2020 presenteou-nos com uma nova realidade: a pandemia COVID-19. Em Portugal, a primeira inquietação da administração foi salvaguardar a saúde pública e a subsistência das famílias. Apesar de ser importante e crucial encontrar um equilíbrio entre a saúde e a economia, a competitividade portuguesa terá potencialmente consequências arrasadoras.
Num país em que a dívida pública é tão elevada como em Portugal, que depende tanto do Turismo, e em que o peso da inovação do PIB é tão reduzido, é exigido que se tomem medidas de emergência para amenizar esses impactes. O governo espera uma recessão de 8,5% no PIB, embora o Fundo Monetário Internacional acredite que possa atingir os 10%. No entanto, temo que o peso da dívida pública e do défice orçamental em função do PIB possa ser muito maior do que se prevê.
Pode parecer motivador vermos as nossas empresas e os seus trabalhadores a inovarem para tentar escapar desta crise. Mas será que o governo está a acompanhar este esforço na mesma proporção? Tendo em conta que os instrumentos que estão a ser usados se aproximam dos usados noutras situações de crise, possivelmente a resposta será negativa. Muitos especialistas afirmam que a forma de lidarmos com a atual crise sanitária não pode nem deve ser feita da mesma maneira que outras crises.
Baseando a minha análise no Global Competitiveness Report de 2019, do World Economic Forum, apesar de nos últimos anos termos assistido a algumas melhorias, Portugal, nesse ano, era o 3º país da União Europeia com uma dívida pública acima da média, com cerca de 117% do PIB. Posto isto, a nossa competitividade tem vindo a degradar-se em vários setores. O investimento português em capital humano é muito reduzido, o que faz com que percamos eficiência na aplicação da mão-de-obra.
Do meu ponto de vista, a baixa qualificação de mão-de-obra e a elevada taxa de abandono escolar portuguesas são as principais origens da fraca produtividade no trabalho. De certa forma, era benéfico investir em educação, aumentar a eficiência e a capacidade de resposta dos trabalhadores, minimizando os custos e aumentando a sua produtividade.
Além disso, Portugal acaba por demonstrar dificuldade em alicerçar de forma concisa a sua competitividade, aliada à produtividade e criação de riqueza. Do meu ponto de vista, não podemos falar em acelerar a competitividade da economia portuguesa sem referir alguns dos seus entraves. Por exemplo, acredito que o enorme peso dos impostos na nossa economia acaba por impedir que as empresas invistam na produção e contribuição para o país, pois surge como demasiado dispendioso e pouco rendível. Outro exemplo, prende-se com o facto das PME se verem impedidas de obter crédito, tornando-se cada vez mais avessas ao risco do investimento. O seu volume de negócio acaba por não ter expressão suficiente para que as instituições financeiras as vejam como um investimento seguro.
A solução que vejo ser mais vantajosa na atual conjuntura seria o incentivo ao investimento privado. O principal problema estaria na sua atração. Os cidadãos e as empresas privadas não confiam na economia do país e tornam-se investidores pouco ambiciosos. Com sistemas fiscal e judicial mais confiáveis, possivelmente estes agentes não teriam tanta aversão ao investimento na competitividade do país.
Podemos e devemos aproveitar a capacidade de inovação e educação que referi supra para dar o impulso que a economia portuguesa precisa para se tornar competitiva na Europa e no mundo. Devemos agarrar a resiliência e exigência do povo português para encaminhar a competitividade de Portugal para o rumo que gostávamos que tivesse. Vamos, “Por mares nunca dantes navegados”, passar “além da Taprobana”, fazendo da Taprobana o nosso salto para uma economia realmente competitiva.
Constança Soares da Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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