As energias renováveis, definidas como aquelas
provenientes de recursos naturalmente abastecidos, como o sol, vento, chuva ou
marés, e ilimitadas, têm aumentado o seu crescimento, não só como setor de provisão
para o funcionamento de fábricas e produções, mas também como um contributo na
regressão da deterioração ambiental. Há dois factos essenciais conhecidos pela
população em geral acerca deste aspeto: representam uma mais valia para o
ambiente e os seus custos são elevados. Tendo isto em conta, estarão os países
a cometer um erro investindo nestes processos inovadores?
A Deloitte, juntamente com a
Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), mostrou num estudo
recente o aumento da presença da eletricidade renovável no conjunto do seu
setor, correspondendo a cerca de 56% da produção, alinhando-se com os objetivos
estabelecidos tanto a nível Europeu como da política energética nacional, pelo
que nos encontramos nas melhores posições entre os países (3º lugar). Um dos
usos visíveis destas energias são os transportes elétricos, incluindo
autocarros.
Fonte: Gabinete de Estatísticas da União Europeia
Este incremento contribuiu para uma diminuição da
dependência energética do país, que reduzira dos 84% para os 71%. Em questão do
seu impacto na economia, numa perspetiva macroeconómica, e utilizando dados de
2013 provenientes do mesmo estudo, a eletricidade renovável adicionou mais de
2700 milhões de euros ao PIB nacional, criando mais de 40 mil postos de
trabalho. Previsões mostram o crescimento de ambos os valores para 4300 milhões
de euros e 66 mil postos, respetivamente. Fica mais do que óbvio o enorme
contributo desta inovação na riqueza do país e situação de empregabilidade,
assumindo, portanto, um papel também relevante no aumento da eficiência e
produtividade, formando um ciclo.
Verificou-se, também em 2013, uma
diminuição de libertação de CO2 em cerca de 10 milhões de toneladas, um valor
crescente no futuro. Ainda como uma consequência indireta, temos a redução da
importação de matérias primas como o gás natural e carvão, devido à agora fonte
de energia substituta. A poupança proveniente destas compras pode alcançar os
37 mil milhões de euros, contanto que as centrais de carvão encerrem até 2021,
como estaria previsto.
No entanto, como em qualquer novo
processo, este acarreta falhas e custos. Em Portugal, ainda não é possível
viver totalmente das energias “verdes”. Falta-nos capacidade de armazenamento,
para garantir a flexibilidade necessária ao seu uso, como ocorre em países como
a Noruega. As nossas barragens (centrais hídricas) são muito vulneráveis a
fatores climatéricos, como a falta de chuva, prejudicando a sua utilização. A
obtenção de outros locais representam ainda custos demasiado elevados, além da
manutenção dos sistemas de backup, as energias não renováveis ainda
usadas, em caso de necessidade. Estando dependentes de fatores naturais, a sua
renovação sempre será um fator incerto. Outro dos problemas são os custos
diretos. O preço adicional teria de ser pago pelo cliente, sendo que a tarifa
seria tanto maior quanto mais elevado o grau de renovação, mesmo com a maior
competitividade e decréscimo de preços nos dias de hoje. Estes custos surgem já
dos investimentos e défices que não foram ainda pagos no início da inovação.
Porém, cálculos realizados por especialistas mostram a possibilidade de que,
uma vez estes pagamentos prévios passados, as energias renováveis poderão
efetivamente tornar-se mais baratas para os consumidores. Hoje, existe ainda
uma dívida de cerca de 2400 milhões de euros a pagar.
Tendo em consideração os
sobrecustos com o investimento inicial, a necessidade de backups, a
falta de capacidade de armazenamento, a instabilidade associada às fontes da
energia, poderia ser de pensar, como muitos governos afirmam, uma vez que a
polémica acerca da utilização das energias renováveis continua em aberto, que
não seria um bom investimento. A questão reside no facto de que, ainda que não
num sistema 100% verde, os impactos no ambiente, a independência do país e a
mudança em fatores económicos comprovam o motivo para a contínua inovação,
desenvolvimento e aperfeiçoamento destas energias: são eficientes, e no futuro serão monetariamente acessíveis.
Esta aposta tem contribuído sem dúvida
para um Portugal mais sustentável em diversos aspetos, especialmente com o
crescimento das fileiras eólica e solar. A redução dos preços e maior presença
são esperadas nas próximas décadas e os países devem continuar com o
investimento constante nesta área. Não é um erro e sim uma evolução justificada
e necessária.
Margarida Soares
Bibliografia:
https://www2.deloitte.com/pt/pt/pages/energy-and-resources/articles/estudo-energias-renovaveis.html#
https://observador.pt/especiais/podemos-viver-so-com-energia-renovavel/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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