quarta-feira, 18 de outubro de 2017

José Sócrates: culpado ou culpado?

Pela primeira vez na história da politica portuguesa, um primeiro-ministro está acusado de corrupção. O ministério público (MP) investigou durante mais de 4 anos, mandou prender e agora conclui que José Sócrates praticou 31 crimes, entre eles três crimes de corrupção enquanto exercia as funções de primeiro-ministro, 16 de branqueamento de capitais, 9 de falsificação de documentos e 3 de fraude fiscal qualificada.
Mas será que as provas são verdadeiras ou estamos perante uma vítima de falsas acusações do ministério público? Ora, como sugere o título deste texto, a minha opinião é bem clara: Sócrates é culpado.
Após tanta notícia divulgada nos jornais, decidi analisar os argumentos que Sócrates utilizou em sua defesa na entrevista que deu à RTP, e pergunto-me quem acreditará na posição de injustiçado após tanto argumento que evidencia o contrário.
José Sócrates afirma que não foi corrompido durante o exercício das suas funções como primeiro-ministro. No entanto, o MP afirma que sim e diz ainda que o engenheiro terá recebido cerca de 30 a 35 milhões de euros ao longo desses anos, e que esse dinheiro terá ficado titulado em nome do seu amigo Carlos Santos Silva, em contas na Suíça. Como é de esperar, o arguido nega que tal dinheiro lhe pertença. Ao que parece, Sócrates é uma vítima que passou dificuldades, contraindo 3 empréstimos na Caixa Geral de Depósitos. Quem poderá ter uma fortuna se pede dinheiro emprestado a um banco? Ora, o engenheiro diz ainda que o MP vê estes empréstimos como um disfarce. Pois eu também vejo.
Ainda defendendo que o dinheiro não é seu, Sócrates admite que, de facto, pediu dinheiro emprestado ao amigo, que foi sempre devolvido, sendo que ambos poderão ter ainda contas a acertar, mas que isso é entre os envolvidos. A pergunta é: porque é que o empresário Carlos Santos Silva lhe emprestava o dinheiro em mão e não através de transferência bancária? Não é esse o procedimento que se adota quando se trata de quantias no valor de 7500€? Pois, ao que parece, é mais conveniente fazer tudo por fora.
Outra questão muito engraçada é que não só o titular da conta é um grande amigo de Sócrates, como também 80% dos ativos dessa conta, em caso de efemeridade de Carlos Santos Silva, ficariam na posse de adivinhem quem? Pois bem, ficariam na posse de um primo de Sócrates, um testa-de-ferro dele, também. Eu não acredito em coincidências, mas neste caso não começa a haver demasiadas?
Posso também falar em faturas que foram encontradas em casa de Sócrates em nome de Carlos Santos Silva, gastos muito maiores que o rendimento que declarava, e da sua vida de luxo em Paris. Posso escrever várias razões que evidenciam o branqueamento de capitais, mas ocupar-me-ia quase tanto espaço como as 4000 páginas da sua acusação, e penso que, com os exemplos dados até ao momento, só não vê quem não quer ver.
No que toca aos crimes de corrupção, um dos três crimes de que é acusado tem a ver com dinheiro que Sócrates terá recebido para tomar decisões que beneficiassem os interesses de Ricardo Salgado e do BES, na PT. O ministério público afirma que, ao longo dos anos, Ricardo Salgado terá passado cerca de 21 milhões de euros para a conta do ex-primeiro-ministro. Sócrates diz não ter feito um acordo entre 1 de março e 18 de abril de 2006, pois só se encontrou com o Dr. Ricardo Salgado depois de 13 de outubro de 2006, dizendo que pode provar isso com os registos das entradas na residência oficial do primeiro-ministro. Mas também se fossemos ver as transferências bancárias, não encontrávamos todo o dinheiro que Carlos Santos Silva lhe emprestou. Por isso, a menos que o ex-primeiro-ministro, de março a outubro, tenha estado preso na sua residência oficial, isso não constitui prova nenhuma para o mesmo.
Mas terá Sócrates uma explicação para o facto de empresas ligadas ao Banco Espírito Santo terem passado através de um circuito financeiro milhões de euros do grupo Espirito Santo para as contas do seu amigo Carlos Santos Silva? O que sabemos é que Hélder Bataglia confessou ter feito transferências para a conta de Carlos Santos Silva por ordem do Dr. Ricardo Salgado, sugerindo que Ricardo Salgado queria fazer chegar esse dinheiro ao arguido José Sócrates.
Ora, sem duvida que, como politico que é, José Sócrates tem de facto um excelente poder argumentativo, mas, quando afirma que Helder Bataglia poderá ter feito isso só para agradar ao ministério público, já revela que não tem muito por onde fugir. Trata-se apenas de tentar limpar a sua imagem a todo o custo.
O que é certo é que contra factos não há argumentos, e o que me parece a mim, neste caso, é que há muitos argumentos, muitas provas e muita pouca credibilidade nas justificações do ex-primeiro-ministro. Sendo este caso tão extenso, não percebo como é que o arguido consegue afirmar com toda a certeza que nunca foi corrupto e que está a ser vítima de uma tese geral do ministério público. Pois bem, a minha opinião é muito sólida: José Sócrates é culpado. Não tenho dúvidas disso. Agora, que seja feita justiça, e desta vez com mais rapidez, visto que não é o forte da justiça em Portugal. Este caso já dura há vários anos, já se torna frustrante e cansativo para os portugueses.
Mas tenha calma senhor ex-primeiro-ministro José Sócrates. Se for feita justiça e o senhor for preso, pode sempre pedir conselhos a Isaltino Morais e, no futuro, quando for libertado, que espero eu demore muito tempo, quem sabe não se torna presidente da câmara. Nem tudo está perdido. Afinal, o povo português também não tem sido muito difícil de manipular. Quem sabe, não consiga continuar a fazer o que já fez durante muitos anos.

Daniela Ribeiro da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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