quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Portugal vestiu-se de negro

O clarão vermelho que pairava sobre o monte da Falperra, Bom Jesus e Sameiro, além de aterrorizada, perturbada, perplexa e revoltada, levou-me a refletir e tecer algumas considerações enquanto jovem cidadã sobre esta calamidade dolorosa que depois de Pedrogão Grande voltou a vestir Portugal de negro!
Paisagens desoladoras, um mar de chamas, milhares de hectares de floresta perdida, o nosso pulmão! Fauna e Flora destruídas e tanto património destruído.
Por todo o País o cenário era de terror, de medo, insegurança, impotência e tragédia!
Portugal debaixo de fogo, com condições atmosféricas atípicas, adversas e fenómenos climatéricos extremos era devastado pelas chamas. Ventos secos e inconstantes dispersavam o fogo que incontrolável estalava consumindo habitações, bens, alfaias, explorações agropecuárias, empresas, economias familiares que eram alavancas económicas e o sustento de famílias, mas sobretudo ceifava de uma forma dolorosa vidas humanas. Aldeias evacuadas, populações encurraladas, estradas abertas em chamas! Pediam-se meios que não chegavam porque não existiam ou vinham de longe e tardavam em chegar!
Restava a entreajuda das comunidades de povoações desertificadas, de idosos e a sua enorme resiliência em salvar o que podiam e lutar pela vida. Restava também a coragem dos bombeiros que desesperadamente tentavam socorrer.
Mortos, feridos, desaparecidos, desalojados, perda de postos de trabalho e uma vida de trabalho destruída! Destruída também a esperança de acreditar que somos protegidos e que teremos um país seguro e saudável. É decretado estado de calamidade pública! Luto nacional!
Interroguei-me “Porquê” e continuo a questionar “porquê”! Mão criminosa ou negligente, onda de terrorismo? Interesses, lóbis ou falta de responsabilidade e ação do poder central, local e outros? O Estado, a Proteção Civil não nos protege!
Culpa-se a falta de formação e profissionalismo dos operacionais, o amadorismo, a escassez e inadequação de meios de combate aos incêndios, o SIRESP, o colapso nas comunicações, os combustíveis que não são limpos na floresta e demais terrenos, a falta de água, o desconhecimento do terreno, o desordenamento da floresta, a fase Charlie e Delta, encerram-se os postos de vigia, a falta de ajuda internacional, a inexistência ou falta de ativação dos Planos Municipais de Emergência…
Foi emitido alerta vermelho! E tudo ficou na mesma!
Fazem-se briefings, balanços políticos, pedem-se demissões, contabilizam-se os danos, fazem-se relatórios… A avaliação está feita. Apliquem-se as medidas apontadas sem medo e vamos mudar Portugal para um país moderno, seguro, protetor e, sobretudo, responsável!
Estamos fartos de discursos e banalidades! Houve justamente demissões, mas estas só valerão a pena se nada ficar como dantes!
Haja consensos e ouça-se a comunidade científica que avaliou as falhas apontando soluções eficazes e reformas efetivas no combate aos incêndios. Urge passar das palavras aos atos!
Falar em solidariedade é bom, mas prevenir e proteger é uma obrigação. Que o Orçamento de Estado contemple verbas necessárias para a mudança para que as Corporações de Bombeiros deixem de ter de recorrer a eventos solidários! Que se descentralizem competências.
Vamos levantar Portugal das cinzas!

Maria João Marinho Peixoto

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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