Hoje, circulam nas
estradas da Califórnia carros que não necessitam de qualquer input humano e somos selecionados para
uma entrevista de emprego sem nunca ninguém de pele e osso ter visto o nosso Curriculum Vitae.
O que está a acontecer
à nossa volta? Nos últimos anos, com a evolução do poder de computação e com a
grande disponibilidade de dados, as potencialidades da inteligência artificial
começaram a crescer vertiginosamente, desempenhando um papel cada vez mais
importante no processo de decisão de instituições e em muito daquilo que nos
rodeia.
De uma forma simplista,
a inteligência artificial é o ramo da ciência da
computação que se propõe elaborar software
que simule a capacidade humana de raciocinar, perceber e tomar decisões.
A utilização deste tipo
de software permite reduzir o espaço
para erros humanos. Um exemplo prático é o sistema de travagem automático de um
automóvel, que impedirá o embate em obstáculos, ou o sistema de reconhecimento
automático de matrículas usado por forças policiais. As aplicações desta linha
de software são quase infinitas e
poderão proporcionar um aumento muito visível na qualidade de vida, tendo em
conta tudo aquilo que poderá simplificar, tornar mais eficaz e eficiente.
Com o advento desta
“nova” tecnologia, o termo Destruição Criativa,
cunhado pelo economista austríaco Schumpeter, toma uma relevância nunca antes
vista. Esta expressão refere-se ao incessante processo e produto da inovação,
pelo qual novas unidades de produção substituem as unidades ultrapassadas. Este
processo de reestruturação é de extrema relevância para a performance macroeconómica, não apenas no crescimento a longo
prazo, mas também nas flutuações económicas, ajustes estruturais e
funcionamento dos mercados.
Tipicamente, durante
períodos de recessão, caraterizados pelo abrandamento de reestruturações, o
processo de destruição desacelera, o
que implica custos económicos que não são contabilizados. Obstáculos, como o
referido acima, poderão ter consequências macroeconómicas graves a curto, mas
também a longo prazo.
Mas o que significa
este progresso para nós, humanos? Iremos ser substituídos por máquinas e por software? Deixaremos de ter empregos?
Como é que a economia será afetada?
As opiniões variam, mas
segundo um relatório elaborado pela PwC, cerca de 30% dos empregos que existem
atualmente no Reino Unido poderão ser facilmente automatizados no início da
década de 2030, valor que atinge os 38% nos Estados Unidos e 35% na Alemanha.
Mas, na realidade, nem todos estes empregos estarão em perigo devido a variadas
razões económicas, legais e regulatórias, consequentemente o impacto real da
automação no emprego total é muito difícil de prever, mas este poderá até ser
positivo, tendo em conta que, com a evolução do mercado de trabalho, vão
surgindo novas posições, e as vagas criadas poderão superar aquelas que o
progresso tecnológico destruirá.
Os salários devem
aumentar devido aos ganhos em produtividade, mas estes ganhos não serão,
provavelmente, distribuídos de forma uniforme por todos os diferentes escalões
salariais, o que poderá agravar os níveis de desigualdade. Também se prevê que
os ganhos associados a uma formação superior e skills não automatizáveis aumentem de forma relevante.
Juntamente com o
provável agravamento da desigualdade devido à não redistribuição dos ganhos de
produtividade, surgem ideias para medidas que poderão combater esta tendência,
como o rendimento básico universal.
Esta ideia, que já não
é recente, tem sido fortemente discutida, isto devido ao receio da
automatização de muito daquilo que conhecemos. Este novo apoio substituiria
todos os outros e seria atribuído a todos os cidadãos, numa base individual e
não sendo necessário apresentar qualquer comprovativo de procura de emprego
para beneficiar do mesmo. De momento, estão a ocorrer vários programas piloto, procurando
a obtenção de mais dados quanto ao impacto do rendimento, visto que existe a
preocupação do desincentivo à procura de emprego. Por outro lado, argumenta-se
que este rendimento básico garantido poderá incentivar os indivíduos a arriscar
e, consequentemente, através de inovação, acelerar o processo de evolução de
toda a economia.
Qual será o real
impacto desta revolução, ninguém sabe ao certo, mas todos nós somos
responsáveis por guiar a sua evolução, tendo em conta as decisões que tomamos
no nosso dia-a-dia como consumidores, cidadãos e investidores.
Temos uma oportunidade
única de projetar as maiores dádivas da natureza humana e que nos distinguem de
qualquer outro ser ou máquina - criatividade e empatia - criando um futuro que
reflita os nossos objetivos comuns, como sociedade. No final de contas, está
tudo nas nossas mãos.
Carlos
Daniel Silva Afonso
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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