sábado, 8 de outubro de 2016

Desigualdades sociais

Um dos problemas frequentes no mundo hoje é a desigualdade social e a pobreza. No entanto, causa certa estranheza que seja a desigualdade, e não a pobreza em si, o que incomoda muitos. A teimosia de nos preocupamos mais com a desigualdade do que propriamente com a pobreza leva a pensar que é uma situação de inveja em vez de uma inquietação verdadeira com o bem-estar dos mais pobres. O que nos leva a uma questão: “Será que os mais ricos se tornaram cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres?”.
Para responder a esta pergunta é preciso analisar a discrepância entre os ricos e pobres através do coeficiente de Gini(1), que representa a desigualdade dos rendimentos entre as pessoas. Em 2014, para Portugal, este era de 34,5%, de acordo com os dados do Pordata. Na Europa dos 28, Portugal encontrava-se na oitava posição, ou seja, o oitavo país, juntamente com a Grécia, mais desigual neste grupo.
Este coeficiente tem tido uma exibição paralela com o crescimento económico e também com o mercado de trabalho, visto que, a partir do ano de 2009, existe uma tendência do crescimento das desigualdades em Portugal. Os 20% mais ricos da população portuguesa auferiam um rendimento 6 vezes superior aos 20% mais pobres – no ano de 2014, em comparação com 2009, o ano em que o S80/S20 atingiu o valor mais baixo, em que os 20% mais ricos auferiam um rendimento 5,6 vezes superior aos 20% mais pobres nesse ano. Este indicador, tal como o coeficiente de Gini, desde de 2009, tem vindo a piorar. Na EU-28 este valor é de 5,2, o que significa que estamos acima das médias europeias.
Existem certos fatores que impulsionaram a desigualdade e o empobrecimento no longo prazo, tal como as alterações na estrutura populacional, a globalização, alterações nas instituições de mercado de trabalho, sendo que a taxa de emprego nas pessoas com menor grau de ensino diminui e o desemprego mantém-se elevado (em 2015, a taxa de desemprego foi de 12,4, o que corresponde a uma melhoria em comparação com os últimos 4 anos). Apesar de o emprego ser eficiente no combate à pobreza, não é suficiente para evitá-la, visto que é necessário recorrer a benefícios que complementem os rendimentos.
A pobreza pode ser entendida como a carência de bens essenciais ao bem-estar do indivíduo. Portugal é também um dos países com maior risco de pobreza, atingindo, em 2014, os 47,8 por cento, o que é atenuado pelos apoios sociais, atingindo o valor de 19,5 por cento. A pobreza entre os jovens adultos e as famílias com crianças aumentou, enquanto que entre o grupo etário idoso continua a diminuir. Em concordância com os dados da OCDE, nos últimos 25 anos, o perfil de maior risco de pobreza alterou-se dos idosos para os jovens.
Uma das formas de o Governo desviar a tendência de desigualdade é através da tributação e dos gastos relativos a políticas sociais, o que podem ser apenas medidas temporárias. A única forma sustentável de reduzir o crescente fosso entre os ricos e os pobres é travar a diferenças de salários e rendimentos. Em particular, através de um sistema de impostos e transferências mais eficiente e redistributivo, promoção de mais e melhor emprego e de ganhos salários com que as famílias se consigam sustentar e manter fora da pobreza, ao invés de colocar as pessoas com subsídios de desemprego, invalidez e reformas antecipadas. Ou seja, uma boa política governamental pode fazer a diferença no combate ao aumento da desigualdade e da pobreza. Tal como a proposta de aumento do salário mínimo nacional para 600 euros até 2019, e com o objetivo intercalar de 557 euros já em Janeiro de 2017. 

Mariana Inês Lemos

(1) O coeficiente de Gini é 0 quando todos os indivíduos auferem rendimentos igual (igualdade), e 100% quando o rendimento está concentrado apenas num individuo (desigualdade). 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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