A
pandemia de COVID-19 trouxe mudanças significativas ao mundo que havíamos conhecido
outrora. Para além das milhares de mortes e milhões de contágios, este vírus
desacelerou o mundo inteiro e confinou grande parte da população mundial, o que,
consequentemente, se refletiu de forma bastante positiva no ambiente. A verdade
é que muito se especula sobre esta nova realidade e quais vão ser os efeitos
positivos e negativos no futuro. Milhões de pessoas acreditam que este vírus
pode ser o ponto de viragem ao nível ambiental, ou seja, uma espécie de mal
necessário. Mas afinal, a pergunta que não se quer calar é: como estará o mundo
pós pandemia?
Muito
se tem especulado sobre o milagre para o ambiente que o vírus tem sido mas,
analisando bem, será que é assim tão linear? Em primeiro lugar, ninguém se pode
esquecer da produção em massa de equipamento a que este surto obrigou. Estamos
a falar de equipamento que foi produzido de forma urgente e, portanto,
desmedida e que é em grande parte feito de materiais como plástico ou acrílico
ou equipamento descartável. Certamente que esta produção terá consequências
ambientais num futuro. Para além disso, embora, neste momento, efetivamente os
rios estejam mais limpos, os animais estejam a regressar às cidades e a emissão
de dióxido de carbono seja menor, entre outros, não é provável que esta mudança
seja duradoura ou sustentável.
Por
muito que realmente quiséssemos que os canais de Veneza continuassem limpos e
cheios de cisnes, é muito provável que mal a atividade económica da área reabra
os canais fiquem sujos de novo e os cisnes desapareçam. No que toca às emissões
de dióxido de carbono (CO2), temos a grande probabilidade de que,
quando a economia regressar ao normal, se observe um aumento exponencial na
produção das empresas, numa tentativa de compensar o tempo que estiveram paradas.
Se aliarmos isto tudo ao facto do petróleo ter atingido preços historicamente
baixos e, em contrapartida, as principais utilizadores de fontes de energias
renováveis (Tesla à cabeça) estarem a ter quedas abismais no mercado
financeiro, percebemos que este aumento de produção está a ser alimentado por
energia petrolífera e não por outras formas menos poluentes.
É
importante também relembrar que fenómenos como o aquecimento global não vão
desaparecer. Olhando para acontecimentos históricos passados e seguindo esta
mesma linha de raciocínio, sabemos que uma crise económica grave, como a que
certamente surgirá após este surto, levará a outras preocupações e certamente
arrastará a preocupação ambiental para segundo plano. Apesar de todos estes
fatores, é certo que também estão presentes melhorias e é preciso preservá-las,
mas sempre estando consciente que provavelmente pouco irá mudar.
Em
suma, o milagre que muitos pensam que o Coronavírus está a ser para o ambiente,
não passa de pura especulação. Está a trazer, sim, melhorias para o ambiente no
curto prazo. No entanto, pensar que o fará de forma efetiva e no longo prazo
não passa de uma miragem.
João Manuel Assis Miranda
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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