleo, a OPEP tem utilizado como política a diminuição da produção diária de petróleo entre os países pertencentes à organização. Esta é uma estratégia que resultou na crise do petróleo de 1973, entretanto, beneficiando os países da OPEP, uma vez que o preço de venda do petróleo passou de US$ 2,90 para US$ 11,65 por barril em apenas três meses.
Hoje, eu não acredito que esta política venha a ter o mesmo efeito. Para começar, existe o facto de alguns membros da OPEP dependerem muito do dinheiro do petróleo, o que os leva a não cumprir rigorosamente com o acordo de baixar a produção diária quando sabem que podem aproveitar-se de um momento de alto preço. Isto é, a diminuição de produção diária gera uma pressão sobre o preço de venda de petróleo que vai para cima. O aumento do preço gera incentivo por parte dos países da OPEP mais dependentes do petróleo a não respeitarem o acordo e aumentar a produção gerando um aumento na oferta, que depois gera uma pressão nos preços para baixo. Isto pode ser considerado um efeito compensatório, apesar de não poder verificar-se se a diminuição do preço gerada pelo aumento da oferta é igual ao aumento do preço gerado pela diminuição da produção diária, que o antecedeu.
Portanto, eu acredito que a política de diminuição na produção diária do petróleo por parte da OPEP terá um efeito no curto prazo de “aumento do preço de venda”, mas no longo prazo este efeito será compensado, “com a diminuição do preço de venda”. 
Outra razão que me leva a acreditar nisto é o facto de os seus principais concorrentes, a Rússia e os EUA, que detêm, cada um, grande parte da quota de mercado mundial do petróleo, não fazerem parte dos acordos da OPEP. Ou seja, a Rússia, com aumentos sucessivos da produção de petróleo e sendo o maior produtor mundial, ganha quota de mercado. Os Estados Unidos da América, com o desenvolvimento da sua tecnologia de exploração do petróleo de Xisto, oferece uma alternativa ao mercado para os consumidores de petróleo. Por isso, a OPEP não cumpre à risca o que estabelece nos seus acordos quanto à diminuição na produção diária de petróleo. Podemos verificar isto correndo os anos desde 1996 à 2016, onde vemos os valores de produção diária de petróleo da OPEP sempre acima do alvo. A verdade é que, a OPEP não quer perder quota de mercado para a Rússia, nem para os EUA.   
Na semana passada, mais um alarme soou, num anúncio da OPEP sobre a possibilidade de diminuir a sua produção diária de petróleo, para fazer face ao atual cenário em que o mercado do petróleo se encontra. Isto gerou um aumento no preço de venda de petróleo em 5% no dia em que foi dado o anúncio.
A Europa é um dos grandes compradores do petróleo produzido pela OPEP. O que significa que, tal como provado em 1973, sente o impacto das decisões tomadas pelo cartel. O que poderia acontecer na Europa caso o anúncio da OPEP venha a confirmar-se na próxima reunião, em Novembro, e que tenha credibilidade, conduzindo ao aumento do preço de venda do petróleo? Poderia esperar-se uma redução do consumo de petróleo, um aumento do custo de energia, que teria um efeito sobre a inflação, uma diminuição do incentivo à compra de veículos dependentes do petróleo, aumento no incentivo aos países da OCDE para encontrarem fontes energéticas alternativas para substituir o petróleo.
Portanto, eu acredito que a Europa em geral não tem razões de preocupação quanto à decisão da OPEP, desde que a Rússia e os EUA mantenham a sua posição actual. Em suma, a OPEP continua a ter em mãos o grande desafio de transformar os efeitos de curto prazo, da sua decisão, em efeitos de longo prazo.

Príncipe Zanguilo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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