Atualmente, assistimos ao
que se poderá considerar a segunda vaga da pandemia. Depois de um período de
medo generalizado e confinamento e, posteriormente, de uma época balnear, por
vezes, desprovida de cuidados, estamos agora perante um cenário, em termos de
saúde pública, ainda mais negro do que o constatado anteriormente. Já no que
diz respeito ao funcionamento da economia, o cenário está longe do que seria
desejável, no entanto, é certamente mais positivo do que o vivido durante o
período de confinamento.
Assim, num momento em que
vemos os milhares de infetados a aumentar diariamente, um novo confinamento
será sempre um tema de debate e, nas palavras do nosso Primeiro-Ministro, não
se pode “excluir que a realidade o imponha”.
Para melhor entender os
danos que causaria um novo confinamento, o melhor a fazer será olhar para o
historial deixado pelo confinamento que vivemos no 2º trimestre deste ano.
Um dos principais
indicadores a mencionar é queda substancial do PIB: no primeiro trimestre de
2020, registou-se uma queda de 2,3%, e no trimestre seguinte, que foi o período
que englobou a maior parte do confinamento, a descida registada foi de 16,3%. Estes
valores preocupantes, segundo o Banco de Portugal, levam a uma previsão de
contração da economia de 9,5% a 13,1%. Por sua vez, a Comissão Europeia, indica
um valor de 9,8%, e aumenta a nossa certeza quanto à dimensão desta catástrofe
económica que está a assumir valores de contração que não se registavam desde
1928.
Em segundo lugar, e como não
poderia deixar de ser, o mercado de trabalho é outro dos parâmetros a realçar,
Segundo o Conselho de Finanças Públicas, o desemprego para este ano rondará os
10%, sendo que no ano passado rondava os 6,5%.
O confinamento foi, como
seria de esperar, a fase mais vulnerável para o emprego em Portugal e, para que
se tenha uma noção mais concreta, o número de pessoas a apresentar-se nos
centros de emprego após o confinamento aumentou em 34%. Este valor não é de
estranhar sendo que só a restauração e o comércio, em conjunto, foram
responsáveis por 126 mil despedimentos.
Com isto, pretendo
realçar que o confinamento foi, de facto, responsável por um agravamento
substancial do impacte económico que esta pandemia provocou e uma nova paragem
iria, certamente, ser a ruía de muitas empresas e postos de trabalho. Assim,
posso afirmar que, na minha opinião, a opção mais viável a tomar seria a de não
confinar novamente.
Claro está que, com isto,
estaremos a assumir um cenário de maior possibilidade de propagação e,
consequentemente, poderemos atingir níveis preocupantes quanto ao número de
infetados. Assim, ao enveredar por este caminho, acabamos por aumentar
substancialmente o risco de sobrecarga do serviço nacional de saúde, o que
representa um dos mais graves problemas em situações deste género.
Apesar disto, acredito que
este será um risco que terá de ser corrido, fazendo sempre tudo para
minimizá-lo, ou seja, mais uma vez, a meu ver, seria importante apostar muito
na prevenção e na fiscalização. Com medidas de segurança mais restritivas
quanto à interação social, tal como as tomadas agora com o estado de
emergência, acabamos por conseguir restringir mais os cidadãos e os
estabelecimentos comerciais. Agora, será também importante assegurar que estas
medidas serão, de facto, cumpridas. Só assim poderá ser controlada a saúde
pública sem parar economia de novo.
Deste modo, nos tempos
que vivemos, não estamos à procura de evitar uma catástrofe mas sim a tentar
geri-la da melhor maneira possível, de modo a minimizar todos os prejuízos que
esta irá trazer. Isto implica uma visão de conciliação face à sustentabilidade
dos vários setores, e uma compreensão mais profunda das repercussões, a curto e
a longo prazo, causadas pelos possíveis abalos sofridos em cada um destes
setores.
Daniel Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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