terça-feira, 10 de outubro de 2017

A Fuga Catalã

         Nas últimas semanas, todos os dias, a independência da Catalunha é um dos temas de destaque em todos os jornais portugueses. A verdade é que o tema tem sido tão debatido em relação aos porquês e às motivações dos independentistas que chegamos a um ponto de nos focarmos nas consequências que advêm de todo este processo.
          A incerteza e o risco em relação ao futuro têm levado muitas empresas do setor privado a abandonar a sua sede fiscal da Catalunha e preferir mudar-se para outra região espanhola.
          Testemunhamos esta última semana o exemplo do CaixaBank, que de maneira a “assegurar a segurança jurídica fornecida pelo quadro regulamento do Banco Central Europeu” pretende mudar a sua sede fiscal para Valência. Isto porque, caso a independência da Catalunha se verifique, os bancos sediados na região perderão o apoio do BCE e do Fundo de Garantias de Depósitos.
          Esta fuga foi facilitada com o decreto-lei aprovado esta sexta-feira pelo Governo espanhol. Decreto este que permite às empresas deslocar a sua sede social para outra região espanhola sem que seja necessário reunir os acionistas em assembleia geral, mesmo que este procedimento esteja presente nos estatutos das empresas.
          Estas decisões são tomadas para salvaguardar os interesses dos acionistas, clientes e funcionários, mas também para tentar tranquilizar os mercados. Os bancos Sabadell e CaixaBank têm sido vítimas da corrida aos depósitos. No entanto, estes valores não são alarmantes, para já. Mesmo assim, tudo isto foi já suficiente para alarmar a banca portuguesa, que receia os impactos que este clima de instabilidade na Catalunha terá na economia portuguesa.
          Segundo o jornal espanhol El Economista, a viabilidade financeira da possível república independente catalã está em causa devido à fuga das empresas, pois esta representa uma perda de 1,2 mil milhões de euros em receita de impostos, 26% dos 4,6 mil milhões de euros que o Estado espanhol cobra pelo imposto sobre sociedades sediadas na Catalunha. Estes números podem ainda agravar-se se se são confirmadas a saída da Seat ou da construtora FCC.
          Parece que, cada vez mais, a independência catalã fica mais complicada e menos vantajosa para todas as partes. Esta fuga de pelo menos 25 das mais importantes empresas da Catalunha é apenas mais um sinal disso. Resta-nos agora esperar para ver como se vai desenrolar esta crise política e esperar que não se transforme numa crise financeira.

Ricardo José de Freitas Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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