A insustentabilidade do
ritmo atual de emissão de gases com efeito de estufa (GEE), a volatilidade dos
preços dos combustíveis fósseis e a indesejabilidade da dependência energética externa
são preocupações centrais das sociedades modernas, que moldam e continuarão a
moldar as economias globais nas décadas vindouras.
Após o primeiro alerta efetuado
pela comunidade científica em 1988 gerou-se na comunidade internacional uma verdadeira
preocupação com a questão das alterações climáticas. Em 2015, após 20 anos de
avanços e recuos nas negociações globais de clima e dos relatórios cada vez
mais preocupantes do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas,
os Estados chegaram finalmente ao Acordo de Paris. Um objetivo central deste
acordo consistiu no compromisso de manter o aumento da temperatura global
abaixo dos 2ªC, e, se possível, abaixo dos 1,5ºC.
Numa economia global fortemente baseada em indústrias emissoras de GEE, questiona-se a viabilidade de uma economia verde. No entanto, segundo a Comissão Europeia, é possível a redução dos GEE sem comprometer o crescimento económico tal como demonstrado pelo dados recolhidos e pela figura 1, entre 1990-2017, em que se verificou uma redução das emissões destes gases em 22% enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou em 58%.
Figura 1. A política climática e as emissões de GEE VS o crescimento do PIB
A prossecução dos
objetivos emanados do Acordo de Paris tem orientado a ação da UE, no sentido de
delinear estratégias para a criação de uma economia europeia com impacte neutro
no clima até 2050. As medidas tomadas deverão seguir 7 trajetórias
estratégicas: a melhoria da eficiência energética, o investimento nas energias
renováveis, a promoção de uma mobilidade limpa, segura e conectada, a
existência de uma indústria competitiva e de uma economia circular, a criação
de uma infraestrutura sustentável no setor dos transportes e energia, o
desenvolvimento da bioeconomia e dos sumidouros de carbono naturais, e a
eliminação das emissões remanescentes com captura e armazenamento de carbono.
No âmbito da eficiência
energética, assume particular importância a renovação do parque habitacional já
que atualmente os edifícios representam cerca de 40% do consumo energético da
UE.
Também é importante
destacar a aposta nas energias renováveis como forma de limitar a dependência
energética da Europa (em 2019, cerca de 55% da energia é importada,
pretendendo-se que até 2050 este valor desça para 20%, fruto da transição para
uma economia verde).
Uma vez que os
transportes representam 25% das emissões de GEE da UE, este é um setor
fundamental cuja reestruturação incluirá medidas como ao incremento de veículos
movidos a eletricidade, maior aposta nos transportes públicos, etc.
A transição para uma economia
neutra terá grandes impactes económicos e sociais, nomeadamente através da
criação de empregos verdes que permitirão um acréscimo de 1-1,5% de mão-de-obra.
Espera-se também um declínio ou transformação de alguns setores, como a
atividade mineira, a exploração de petróleo/gás e, portanto, alguns empregos
terão de ser adaptados à nova realidade. A economia terá de adaptar-se a uma
população ativa que se prevê de menor dimensão e mais envelhecida, num mercado
de trabalho mais tecnológico.
Em termos ambientais, além
dos benefícios diretos (como melhoria da qualidade do ar), a aplicação das
medidas permitirá evitar prejuízos com as inundações, cuidados de saúde
(motivados pela poluição), produção alimentar, etc.
Também Portugal assumiu em 2016 o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050, pelo que o Governo português elaborou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050).
Por fim, e apesar das consequências devastadoras para a economia, a pandemia provocada pela doença COVID-19 também veio alertar para a urgência no combate da poluição atmosférica e obrigar as pessoas a procurar alternativas de trabalho com base nas tecnologias de informação e comunicação, nomeadamente pelo teletrabalho.
Figura 2- Poluição na Europa em 2019 VS a
poluição na Europa em 2020
Do meu ponto de
vista, para além das medidas supramencionadas, deve apostar-se em benefícios fiscais para continuar a incentivar
as pessoas a optar por soluções que reduzam a pegada ecológica (como é o caso
da compra de veículos elétricos) e uma consciencialização da população para os
problemas que iremos enfrentar se não se travar a poluição através de
alterações nos comportamentos das pessoas. Mais ainda, a UE deve prestar apoios
aos setores que entrarão em declínio.
Concluindo, a Europa pretende estar
na vanguarda das economias neutras climaticamente e já tem o seu plano traçado.
Sofia Pereira
Bibliografia
FIGURA 1- fonte: Comissão Europeia
(https://op.europa.eu/pt/publication-detail/-/publication/92f6d5bc-76bc-11e9-9f05-01aa75ed71a1)
FIGURA 2- fonte: ESA (Agência Espacial
Europeia)
Suporte do artigo:
https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal_en
https://www.portugal2020.pt/content/uniao-europeia-alcancar-neutralidade-climatica-ate-2050
https://ecoxxi.abae.pt/our_news/green-deal/
https://ec.europa.eu/clima/policies/eu-climate-action/law_pt
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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