segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sistema fiscal português: repartir ou aglomerar?

“O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.” - Art. 103.º da Constituição da República Portuguesa.
A atividade produtiva e a formação de rendimentos andam de mão dadas. Os rendimentos de uma família provêm da atividade produtiva que seja exercida por eles ou por outros. O simples aluguer de uma casa e o valor de renda que é paga ao proprietário por parte de quem o está a ocupar depende do fator produtivo, pois essa pessoa aufere algum tipo de rendimento. O facto de vivermos em sociedade exige uma repartição dos rendimentos, que não é nada mais do que dar a cada pessoa o resultado do seu trabalho numa qualquer unidade monetária ou qualquer outra forma de pagamento.
Existem várias formas de repartir o rendimento e existe também a redistribuição dos rendimentos, em que aparece uma espécie de “Robin dos Bosques” para ajudar os mais desfavorecidos das sociedades, e esse papel cabe, geralmente, ao Estado.
Porém, muitas vezes, o resultado obtido é o contrário do desejado e em vez de se repartir os rendimentos acaba-se por agravar as desigualdades devido a impostos mal aplicados e/ou impostos com efeitos secundários não pretendidos. Exemplos dos casos antes referidos são comuns e de seguida explicarei alguns.
Em Portugal, só há imposto sobre o património relativamente aos donos das casas e dos veículos. Não seria mais justo existir uma tributação sobre outras partes sociais e outros ativos financeiros diferentes?
No IMI, existem valores patrimoniais tributários manifestamente excessivos, quando comparados com o valor de mercado dos respetivos prédios. Para além disso, ainda existem isenções a favor dos fundos de investimento imobiliário.
Falando agora em números concretos, os dados referentes a 2013, que só recentemente o Ministério das Finanças divulgou, revelam que foram precisamente as classes baixas e médias da população que foram mais atingidas pelo enorme aumento de impostos do trio " Troika"/Vítor Gaspar/PSD. Foram precisamente nos escalões mais baixos e médios que a receita fiscal de IRS mais aumentou (entre 477,8% e 156,3%) como consequência das alterações feitas pelo governo PSD/CDS no IRS, nomeadamente na tabela de IRS, enquanto no escalão mais elevado (rendimento bruto de valor igual ou superior a 250.000€/ano) a receita até registou uma quebra de 9,1%.
Em suma, e para acabar este artigo, gostaria de afirmar o seguinte: todos concordam que o sistema fiscal é injusto mas todos o fazem por razões diferentes - o trabalhador "rico" acha que o "pobre" paga pouco e este pensa o mesmo do outro. Cabe agora ao governo fazer as alterações necessárias para diminuir as assimetrias notadas na população e tornar o sistema fiscal português um sistema fiscal justo.

Diogo Jorge Vaz Verde

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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