sábado, 21 de novembro de 2020

Desigualdade salarial entre homens e mulheres: ainda é uma questão nos dias atuais?

           As mulheres já lutaram muito pela sua emancipação: desde conseguirem o direito ao voto e deixarem de ser um pertence, um mero objeto da figura masculina do seu agregado familiar, começarem a trabalhar a até ocuparem posições de relevância no mercado de trabalho. E, talvez por todos estes feitos, existe quem afirme veemente que o movimento feminista não é mais relevante e que deliberadamente pense que as mulheres têm, hoje, os mesmos direitos do que os homens. Mas será verdade? Será que a desigualdade salarial deixou de ser uma uma questão na sociedade de hoje em dia?

           De acordo com dados da Eurostat, a diferença de remuneração não ajustada entre géneros, era em 2018 de 16,2%, em Portugal, mais alta do que a média Europeia, que era de 14,8%. Pelo facto de esta medida só incluir na sua amostra trabalhadores de empresas com mais 10 pessoas, um alto número de mulheres encontra-se excluído desta estatística (não incluí os 12% que trabalham por conta própria ou ainda aquelas que trabalham por conta de outrem em empresas com menos de 10 trabalhadores - 98,5% do tecido empresarial nacional é constituído por empresas do setor não financeiro que apresentam menos de 10 trabalhadores - nem as que trabalham sem contrato). No entanto, é uma medida relativamente sintética e que inclui nos seus cálculos o salário médio por hora, a média mensal do número de horas pagas e a taxa de emprego sobre o salário médio de todas as mulheres em idade ativa, em comparação com os homens, acabando por constitiur uma medida relativamente eficiente para medir a disparidade salarial entre gênero.

Além destes dados, temos ainda os do Gabinete de Estratégia e Planeamento, que, em 2017, estimaram que as mulheres ganhavam menos 83,1€ em relação à média mensal de salário dos homens, de 949,2€. O que significa uma disparidade salarial média de 14,8%, e, apesar de ter descido desde 2012 (que era de 18,5%), continua a constituir um valor alto e um problema para a sociedade.

          Um dos factos que podem ajudar a explicar a desigualdade salarial que ainda existe é a falta de representatividade de mulheres no mercado das tecnologias e informação - só 14,4% dos profissionais que trabalham em tecnologia são mulheres. Isto significa que as mulheres não estão a usufruir do enorme crescimento e geração de riqueza que esta área está a viver, e não é expectável que esta percentagem venha a crescer significativamente.



          Além deste fator, é importante ressaltar que as mulheres ainda não ocupam tantos cargos de gestão como os homens - a média na OCDE é de 31,2%, o que também pode contribuir para a diferença nos salários entre homens e mulheres.

          A disparidade salarial entre homens e mulheres tem muito que ver com questões históricas, étnicas - acredito que se estes estudos fossem controlados para estudar a diferença salarial entre uma mulher de raça não branca e um homem branco os resultados seriam muito mais dramáticos, mas também com a educação - que muitas vezes ainda é negada às mulheres em várias partes do mundo - e a idade. E, apesar de as mulheres já terem lutado e alcançado resultados brilhantes nesta questão, é importante percebermos que esta ainda não é uma luta ganha e que ainda existe um longo caminho pela frente, mesmo nos países desenvolvidos e especialmente nos países em desenvolvimento.

 

 Ana Raquel Silva Novais

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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