sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A relação UE-China: uma parceria estratégica

 O vínculo União Europeia-China têm-se desenvolvido a um ritmo acelerado desde que foram estabelecidas as relações diplomáticas em 1975. A ligação foi reforçada pela adesão da China à Organização Mundial de Comércio, em 2001, e com o estabelecimento, em 2003, da Pareceria Estratégica UE-China.

Sendo atualmente duas das três maiores potências económicas do mundo, a China é o segundo maior parceiro comercial da UE, a seguir aos Estados Unidos, e a UE é o maior parceiro comercial da China.  A verdade é que cada vez mais a República Popular da China afirma-se mundialmente pela sua competitividade industrial e comercial e, consequentemente, pelo crescente papel na economia, e os dados são bastantes claros acerca do seu progresso veloz. Apesar de em 2019 os EUA continuaram a ser a maior economia do mundo, com um peso de 27,3% no PIB mundial, a China registou um peso de 17,9%, ultrapassando assim a Área Euro (17,1%). Passou, deste modo, de uma economia com números e dimensão do Sudão, nos anos 50, para a segunda maior economia atualmente.

Se no início as relações bilaterais UE-China se circunscreviam apenas ao comércio e à economia, hoje incluem também assuntos de política, segurança e desafios internacionais. Segundo dados do Eurostat, em 2019, a UE exportou 198 mil milhões de euros para a China, enquanto da China viajaram mercadorias no valor total de 362 mil milhões de euros, fazendo com que o défice comercial tenha ascendido aos 164 mil milhões de euros. Os principais produtos destas trocas são ‘máquinas e veículos’, ‘produtos químicos’ e ‘produtos manufaturados’.

Em termos de investimento, este diminuiu nos últimos três anos, resultado de medidas protecionistas europeias. Em 2010, o investimento chinês foi de 2,1 milhões de euros, tendo crescido para 37,2 milhões em 2016, contudo, em 2018, diminuiu para os 17,3 milhões. Uma particularidade dos investimentos diretos chineses é que são direcionados para áreas de grande importância estratégica e mais de metade foram realizados em empresas detidas pelo Estado, nomeadamente transportes e infraestruturas (29,1%), tecnologias da informação e comunicação (12,4%) e energia (10,1%).

Não obstante, é preciso realçar que o investimento da China na UE é bem mais alto que o investimento da UE na China. Isto foi ainda mais notório na crise financeira que atingiu a Europa e criou oportunidades para as empresas chinesas investirem diretamente, adquirindo empresas europeias. Esta falta de reciprocidade está relacionada com “vantagens injustas” desfrutadas pela China, enquanto persistiram as dividas financeiras incontroláveis na UE.  

Relativamente a Portugal, a relação bilateral entre Portugal e a China é  uma das ligações mais antigas de qualquer país europeu com este país. Todavia, é evidente a assimetria, onde as exportações de Portugal para a China têm um valor inferior a mil milhões de euros por ano, enquanto o valor das importações da China ultrapassa os 2,2 mil milhões de euros. Para além disso, Portugal tem sido um recetor importante de investimento chinês na Europa na última década. Feito num tempo difícil, política, económica e socialmente para Portugal, sob intervenção da Troika, o investimento chinês começou a ganhar peso em 2011, no sector da energia (investimentos na EDP e na REN) e expandindo-se rapidamente para os Bancos (acionista maioritário do BCP e o BANIF), saúde e seguros (Fidelidade). Atingiu 3,3% do Produto Interno Bruto nacional, colocando Portugal como principal destino do capital deste gigante asiático.

Com todos estes dados e na minha opinião, atualmente não podemos mais olhar para a China apenas como a “fábrica do mundo”, mas sim cada vez mais como um importante fornecedor de tecnologia, serviços e investimento. Esse seu protagonismo internacional deve ser concomitante com responsabilidades crescentes, bem como com um reforço da reciprocidade, de não discriminação e de abertura do seu sistema. Como em qualquer relação, há sempre grandes desafios e esta não é exceção. São evidentes vários problemas que a UE e também Portugal devem ter em consideração. A China é, simultaneamente, em diferentes domínios, um parceiro de cooperação com o qual a UE tem objetivos alinhados, um parceiro com o qual a UE tem de encontrar um equilíbrio, um rival na corrida para a liderança tecnológica e um adversário com modelos diferentes de governação.

É importante não esquecer que a China adotou um modelo de desenvolvimento caraterizado por colocar a economia acima de tudo e de todos, olhando só para os bons resultados económicos. Deste modo, é importante tentar encontrar uma harmonia complexa entre os interesses económicos da UE e a defesa dos seus valores fundamentais, principalmente em matéria dos direitos humanos, tentando restringir o comércio de produtos obtidos através de trabalho forçado, mesmo que isso possa implicar custos.

 

Ana Cunha

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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