sexta-feira, 27 de novembro de 2020

EXPLORAÇÃO DE LÍTIO: ADVERSIDADE OU OPORTUNIDADE?

O armazenamento de eletricidade em baterias de lítio é uma das soluções que fazem parte da atual “transição energética”. Neste sentido, a crescente procura de novas tecnologias de baixo carbono, como é o caso dos carros híbridos e elétricos, e o crescimento acentuado do mercado tecnológico têm potenciado o mercado das baterias de lítio, desencadeando um crescente desenvolvimento da exploração mineira do lítio.

É facto que o lítio é um daqueles elementos sobre o qual as pessoas têm pouco conhecimento. É usado em quantidades muito pequenas e desempenha um papel importante na vida diária. Este é consumido a nível global em indústrias de desenvolvimento tecnológico, na sua grande maioria indústrias de cerâmica e vidreira, mas também na indústria automóvel, eletrónica, farmacêutica e aeroespacial. Tal implica que seja caraterizado como um mineral estratégico, logo, sujeito a um significativo aumento da sua procura e, consequentemente, conduz a um número crescente de projetos mineiros implementados para a sua extração, que proliferam um pouco por todo o globo.

De acordo com dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, Portugal é o país europeu com maiores reservas de lítio e o sexto a nível mundial. As reservas serão na ordem das 60 mil toneladas. Na realidade, a exploração de lítio em larga escala é vista, por alguns, como uma oportunidade económica para o país, dado o crescimento da indústria de baterias. Em 2021, é viável a realização do projeto do Barroso que, em comparação com os restantes, exibe uma menor duração (11 anos), tendo como objetivo a exportação de 86% do volume extraído de concentrado de espodumena (6% Li2O). Além do mais, segundo um estudo da Universidade do Minho, estima-se a criação de 600 a 800 (200 diretos e 400 a 600 indiretos) novos empregos no Barroso através da concessionária Savannah. Mas não é este então mais um motivador para a uniformidade de pareceres positivos sobre a exploração deste mineral ao nível nacional? É importante esclarecer que o método utilizado no estudo impõe alguns obstáculos, o que torna imprescindível uma investigação mais detalhada dos benefícios socioeconómicos.

De facto, não deixa de ser paradoxal as questões ambientais serem o principal entrave para a exploração do lítio quando a solução elétrica vem de certa forma contribuir para o ambiente, eliminado as soluções energéticas que tem na sua produção a queima de combustíveis fosseis. Aliás, face ao recente estudo de impacte ambiental da concessão de exploração de lítio em Montalegre, a Lusorecursos Portugal Lithium declarou que “o impacte positivo socioeconómico e a recuperação ambiental e paisagística irão trazer benefícios paisagísticos e da biodiversidade que se sobrepõem aos impactes ambientais negativos provocados”.

Todavia, não basta que deixemos a análise desta questão por aqui. Em fevereiro de 2018, o banco norte-americano Morgan Stanley previu a diminuição do défice global de lítio até ao fim do referido ano e até avaliou a possibilidade de excedentes significativos. No último ano, foram descobertas novas jazidas com muito potencial, o que originou o aumento de minas e consequentemente o acréscimo de oferta no mercado internacional. Face à variação na relação entre a oferta e a procura, o preço do lítio sofreu uma queda brusca. Ora, tal aumento de produção provocou um desajuste de mercado, já que o preço do lítio exibia uma tendência elevada e verificada desde 2015.

Então, não devemos estar conscientes e incorporar nesta acesa discussão o facto de o lítio, no momento, ser um investimento revestido de muita incerteza face ao seu rendimento? Uma prova incontestável prende-se com as dificuldades da empresa Nemaska Lithium em angariar fundos para manter tanto o seu principal projeto, uma mina de lítio em Whabouchi, como para prosseguir no procedimento das instalações em Québec.

Obviamente que considero todos estes pontos relevantes para a discussão, contudo, quando nos enquadramos a nível nacional, a pintura deve ser projetada com juízos de valor próprios. Em suma, é crucial entender que Portugal, para além de ser um país pequeno, tem um mercado pequeno, ou seja, importa quase tudo de que carece, o que provoca um desequilíbrio crónico na sua balança comercial. Assim, é importante não denegar partido dos recursos que dispõe e reduzir a dependência externa de matérias-primas relevantes, aproveitando o seu forte panorama tecnológico de uma forma abrangente e europeia, isto, sem que abdique de uma tomada de decisão governamental socialmente responsável, capaz de incentivar o diálogo e providenciar o apoio financeiro necessário, inclusive por meio do Banco Europeu de Investimento.


 

Nelson Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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