segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Impacte da pandemia na restauração

 

Com o surgimento de uma nova pandemia muitas foram as dificuldades que se fizeram sentir em vários setores e, consequentemente, na economia. Desde o início do ano, uma das áreas mais lesadas foi a da restauração que, nos dias de maior confinamento social, precisou de encontrar formas de colmatar as perdas verificadas e manter o contacto com os seus clientes. Após terem fechado portas durante várias semanas, sobrevivendo apenas através do takeaway e da entrega ao domicílio, surgem agora outros obstáculos e questões.

De facto, para empresários e trabalhadores desta área, tem-se verificado difícil ultrapassar as complicações impostas pela crise pandémica, que colocou enormes desafios e obrigou o setor a tomar várias medidas. Algumas dessas medidas adotadas (como o uso de equipamento de proteção, redução da lotação dos estabelecimentos, distanciamento social, etc.) são exequíveis, no entanto, colocam alta pressão nos custos que os negócios passam a ter em máscaras, luvas, papel ou toalhitas descartáveis, desinfetantes, entre outros. Assim, os efeitos da pandemia no setor da restauração são notórios: desde março, registaram-se perdas consecutivas, sendo que quase metade das empresas já despediu trabalhadores e 18% assumem que não conseguirão manter a totalidade dos postos de trabalho até ao final do ano.

          Segundo um inquérito realizado pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), cerca de 32% das empresas de restauração e bebidas ponderam avançar para insolvência, uma vez que as receitas realizadas e previstas não permitirão suportar os encargos habituais para o normal funcionamento da sua atividade, tendo sido registadas perdas de faturação acima de 40% em mais de 63% das empresas. Em consequência, 93% das empresas considera que as atuais medidas criadas pelo Governo para apoiar o setor não são adequadas para a sobrevivência dos negócios e a associação setorial chega mesmo a sugerir medidas como redução temporária do IVA, financiamento não reembolsável para reforço da tesouraria, incentivo ao consumo, isenção de impostos e contribuições sociais e apoio às rendas.  

Mais recentemente, com a divulgação da proposta de Orçamento do Estado para 2021, a Associação Nacional de Restaurantes (PRO.VAR) mostrou-se preocupada pela falta de relevância dada a um dos setores que mais perdeu com a pandemia. De acordo com a associação, quase metade dos estabelecimentos estão com rendas desajustadas em função do contexto económico, e pelo menos uma em cada três empresas, não obtendo qualquer tipo de apoio, não conseguirá pagar salários e terão de fazer despedimentos se não receberem apoios. Desta forma, a PRO.VAR considerou ser essencial para a recuperação do setor a redução do IVA, medida defendida como a mais importante pela grande maioria dos empresários (aproximadamente 80%).

          Quanto a esta última proposta, um estudo realizado a pedido da AHRESP conclui que uma eventual redução temporária da taxa do IVA a todo o serviço de Alimentação e Bebidas dos atuais 13% para 6% ajudaria a manter até 46 mil postos de trabalho e a contribuir para a sobrevivência das empresas. A aplicação desta medida permitiria uma redução estimada dos encargos com o setor até 732 milhões de euros na tesouraria das empresas, e a suster a perda de 10 mil empresas no próximo ano, que poderiam desaparecer pelo efeito da crise.

          A defesa da redução das taxas de IVA com o intuito de garantir que o setor da restauração e similares consiga resistir à crise provocada pela pandemia de Covid-19 não surge apenas em Portugal. Na verdade, federações europeias de restauração defendem taxas reduzidas de IVA em toda a Europa e deixam um apelo à UE para encorajar os Estados-membros a aplicar esta medida. Uma iniciativa deste tipo pode mesmo fazer a diferença entre o encerramento ou a sobrevivência de milhares de estabelecimentos que viram o número de trabalhadores diminuir por impossibilidade de cumprir salários e rendas, sofreram quedas na faturação e aumentos nos gastos. Tudo isso, juntamente com o aparecimento de novas medidas higiénicas, coloca este setor numa situação de urgência de apoios e medidas de manutenção.

 

Ana Catarina Silva Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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