O problema da sociedade em
que vivemos e do modelo econômico atual adotado é que este não tem em
consideração o meio ambiente, olhando exclusivamente para valores como o lucro
e a produtividade. Porém, perante a
crise ambiental que enfrentamos, a única porta de saída é a economia que deve
ser reelaborada tendo em atenção o nosso planeta, satisfazendo as necessidades da geração atual
sem comprometer a capacidade de satisfazer as gerações futuras. Podemos assim dizer
que o conceito de desenvolvimento sustentável precisa cada vez mais de estar
presente na vida de todos nós. A procura por aliar os aspectos ambientais,
econômicos e sociais através de um ponto de equilíbrio entre a utilização dos
recursos naturais, do crescimento econômico e a justiça social é cada vez mais
fundamental e urgente.
Um dos exemplos de
desenvolvimento sustentável em crescimento atualmente é a denominada Economia Azul.
Economia Azul é um conceito que relaciona o desempenho dos sectores da exploração e
preservação do ambiente marítimo e costeiro, ou seja, como aliar a
sustentabilidade dos oceanos a modelos de negócio inovadores. A Economia
Azul analisa a possibilidade de investimentos que, ao mesmo tempo, protegem ecossistemas
costeiros. Divide-se em vários sectores como: os Recursos Marinhos Vivos (pesca, aquacultura),
Recursos Marinhos Não-Vivos, Energia renovável (energia azul), Atividades
Portuárias, Construção e Reparação Naval, Transporte Marítimo e Turismo
Costeiro.
Olhando para a
União Europeia, esta possui uma costa estimada em 15000 km, no Oceano Atlântico,
Mar Mediterrâneo, Mar Negro, Mar do Norte, Mar Báltico e Mar Adriático, e, como
tal, cada vez mais tem em atenção que a Economia Azul pode oferecer fontes
importantes de desenvolvimento económico sustentável para os estados-membros. Numa perspetiva económica e de acordo com os mais recentes dados
publicados pela Comissão Europeia no Relatório de 2020, os diversos setores da
Economia azul geraram em 2018 um volume de negócios de 750 milhões de euros e 5
milhões de empregos. As
regiões do litoral são responsáveis por aproximadamente 40% do PIB europeu, do
qual a economia do mar contribui com 3% a 5%. Os dados do Valor Acrescentado Bruto (VAB) mostram uma aceleração no
crescimento de todos os setores de 2013 em diante. O VAB gerado pelo turismo
costeiro em 2018, o maior setor da Economia Azul da UE, aumentou 19,7% em
relação a 2009. O transporte marítimo e atividades portuárias, o segundo e terceiro maiores sectores, aumentaram
19% e 24%, respetivamente.
De uma
perspetiva ambiental, o relatório da Comissão Europeia afirma que a Economia
azul contribui positivamente para alcançar os objectivos ambientais. Com uma
redução de 29% das emissões de CO2 por unidade de VAB entre 2009 e 2017, podemos
dizer que o crescimento do setor da pesca e da aquacultura em nada tem a ver
com a produção de gases com efeito de estufa na UE. Para além disso, ouvimos
sempre dizer que as energias renováveis serão o futuro e é importante olhar
para a Energia Azul como uma potencial substituta
das energias não renováveis. É obtida da diferença de concentração de sal entre
a água do mar e a do rio, com o uso de eletrodiálise reversa (uso da energia libertada quando
a água doce entra em contato com a água salgada), porém
há o problema de que a produção de Energia Eólica continua a ser bem mais
barata, dificultando o desenvolvimento da energia azul.
Apesar destes números bem positivos
de 2018, a pandemia COVID-19 que o mundo atravessa neste momento veio atrasar
tanto o desenvolvimento económico como o ambiental da Economia Azul. Esta crise
acarretará consequências graves para toda a economia, mas é ainda muito cedo
para avaliar com precisão o que afetará nos sectores azuis. Neste momento,
podemos dizer que é espectável que alguns sectores sofram mais do que outros, nomeadamente
o turismo costeiro e a construção e reparação naval, que já estão a sofrer maiores
impactes e vão ter uma recuperação mais lenta. Por outro lado, os sectores que
estão a sofrer impactes severos, mas que deverão ter uma recuperação comparativamente
mais rápida, são o Transporte Marítimo e as Energias Renováveis.
Na minha opinião, com estes valores torna-se
evidente as oportunidades de crescimento dadas pela Economia Azul em toda a
Europa e, apesar de ser um setor já bastante desenvolvido, existe margem para
aumentar ainda mais o seu potencial e contribuição para uma economia crescente
e um mundo mais sustentável. Apesar de dispendioso e difícil agora com a crise
sanitária, a UE deve continuar a apoiar e a financiar negócios que olhem para a
sustentabilidade do mar pois cada um de nós deve ter o seu papel no futuro do
Planeta Terra.
Devemos olhar para o mar com
inteligência, cuidado, respeito e interesse se queremos que as futuras gerações
consigam tirar o mesmo proveito dele que nós.
Ana Cunha
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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