quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Novo Confinamento: Sim ou Não?

Atualmente, assistimos ao que se poderá considerar a segunda vaga da pandemia. Depois de um período de medo generalizado e confinamento e, posteriormente, de uma época balnear, por vezes, desprovida de cuidados, estamos agora perante um cenário, em termos de saúde pública, ainda mais negro do que o constatado anteriormente. Já no que diz respeito ao funcionamento da economia, o cenário está longe do que seria desejável, no entanto, é certamente mais positivo do que o vivido durante o período de confinamento.

Assim, num momento em que vemos os milhares de infetados a aumentar diariamente, um novo confinamento será sempre um tema de debate e, nas palavras do nosso Primeiro-Ministro, não se pode “excluir que a realidade o imponha”.

Para melhor entender os danos que causaria um novo confinamento, o melhor a fazer será olhar para o historial deixado pelo confinamento que vivemos no 2º trimestre deste ano.

Um dos principais indicadores a mencionar é queda substancial do PIB: no primeiro trimestre de 2020, registou-se uma queda de 2,3%, e no trimestre seguinte, que foi o período que englobou a maior parte do confinamento, a descida registada foi de 16,3%. Estes valores preocupantes, segundo o Banco de Portugal, levam a uma previsão de contração da economia de 9,5% a 13,1%. Por sua vez, a Comissão Europeia, indica um valor de 9,8%, e aumenta a nossa certeza quanto à dimensão desta catástrofe económica que está a assumir valores de contração que não se registavam desde 1928.

Em segundo lugar, e como não poderia deixar de ser, o mercado de trabalho é outro dos parâmetros a realçar, Segundo o Conselho de Finanças Públicas, o desemprego para este ano rondará os 10%, sendo que no ano passado rondava os 6,5%.

O confinamento foi, como seria de esperar, a fase mais vulnerável para o emprego em Portugal e, para que se tenha uma noção mais concreta, o número de pessoas a apresentar-se nos centros de emprego após o confinamento aumentou em 34%. Este valor não é de estranhar sendo que só a restauração e o comércio, em conjunto, foram responsáveis por 126 mil despedimentos.

Com isto, pretendo realçar que o confinamento foi, de facto, responsável por um agravamento substancial do impacte económico que esta pandemia provocou e uma nova paragem iria, certamente, ser a ruía de muitas empresas e postos de trabalho. Assim, posso afirmar que, na minha opinião, a opção mais viável a tomar seria a de não confinar novamente.

Claro está que, com isto, estaremos a assumir um cenário de maior possibilidade de propagação e, consequentemente, poderemos atingir níveis preocupantes quanto ao número de infetados. Assim, ao enveredar por este caminho, acabamos por aumentar substancialmente o risco de sobrecarga do serviço nacional de saúde, o que representa um dos mais graves problemas em situações deste género.

Apesar disto, acredito que este será um risco que terá de ser corrido, fazendo sempre tudo para minimizá-lo, ou seja, mais uma vez, a meu ver, seria importante apostar muito na prevenção e na fiscalização. Com medidas de segurança mais restritivas quanto à interação social, tal como as tomadas agora com o estado de emergência, acabamos por conseguir restringir mais os cidadãos e os estabelecimentos comerciais. Agora, será também importante assegurar que estas medidas serão, de facto, cumpridas. Só assim poderá ser controlada a saúde pública sem parar economia de novo.  

Deste modo, nos tempos que vivemos, não estamos à procura de evitar uma catástrofe mas sim a tentar geri-la da melhor maneira possível, de modo a minimizar todos os prejuízos que esta irá trazer. Isto implica uma visão de conciliação face à sustentabilidade dos vários setores, e uma compreensão mais profunda das repercussões, a curto e a longo prazo, causadas pelos possíveis abalos sofridos em cada um destes setores.

 

Daniel Pereira 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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