O aumento do número de idosos é um acontecimento inevitável e tendencialmente crescente nas sociedades atuais. Na última década, o índice de envelhecimento em Portugal tem-se agravado, ou seja, o número de idosos com mais de 65 anos tem aumentado por cada 100 jovens com menos de 15 anos. Segundo o INE, o ano 2000 foi o ano em que o número de idosos ultrapassou o de jovens. Para termos uma noção da sua evolução, em 1960 havia por cada 100 jovens 27 idosos, em 2016 112 idosos, em 2017 154,4 idosos e projeções indicam que em 2060 poderá chegar a 307 idosos.
Isto resulta da crise
demográfica que o país atravessa, onde existem mais idosos e menos jovens por
indivíduos ativos, de alterações na composição etária da população em
consequência da diminuição da natalidade, do aumento da esperança média de vida
e do aumento da emigração a partir de Portugal. O envelhecimento da população
provoca mudanças a nível económico, político e social, trazendo a nível social
problemas para os mais idosos, como a exclusão, a discriminação e até o
abandono. Infelizmente, muitos veem os idosos como um fardo para o país, que
deixaram de contribuir com o seu trabalho para a sociedade, que põem em causa a
sustentabilidade do sistema de segurança social a longo prazo, que gastam mais
em cuidados de saúde, entre outros.
Num país que em 2019, segundo
o INE, contava com 22,15% da população com idade igual ou superior a 65 anos,
era de esperar uma mentalidade que os acompanhasse e mais apoios. Um estudo
realizado pela OMS a 53 países, em 2018, coloca ainda Portugal no top 5 dos com
piores tratamentos a idosos, com 39% destes a sofrerem violência. Antonieta
Dias, vice-presidente da Comissão de Proteção ao Idoso, afirma que Portugal é o
país da Europa que menos investe nas pessoas da terceira idade e que não
devemos ficar alheios à nossa função de defesa dos direitos humanos, dos
direitos dos idosos e de defesa da cidadania.
De forma a melhorar a
situação atual do país, o governo desenvolveu a Estratégia Nacional para o
Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025, que tem como linhas orientadoras a
saúde, a participação, a segurança e a medição, monotorização e avaliação. Com
estas medidas, pretende-se a promoção de iniciativas e práticas que adiem e reduzam
o impacte de doenças crónicas, mentais e que afetem a capacidade física, promovendo
a autonomia dos idosos.
A promoção da educação e
formação incentivam a criação de espaços físicos que permitam a integração e
participação dos idosos na sociedade e nas tomadas de decisão. São enunciados apoios
a iniciativas que visem diminuir riscos e melhorar o bem-estar e segurança. E,
por fim, incentiva-se a investigação científica na área do envelhecimento ativo
e saudável. Outra medida foi a criação do novo Estatuto do Cuidador Informal para
apoiar aqueles que prestam informalmente cuidados a pessoas em situação de
dependência. De um conjunto de apoios, está previsto um subsídio de apoio aos
cuidadores e direito a descanso.
Concluindo, ainda há
muito a fazer para proporcionar aos mais velhos um papel ativo na comunidade,
combater o seu isolamento e melhorar o acesso a cuidados continuados. Temos de entender
que a idade não deve ser sinónimo de vulnerabilidade, mas sim de experiência e
de uma outra sensibilidade de olhar o mundo, com a qual só temos a aprender. A
idade não deve ter repercussões na forma como as pessoas são tratadas. Estas
devem ser tratados com respeito, pois elas também já foram jovens, contribuíram
para a sociedade e são a elas que tantas coisas devemos agradecer. Além disso,
nós também vamos envelhecer e, como disse Herman Melville, “Saber envelhecer é
a obra-prima da sabedoria e um dos capítulos mais difíceis na grande arte de
viver”.
Daniela Torres
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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