E
se não precisasse de ir a uma agência bancária para abrir uma conta ou solicitar
um empréstimo? Poder transformar um longo tempo de espera na fila num simples
“clique” através do smartphone? A
pressão dos cidadãos neste importante setor da economia é progressivamente
notória e, de facto, a banca, assumindo um papel de destaque no desenvolvimento
económico, uma vez que é uma fonte primária de financiamento de grande parte
dos investimentos e consumos, tem-se deparado ao longo dos anos com a
necessidade de adaptação a novas realidades que trazem consigo inúmeros
desafios e ameaças. Estes são hoje particularmente impostos pelas questões
inicialmente destacadas, tornando imperativas a resposta ágil às mudanças por
parte dos bancos e dos seus modelos de negociação.
Assim
como avançado por Nuno Cordeiro, partner da Deloitte, a segurança, a
confiança, a base de clientes e também a excelência da informação constituem no
seu conjunto determinantes das principais vantagens competitivas detidas pelos
bancos relativamente a empresas que atuam noutros setores de atividade. A
pandemia de COVID-19 impulsionou uma série de restrições de quarentena, que se
refletiram em mudanças no comportamento dos clientes ao nível digital, verificando-se
um crescimento significativo, entre 10% a 20% nos últimos seis meses, no uso de
serviços remotos dos bancos. Neste sentido, os novos costumes adotados pelos
indivíduos face às vantagens do mundo digital provavelmente continuarão a ser
utilizados ativamente no período pós-COVID-19, impulsionando a aceleração dos
sistemas de transformação digital dos bancos.
Note-se
que os limites ao pagamento sem contacto foram expandidos em vários países,
incluindo o Reino Unido, Alemanha, Irlanda, Polônia, Noruega, Egito e, em
muitos, esta expansibilidade mais do que duplicou. A Fintech, apresentada como uma inovação revolucionária capaz de
agitar os mercados financeiros tradicionais, trouxe um novo paradigma no qual a
tecnologia da informação mostra-se capaz de criar impulsos à inovação no setor
financeiro. A inevitável digitalização não é o único motivo. Afinal, o setor tem
enfrentado uma queda no desempenho financeiro desde o ano passado. A Bloomberg
Intelligence afirmou que o rácio custo-rendimento médio dos principais bancos
europeus ascendeu a 67%, em 2019, a taxa mais elevada desde 2008.
O
Banco Central Europeu, que supervisiona um agregado de 113 entidades
financeiras, no relatório anual, em relação ao ano de 2019, divulgou que a
rendibilidade dos capitais próprios desse conjunto de entidades teria sido de
5,2%. Este é um resultado inferior ao apresentado pelas instituições
norte-americanas, e até mesmo quando comparado com as estimativas divulgadas
pelas próprias instituições. Todavia, no primeiro semestre de 2020, os números
agravaram-se e a rendibilidade dos capitais próprios das entidades financeiras
reduziu-se para somente 1,2%.
Portugal,
assim como alguns dos seus parceiros europeus, apresentou valores negativos
(-0,77%) e países como a Alemanha, Itália e Bélgica, que detêm um mercado
bancário muito superior ao de Portugal, apresentaram um valor ainda mais
drástico. É certo que a recessão global em 2020 agravou os cenários. Afinal, a
redução do rendimento da população, o aumento do desemprego e a incerteza
financeira impulsionam a queda na quantidade e volume dos depósitos bancários e
empréstimos para fins específicos, como hipotecas, empréstimos para automóveis,
etc.
As
transformações no modelo operacional e a transição digital são os meios para os
bancos superarem as dificuldades. Além disso, pode estipular-se que os bancos
forneçam empréstimos menores e avaliem os clientes de maneira menos formal, bem
como comecem a adquirir empresas fintech, uma vez que, notavelmente, as
próprias fintechs são bastante ativas nesse aspeto, na medida em que
procuram oportunidades para melhorar o seu desempenho.
Por
outro lado, o Banco Central Europeu, com o propósito de solucionar este problema,
aguarda uma centralização dos bancos europeus, já que a ideia é que há uma
oferta excessiva de bancos.
No
meu ponto de vista, esta concentração apenas trará resultados a curto prazo, já
que inicialmente será sentida a poupança nos custos. As pessoas cada vez mais
valorizam o seu tempo e a tecnologia que os novos bancos oferecem e esta
mudança de paradigma no comportamento dos novos consumidores está a deixar os
bancos tradicionais para trás, que têm poucos anos para agirem e tomarem uma
decisão assertiva. Fundamentalmente, é imperativo os bancos se tornarem mais
relevantes para os seus clientes, num um mundo onde a competição pelo seu
interesse e atenção se intensificou. As vantagens competitivas dos bancos
deverão ser o ponto de partida para a análise e, a meu ver, fundamentam-se em
duas: a segurança e confiança que os clientes depositam nos bancos; e a
informação que estes detêm sobre a vida dos clientes.
Em
suma, a flexibilidade da atividade bancária entrou numa espiral transversal de
crescente utilização, acentuando não só a simplicidade e proximidade do serviço
prestado cliente, mas também a fusão dos canais digitais com os serviços de
balcão, o que é igualmente importante para que as vantagens de ambos os meios
sejam explorados de forma sustentável. Mas engane-se quem somente denota a
lógica desta questão, pois no fundo há que pensar numa nova questão daqui
emergente e que diz respeito à aplicação de massivos investimentos no processo
de transformação digital por parte dos bancos.
Nelson
Fernandes
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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