quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Petrolíferas e a Pandemia

Não é novidade que esta pandemia afetou um pouco todos os setores económicos, assim sendo, o mercado do petróleo e gás natural não foi exceção. O impacte neste mercado deveu-se muito à demasiada oferta na quantidade enquanto que a sua procura estava bastante reduzida, o que fez os preços destes bens colapsarem.


          Como se pode reparar no gráfico anterior, retirado do BBC, as quedas nos preços destes bens foram abruptas e atingiram mínimos históricos. Foi relativamente fácil reparar nesta queda de preços e, inclusive, foi diversamente comentado pelos portugueses pois refletiu-se fortemente nos preços dos combustíveis, como a gasolina e o diesel, que atingiram preços absurdamente baixos. Não é de admirar também que muito dificilmente os preços voltem ao estado pré-pandemia, pois todos os países têm cada vez mais um pensamento sustentável e voltado para o meio ambiente, o que, consequentemente, faz com que procura por estes produtos venha a diminuir. São utilizados como substitutos energias mais limpas, o que já era tendência antes desta crise sanitária. Segundo a International Energy Agency, a procura destes produtos diminuiu aproximadamente 30% face ao ano anterior.

          De forma a tentar travar a queda destes preços, a OPEC +, membros da OPEC mais a Federação da Rússia, reuniu-se de forma a chegar a um acordo de redução de produção, diminuindo a oferta e, por sua vez, restaurando novamente um bom preço para o Petróleo e gás Natural. Todavia, as duas partes neste acordo não conseguiram chegar a um entendimento e não diminuíram a produção, o que fez com que o preço continuasse a reduzir-se.

          Este acontecimento teve especial impacte nas economias exportadoras de petróleo e gás natural, incluindo diversos países em desenvolvimento em que este era o seu principal setor de exportação. Estes últimos países são os que também têm uma exploração de petróleo mais cara - como é exemplo a Angola e Nigéria - e viram as suas receitas a diminuírem e os custos relacionados com a saúde e combate à pandemia aumentarem drasticamente, ficando numa situação bastante complicada.  Já os países mais desenvolvidos, onde a exploração destes produtos é mais barata, conseguiram reduzir perfeitamente os seus preços e colocar-se numa posição mais vantajosa, como foi o caso da Arábia Saudita.

          Segundo a revista Visão, os ambientalistas têm acusado as empresas petrolíferas de estar a aproveitar a pandemia para ganhar “terreno”, sendo que estão a aproveitar para ganhar bastante com o plano de recuperação económico, valendo-se da proximidade que têm dos decisores económicos. No que se remete a Portugal, este não é exceção e o principal responsável pela elaboração do programa de recuperação económica e social é o Professor António Costa e Silva, gestor da petrolífera Partex, o que, apesar de este mesmo ter dito que não existia nenhum conflito de interesses, tem, ironicamente, atrasado sempre planos como a recolha de carbono na atmosfera, uma política que seria muito prejudicial para a sua petrolífera. Assim, os ambientalistas apelam para a criação de barreiras que impeçam que os representantes das indústrias petrolíferas cheguem aos decisores políticos.

          Em suma, trata-se de um mercado que está a passar diversas dificuldades e enfrenta enormes controvérsias em relação à sua evolução  futura. É também um mercado com enorme poder na economia global, onde os principais barões têm diversos contactos e conseguem chegar facilmente ao poder dos países, influenciando as políticas tomadas de posição de acordo com as suas preferências.

 

Carlos Marinho 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho] 

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