sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Prémio Nobel da Economia 2017

A 9 de outubro do corrente ano foi anunciado o vencedor do Prémio Nobel da Economia 2017, o economista americano Richard Thaler. Os seus trabalhos de investigação na área da economia comportamental ajudam a compreender como o comportamento humano por vezes altera os modelos económicos teóricos. “As contribuições de Richard Thaler construíram uma ponte entre a análise económica e a análise psicológica, no processo de tomada de decisões a nível individual”, afirmou a academia sueca responsável pela atribuição do prémio. “As suas conclusões empíricas e teóricas têm sido cruciais para a criação da área da economia comportamental, que está em rápida expansão, e tiveram um impacto profundo em várias áreas da pesquisa e da política económica”, acrescenta.
Este mesmo prémio tinha sido já atribuído a Herbert Simon (1978), Gary Stanley Becker (1992), e Kanheman (2002) pelas suas investigações no ramo da economia comportamental, e outros investigadores contribuíram com os seus estudos nesta área, como por exemplo David Laibson, com a teoria da gratificação imediata. Porém, há algo de diferente nos estudos de Thaler…
De acordo com estes investigadores, as pessoas cometem erros que implicam resultados económicos inesperados. Segundo os modelos económicos tradicionais, as pessoas são maximizadoras racionais da utilidade e estão sempre a avaliar os planos e as oportunidades de forma a obter a melhor satisfação ao longo da vida. Porém, já se verificou que as pessoas não agem assim. Cometem erros, por exemplo, em decisões de consumo, oportunidades de investimento ou planos de poupança, movidas por impulsos visando obter gratificações e satisfações imediatas e descurando o futuro. Por outro lado, as pessoas têm tendência a confiar demasiado quando as coisas correm bem, acreditam que será sempre assim, o que as leva a arriscar mais, persistindo em novas tentativas para além do que seria racional, conduzindo em alguns casos a perdas avultadas.
As implicações destas atitudes são  numerosas, com destaque para o consumo exagerado em produtos desnecessários, poucos hábitos de poupança, muito necessária para uma maior segurança na aposentação, ou grandes perdas em investimentos de alto risco.
Como as pessoas são tudo isto, ao mesmo tempo que tentam também ser racionais, desenhar modelos económicos que sejam certeiros e exequíveis torna-se uma tarefa extremamente difícil. Por isso, Richard Thaler dedicou-se nos últimos anos a estudar de que forma é que é possível levar as pessoas a comportarem-se de determinada maneira. É aquilo a que chamou, no seu livro escrito em conjunto com Cass Sunstein, publicado em 2008, “Nudge”, uma espécie de  “empurrão” que pode ser dado aos agentes económicos quando se pretende, por exemplo, reduzir o consumo de um determinado bem ou aumentar o nível da poupança. Este estímulo criado num ambiente próprio leva as pessoas a tomar decisões racionais, mantendo sempre a liberdade individual. Este ambiente que Thaler refere que altera o comportamento é a grande diferença relativamente a outros investigadores na matéria acima referenciados.
De acordo com o premiado, as condições que alteram comportamentos podem ser criadas através do que o próprio designa de “arquitetura da escolha em ação”. Por exemplo, as pessoas poderão adotar um plano de poupança se esta for uma opção por defeito no recebimento do salário, ou seja, o plano é iniciado automaticamente, com a opção de ser cancelada pelo titular. Estudos comprovam que a maioria das pessoas sujeitas a esta estratégia mantêm o plano. Por outro lado, se couber às pessoas iniciar o plano, são poucas as que tomam a iniciativa. A chave está em estabelecer uma estratégia de indução do comportamento, fazendo crer que são as pessoas a escolher esse comportamento, sem que haja qualquer obrigação.
É compreensível que os comportamentos possam ser alterados, contudo ainda está por comprovar se esses comportamentos perduram no tempo, o que pode causar problemas na formulação de políticas económicas de longo prazo. Por outro lado, este “empurrão” que Thalor defende poderá ter questões éticas profundas. Este facto, por si só, pode alterar o comportamento das pessoas. Ou seja, o comportamento adotado e tido como certo pode rapidamente alterar-se face às circunstâncias entretanto surgidas.
A área de estudo do comportamento humano já vem sendo amplamente estudada desde a antiga Grécia e, pelos padrões atuais, desde meados do séc XIX. Apesar dos enormes avanços no estudo da mente humana, há ainda divergências de opinião entre os investigadores porque estudar o ser humano não é a mesma coisa que estudar no contexto de uma outra ciência, por exemplo, a Química. É extremamente complexo, são usados vários métodos de investigação e metodologias que dificultam a sua comparação e generalização. Por outro lado, o homem é um ser gregário, que se integra numa cultura e numa sociedade cujos padrões influenciam o seu comportamento. Assim, percebe-se que, por um lado, o comportamento humano é moldado pelas especificidades de cada um, bem como pelas suas experiências, estrato social, cultura  e sociedade onde está inserido e, por outro, esta mutabilidade dificulta a investigação e o conhecimento de padrões.
Na área económica, não tem sido um caminho fácil para quem se dedica à investigação da economia comportamental, pois o próprio Thaler foi em tempos rejeitado por várias universidades para ocupar os cargos de investigador e de professor, pois não achavam importantes as suas investigações.
Por agora, sabemos que a Academia Real das Ciências da Suécia “validou” as investigações de Thaler e, com isso, deu um “empurrãozinho” à economia comportamental…Resta aguardar com expetativa o que o futuro reserva face a novos desenvolvimentos. Não obstante, parece-me bem que a Economia se torne mais “humana” e se empenhe em ajudar as pessoas a serem mais felizes e a tomarem atitudes mais inteligentes nas suas decisões.

Aníbal José Baptista Peixoto

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: