Em
2019, a dívida pública portuguesa estava nos 117,2% do PIB, mas ao longo do
desenrolar da crise pandémica este valor subiu para 137,2% do PIB, segundo o
FMI. Já o orçamento de Estado de 2021 previa para 2020 uma dívida de 134,8%. Este
aumento é um resultado do aumento dos gastos do Estado com o sistema de saúde,
com a segurança social, e lay-offs, entre
outros - gastos estes que precisaram de ser financiados com dívida pública. O
aumento também é acentuado pela diminuição rigorosa do PIB, que em relação a
2019, é estimado ter tido em 2020 uma taxa de crescimento de -10%, de acordo
com o FMI, que apresenta das mais pessimistas previsões entre as instituições.
Para o ano de 2020, segundo o Banco de Portugal, é estimado que só as medidas de lay-off terão um impacto de 0,9% do PIB, seguido de 0,6% do PIB em apoios às receitas das empresas, um impacto de 0,3% do PIB nos gastos com a saúde, e outros 0,3% com apoios ao rendimento dos portugueses. Ascende, então, aos 2,7% este estímulo orçamental, abaixo dos 4% esperados em julho pelo Conselho Orçamental Europeu. Esta tendência de aumento do défice e da dívida em percentagem do PIB é algo que se tem registado por toda a zona euro, fixando-se a média da dívida em % do PIB em cerca de 95%, segundo o Banco Central Europeu.
Dívida
pública média da zona euro-19 em % do PIB
Discute-se se este crescimento põe em causa o projeto europeu de moeda única nos anos por vir, e se não estarão os países da Europa a escavar um buraco do qual não poderão sair no futuro. O que é certo é que esta dívida é barata relativamente ao que já foi no passado.
Durante
a crise da dívida soberana, em Portugal, atingimos altos da dívida pública em
percentagem do PIB quase equivalentes aos níveis atuais, mas não havia o luxo
de uma taxa de juro da dívida de 0,21% que há hoje, atingindo na altura os 10%.
E é também este o cenário um pouco por toda a zona euro: taxas de juro baixíssimas
ou até negativas. Estas taxas são acentuadas pelos diversos programas de
compras de ativos do Banco Central Europeu, como o Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), que estão projetados para
continuar em ação até pelo menos junho de 2021. Isto certamente facilitará o
financiamento dos estados europeus durante algum tempo para o combate à
pandemia e às suas consequências económicas.
Do
outro lado do “lago” vê-se o mesmo comportamento. A Reserva Federal americana
também tem feito enormes compras nos mercados, injetando biliões de dólares na
economia, sustentando-a a atirar dinheiro dos helicópteros. Por quanto tempo
será isto verdadeiramente sustentável? E quanto tempo passará até se sentirem
possíveis efeitos perversos destas medidas? Sabemos apenas que enquanto se
afoga o ocidente, a China está encaminhada para se tornar a maior economia do
mundo. Esperemos apenas que as vacinas venham rápido, e que sejam eficazes. E
também que a população lhes dê credibilidade.
André Maia
Fontes:
Boletim Económico Outubro 2020 – Banco de Portugal - https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/be_out2020_p.pdf
PORDATA - https://www.pordata.pt/Portugal/Taxas+de+rendibilidade+de+obriga%C3%A7%C3%B5es+do+tesouro-2803
FMI - https://www.imf.org/en/Countries/PRT#ataglance
https://www.tsf.pt/portugal/economia/fmi-ve-divida-publica-portuguesa-nos-1372-em-2020-12919732.html
Ministério da Economia – https://www.gee.gov.pt/pt/lista-publicacoes/previsoes-para-a-economia-portuguesa/9204-previsoes-para-a-economia-portuguesa-70/file
Banco Central Europeu – sdw.ecb.europa.eu
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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