quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Os efeitos da crise económica angolana sobre a economia portuguesa

É sabido que Angola e Portugal têm fortes relações comercias, politicas e culturais há longo tempo. Um abrandamento na economia angolana trará consigo um impacto negativo sobre a economia portuguesa; vejamos: 
Em finais do ano de 2014, quando os mercados registavam uma queda acentuada dos preços do barril de petróleo, a economia angolana passou para uma fase de desaceleração económica contínua e de desequilíbrios das contas públicas e externas, que se estendem até aos dias de hoje, visto que a mesma tem uma forte dependência do setor petrolífero, que em 2014 gerava 68% das receitas orçamentais e também representava 97% das exportações de bens. 
Face à queda nos preços do barril de petróleo, Angola passou a registar dificuldades na aquisição de divisas, dificuldades estas que levaram a uma depreciação da sua moeda, tanto nos mercados oficiais, como também nos mercados informais, onde os valores da transação chegaram a quadruplicar os valores estabelecidos no mercado formal. 
Com a crise do petróleo e a desvalorização do Kwanza face ao Dólar Norte-Americano, aliados a forte dependência da importação de bens e serviços básicos, criaram-se as condições necessárias para o empobrecimento dos angolanos e o encarecimento dos produtos. A falta de divisas levou a redução das importações e, por isso, vários produtos começaram a faltar no país. Associado a tudo isto, observamos que a vida em Angola torna-se cada vez mais cara e a taxa de inflação acumulada subiu para valores próximos dos 31%, segundo dados do BNA. 
Portugal tem uma grande facilidade para exportar uma grande variedade de bens e serviços, que vão desde os mais óbvios aos mais incomuns, tendo como Angola um dos principais destinos das suas exportações e também um grande destino para muitos portugueses que abraçam novas oportunidades de trabalho e não só. 
As trocas comerciais entre os dois países tiveram um aumento significativo no período compreendido entre 2002 e 2014, e diminuíram de forma marcante em 2015, verificando-se um agravamento ao longo do ano. 
Em Portugal existem mais de 9400 empresas a exportarem os seus produtos para Angola, e, destas, mais de metade exporta única e exclusivamente para Angola, ou seja, dependem 100% do mercado angolano para efetuarem as suas vendas no exterior. 
A falta de diversificação e forte exposição ao mercado angolano de milhares de micro, pequenas e médias empresas torna-as vulneráveis, com ameaças à sua tesouraria, que muito provavelmente as vieram/virão a colocar em sérias dificuldades, por dois motivos: 
  • Por um lado, as necessidades de importações de Angola tenderão a reduzir-se, por força do encolhimento e dos condicionantes que afetam a procura doméstica; 
  • Por outro lado, a queda das receitas petrolíferas denominadas em dólares refletem-se em escassez da moeda e maior dificuldade em realizar pagamentos internacionais, pelo que haverá uma tendência para acumular dívidas com os seus parceiros comerciais. 
Contudo, o cenário em angola pode fazer com que muitas empresas encerrem as suas atividades, trazendo consigo grandes consequências económicas e sociais. 
A queda nos preços do barril do petróleo nos mercados internacionais faz com que as instituições públicas angolanas tenham menos receitas para exercerem as suas atividades, e com isso o país reduziu o fluxo de transações comerciais com o exterior, havendo períodos em que se decretava um limite máximo de importação de bens e serviços.
Daí, é fácil perceber que, se existe um limite de importação ou compras, do outro lado, os seus parceiros comerciais também exportarão menos.

Edilson Gonga Mateus
 
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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