As mulheres já lutaram muito pela sua emancipação: desde conseguirem o direito ao voto e deixarem de ser um pertence, um mero objeto da figura masculina do seu agregado familiar, começarem a trabalhar a até ocuparem posições de relevância no mercado de trabalho. E, talvez por todos estes feitos, existe quem afirme veemente que o movimento feminista não é mais relevante e que deliberadamente pense que as mulheres têm, hoje, os mesmos direitos do que os homens. Mas será verdade? Será que a desigualdade salarial deixou de ser uma uma questão na sociedade de hoje em dia?
De acordo com dados da Eurostat, a diferença
de remuneração não ajustada entre géneros, era em 2018 de 16,2%, em Portugal,
mais alta do que a média Europeia, que era de 14,8%. Pelo facto de esta medida
só incluir na sua amostra trabalhadores de empresas com mais 10 pessoas, um alto
número de mulheres encontra-se excluído desta estatística (não incluí os 12%
que trabalham por conta própria ou ainda aquelas que trabalham por conta de
outrem em empresas com menos de 10 trabalhadores - 98,5% do tecido empresarial
nacional é constituído por empresas do setor não financeiro que apresentam
menos de 10 trabalhadores - nem as que trabalham sem contrato). No entanto, é
uma medida relativamente sintética e que inclui nos seus cálculos o salário
médio por hora, a média mensal do número de horas pagas e a taxa de emprego
sobre o salário médio de todas as mulheres em idade ativa, em comparação com os
homens, acabando por constitiur uma medida relativamente eficiente para medir a
disparidade salarial entre gênero.
Além destes dados, temos
ainda os do Gabinete de Estratégia e Planeamento, que, em 2017, estimaram que
as mulheres ganhavam menos 83,1€ em relação à média mensal de salário dos
homens, de 949,2€. O que significa uma disparidade salarial média de 14,8%, e,
apesar de ter descido desde 2012 (que era de 18,5%), continua a constituir um
valor alto e um problema para a sociedade.
Um
dos factos que podem ajudar a explicar a desigualdade salarial que ainda existe
é a falta de representatividade de mulheres no mercado das tecnologias e
informação - só 14,4% dos profissionais que trabalham em tecnologia são
mulheres. Isto significa que as mulheres não estão a usufruir do enorme
crescimento e geração de riqueza que esta área está a viver, e não é expectável
que esta percentagem venha a crescer significativamente.
Além
deste fator, é importante ressaltar que as mulheres ainda não ocupam tantos
cargos de gestão como os homens - a média na OCDE é de 31,2%, o que também pode
contribuir para a diferença nos salários entre homens e mulheres.
A
disparidade salarial entre homens e mulheres tem muito que ver com questões
históricas, étnicas - acredito que se estes estudos fossem controlados para
estudar a diferença salarial entre uma mulher de raça não branca e um homem
branco os resultados seriam muito mais dramáticos, mas também com a educação -
que muitas vezes ainda é negada às mulheres em várias partes do mundo - e a idade.
E, apesar de as mulheres já terem lutado e alcançado resultados brilhantes
nesta questão, é importante percebermos que esta ainda não é uma luta ganha e
que ainda existe um longo caminho pela frente, mesmo nos países desenvolvidos e
especialmente nos países em
desenvolvimento.
Ana Raquel Silva Novais
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário