sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A RELAÇÃO BRASIL – PORTUGAL: IMIGRAÇÃO E DESEMPREGO

 Para que o crescimento e desenvolvimento econômico de um país ocorra de forma sustentável, a geração contínua de emprego e renda é um quesito indispensável. Desta forma, alguns insumos são fundamentais, sendo um deles a própria mão-de-obra. Se tratando do Brasil, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial, o país ficou em 78° lugar, entre 124 países, no ranking mundial de qualificação de mão-de-obra, onde avaliou-se o desempenho do país em educação, distribuição de mão-de-obra, mercado de trabalho, perceção de negócios e capacidade de treinamento das empresas, entre outros fatores.
Assim, em meio ao contexto econômico e social turbulento que o Brasil vem passando nos últimos anos, com instabilidade política, aumento da dívida pública, baixo investimento e qualidade em infraestruturas, entre outros fatores que afetam a vida do cidadão, houve um aumento significativo de brasileiros imigrando para outros países em busca de uma oportunidade de vida melhor. Segundo dados da Receita Federal do Brasil, entre 2014 e 2016, foram entregues 55.402 Declarações de Saída Definitiva do País, que ao comparar com os últimos três anos houve um crescimento de 81,61%.
Portugal é um dos destinos preferidos dos brasileiros: nos primeiros cinco meses deste ano houve um aumento de 148% (comparado com o mesmo período em 2016) no volume dos pedidos de vistos de estudantes apenas no Consulado Geral de Portugal em São Paulo. Até 25 de agosto de 2017, foram registradas 4.100 solicitações, mais do que o total de 2016. Entretanto, além dos estudos, muitos brasileiros chegam a Portugal em busca de empregos e estabilidade de financeira.
         Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego em Portugal de julho de 2017 situou-se em 8,9%, menos 0,2 pontos percentuais (p.p.) do que no mês anterior, e menos 0,6 p.p. em relação a três meses antes. Este valor corresponde ao valor mais baixo observado desde novembro de 2008, quando se registou igualmente uma taxa de 8,9%. Ou seja, Portugal vem registrando declínio em sua taxa de desemprego, o que reflete em maior geração de emprego e renda para a população.
         No entanto, segundo o relatório estatístico anual divulgado em 2016 dos Indicadores de Integração de Imigrantes do Observatório das Migrações (OM), “ (...) No final do ano de 2014 as seis nacionalidades estrangeiras que registavam maior número de desempregados, e que mais contribuíam para o total de desempregados estrangeiros (representando no conjunto cerca de 74% do total de desempregados estrangeiros), eram a brasileira (24,6%), a ucraniana (13,8%), a cabo-verdiana (13,3%), a romena (8,5%), a angolana (6,9%) e a guineense (6,8%)”. Onde, vale salientar, que estas nacionalidades estrangeiras são também aquelas que apresentam maior número de residentes em Portugal.
         Sendo assim, o ponto crítico da questão analisada é que há uma tendência crescente de imigrações brasileiras em Portugal, o que traz consigo um problema socioeconômico de absorção de mão-de-obra, onde, tendo em vista o mesmo relatório dos Indicadores de Integração de Imigrantes do Observatório das Migrações (OM), entre as dez nacionalidades estrangeiras mais representadas nos residentes de Portugal há, porém, algumas nacionalidades que não se destacam no desemprego registado de estrangeiros, sendo elas os chineses, que mantiveram-se com a menor incidência de desemprego registado nos Centros de Emprego (apenas 0,2% do total de desempregados estrangeiros registados), seguindo-se os cidadãos da União Europeia – os cidadãos do Reino Unido representavam apenas 0,8% do total de desempregados registados, e os espanhóis 2,0%.
         Logo, há um problema evidenciado no mercado de trabalho português em absorver certas etnias, sendo uma das principais, a brasileira. Esta situação não se pode justificar por meio das estatísticas brasileiras de baixa qualificação da mão-de-obra, pois segundo resultados do projeto “Vagas Atlânticas: Brasileiros em Portugal”, realizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa de Lisboa), o Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações (do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa) e o Centro de Estudos Sociais de Coimbra, o perfil dos imigrantes brasileiros em Portugal é bastante qualificado, visto que mais de 50% dos entrevistados disseram possuir o segundo grau e mais de 20% o nível universitário. Isto, para além do grande volume de brasileiros cursando mestrado e doutorado em universidades portuguesas que também buscam por oportunidades de emprego.
Portanto, os novos brasileiros em Portugal são, em sua grande maioria, estudantes matriculados em programas de especialização e doutorados, funcionários públicos, pequenos empresários e descendentes de portugueses, que precisam de mais oportunidades para se inserirem no mercado de trabalho com remunerações justas, segurança social e reconhecimento profissional.

LETICIA DOS SANTOS

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/pedidos-de-visto-de-brasileiros-para-estudar-em-portugal-aumentam-148-21486765

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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