O armazenamento de eletricidade em baterias de lítio é uma das soluções que fazem parte da atual “transição energética”. Neste sentido, a crescente procura de novas tecnologias de baixo carbono, como é o caso dos carros híbridos e elétricos, e o crescimento acentuado do mercado tecnológico têm potenciado o mercado das baterias de lítio, desencadeando um crescente desenvolvimento da exploração mineira do lítio.
É
facto que o lítio é um daqueles elementos sobre o qual as pessoas têm pouco
conhecimento. É usado em quantidades muito pequenas e desempenha um papel
importante na vida diária. Este é consumido a nível global em indústrias de
desenvolvimento tecnológico, na sua grande maioria indústrias de cerâmica e
vidreira, mas também na indústria automóvel, eletrónica, farmacêutica e
aeroespacial. Tal implica que seja caraterizado como um mineral estratégico,
logo, sujeito a um significativo aumento da sua procura e, consequentemente, conduz
a um número crescente de projetos mineiros implementados para a sua extração,
que proliferam um pouco por todo o globo.
De
acordo com dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, Portugal é o país
europeu com maiores reservas de lítio e o sexto a nível mundial. As reservas
serão na ordem das 60 mil toneladas. Na realidade, a exploração de lítio em
larga escala é vista, por alguns, como uma oportunidade económica para o país,
dado o crescimento da indústria de baterias. Em 2021, é viável a realização do
projeto do Barroso que, em comparação com os restantes, exibe uma menor duração
(11 anos), tendo como objetivo a exportação de 86% do volume extraído de
concentrado de espodumena (6% Li2O). Além do mais, segundo um estudo da Universidade
do Minho, estima-se a criação de 600 a 800 (200 diretos e 400 a 600 indiretos) novos
empregos no Barroso através da concessionária Savannah. Mas não é este então
mais um motivador para a uniformidade de pareceres positivos sobre a exploração
deste mineral ao nível nacional? É importante esclarecer que o método utilizado
no estudo impõe alguns obstáculos, o que torna imprescindível uma investigação
mais detalhada dos benefícios socioeconómicos.
De facto, não deixa de ser paradoxal as
questões ambientais serem o principal entrave para a exploração do lítio quando
a solução elétrica vem de certa forma contribuir para o
ambiente, eliminado as soluções energéticas que tem na sua produção a queima de
combustíveis fosseis. Aliás, face ao recente estudo de impacte ambiental da
concessão de exploração de lítio em Montalegre, a Lusorecursos Portugal Lithium
declarou que “o impacte positivo
socioeconómico e a recuperação ambiental e paisagística irão trazer benefícios
paisagísticos e da biodiversidade que se sobrepõem aos impactes ambientais
negativos provocados”.
Todavia, não basta que deixemos a análise
desta questão por aqui. Em fevereiro de 2018, o banco norte-americano Morgan
Stanley previu a diminuição do défice global de lítio até ao fim do referido
ano e até avaliou a possibilidade de excedentes significativos. No último ano, foram
descobertas novas jazidas com muito potencial, o que originou o aumento de
minas e consequentemente o acréscimo de oferta no mercado internacional. Face à
variação na relação entre a oferta e a procura, o preço do lítio sofreu uma
queda brusca. Ora, tal aumento de produção provocou um desajuste de mercado, já
que o preço do lítio exibia uma tendência elevada e verificada desde 2015.
Então, não devemos estar conscientes e
incorporar nesta acesa discussão o facto de o lítio, no momento, ser um
investimento revestido de muita incerteza face ao seu rendimento? Uma prova incontestável
prende-se com as dificuldades da empresa Nemaska Lithium em angariar fundos
para manter tanto o seu principal projeto, uma mina de lítio em Whabouchi, como
para prosseguir no procedimento das instalações em Québec.
Obviamente que considero todos estes pontos
relevantes para a discussão, contudo, quando nos enquadramos a nível nacional,
a pintura deve ser projetada com juízos de valor próprios. Em suma, é crucial
entender que Portugal, para além de ser um país pequeno, tem um mercado
pequeno, ou seja, importa quase tudo de que carece, o que provoca um
desequilíbrio crónico na sua balança comercial. Assim, é importante não denegar
partido dos recursos que dispõe e reduzir a dependência externa de
matérias-primas relevantes, aproveitando o seu forte panorama tecnológico de uma
forma abrangente e europeia, isto, sem que abdique de uma tomada de decisão
governamental socialmente responsável, capaz de incentivar o diálogo e
providenciar o apoio financeiro necessário, inclusive por meio do Banco Europeu
de Investimento.
Nelson
Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade
curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º
ciclo) da EEG/UMinho]
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