quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Europa: da União à Separação

No ano de 1950, o continente europeu já tinha sido palco de 2 sangrentas guerras mundiais que levaram à destruição da economia. Com o objetivo de pôr um fim às frequentes guerras entre países vizinhos e garantir uma paz mais duradoura, surge a ideia de cooperação entre nações.

Em março de 1957, a Alemanha, a França, a Itália, a Bélgica, o Luxemburgo e os Países Baixos assinaram o Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE). A CEE tinha como finalidade o crescimento económico mediante trocas comerciais, com o intuito final de se criar um “Mercado Comum”, assente na livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas.

Para além da colaboração e pacificação entre os países, a união tinha também o propósito tornar os países europeus mais competitivos a nível mundial, transformando pequenos países numa comunidade única, que pudesse competir com grandes potencias mundiais como os EUA e a Rússia.

Um novo marco para a história da Comunidade Europeia surge em 1992, com a assinatura do Tratado de Maastricht, onde a CEE passa a ser formalmente designada por União Europeia (UE), e registam-se alterações nas políticas monetárias externas, de segurança comum e dá-se início à criação da moeda única, o euro.

Contudo, a UE tem-se confrontando com diversos problemas. A forma como os Estados-Membros têm reagido às situações mais críticas leva-me a acreditar que a ideia da UE ainda não está totalmente interiorizada por todos, dado que as nações ainda agem de forma individualista.

O aumento do clima de insegurança e do medo na Europa, de que os ataques terroristas são exemplo, provoca uma reação de autoproteção, levando os países a reverem as suas políticas de imigração. Esta situação ganhou outras proporções no caso dramático dos refugiados. António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, numa entrevista ao jornal Expresso, afirma que para as sociedades envelhecidas as migrações são “indispensáveis” e crê que seria benéfico a criação de um sistema, como já existe no Canadá, onde os fluxos migratórios são mais regulares. O diplomata propõe que a UE se una para solucionar um problema mundial, ao invés das nações menos afetadas adotarem uma política egoísta e ignorarem esta crise humanitária.

Em 2016, o Brexit, saída do Reino Unido da UE, com o apoio de 51,9% do seu eleitorado, é um grande indício da fragilidade da constituição europeia, por se tratar da saída uma das suas maiores potências. Deste modo, a UE terá de suportar consequências económicas, como a perda do contributo desta grande economia para o orçamento europeu (estima-se que a perda seja cerca de 75 mil milhões de euros, nos próximos sete anos), assim como as dificuldades acrescidas nos fluxos do Mercado Comum.

O evento mais recente que evidência a vulnerabilidade da UE é a atual crise sanitária (COVID-19). Segundo Angela Merkel, trata-se da maior crise que a Europa enfrenta desde a 2º Grande Guerra. Pessoalmente, acredito que este é o período que mais se adequa a recorrer aos instrumentos mencionados nos tratados europeus, onde situações extraordinárias exigem o recurso a soluções como a emissão de dívida, por se tratar o choque exógeno e inesperado com consequências transversais a todos os países.

Contudo, mais uma vez, a primeira reação de alguns países não foi a mais solidária. A título de exemplo, na reunião do Conselho Europeu de março deste ano quatro nações europeias demonstraram o seu desagrado com proposta de oito países, um deles Portugal, que proponham a criação de EUROBONDS (emissão de dívida). As declarações do ministro das finanças holandês, Wopke Hoekstra, foram as mais polémicas e poderiam ter resultado num “desastre diplomático” quando este questionou a viabilidade de socorrer economicamente países como a Espanha. Tais atitudes salientam a fragilidade do espírito de entreajuda existente na UE.

Apesar de todas as polémicas existentes em torno das medidas que a UE deve tomar para fazer frente a esta crise, a emissão de dívida foi acordada entre os 27 países e a sua aprovação oficial está em curso. Considero que esta política, de toda a Europa obter injeções de capital de forma mais acessível para nações mais pobres, é o exemplo máximo da consolidação e de solidariedade europeia.

Outras possíveis medidas que creio ajudarem a fortalecer a UE idealizada em 1957 são: a criação uma política fiscal única de forma (há que equilibrar a concorrência entre diferentes empresas de diferentes países) e a criação de um exército único, que impossibilitaria conflitos internos e permitiria unificar os territórios.

 

Marta Gomes Ribeiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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