O conceito de Cidadania tem, ao longo
dos tempos, vindo a sofrer alterações na forma como é explanado pela população,
isto é, pelos cidadãos. É inequívoco que, não existindo verdades universais e,
desse modo, (praticamente) tudo pode ser refutável, existem vários modelos de
cidadania, bem como as perspetivas que a sustentam.
Numa primeira abordagem, é pertinente
diferir um cidadão de um súbdito e, essencialmente, caraterizar o papel de cada
um. Enquanto os súbditos carecem de direitos, sendo-lhes conferidos apenas
deveres, sobretudo o da subserviência, um cidadão goza de direitos e deveres,
de igual modo. Aqui é necessária uma alusão à democracia como fonte primordial
de cidadania.
Uma sociedade democrática, neste caso,
estará tecnicamente mais bem preparada para lidar com uma emergência e que
exija uma rápida resposta. Contudo, aplicando este princípio ao surto da
Covid-19, até que ponto o “excesso de liberdades” e direitos dos cidadãos pode
condicionar a ação dos Estados na defesa do interesse global, neste caso
concreto, o combate a uma pandemia?
A nova estirpe do coronavírus
(SARS-CoV-2) veio instaurar um novo paradigma na liberdade de circulação de
bens e pessoas. Somos realmente livres ou o facto de eu colocar a própria
liberdade em causa já faz de mim livre?
Analisando este novo vírus, que tanto
tem condicionado a nossa forma de viver em sociedade, percebemos, numa primeira
instância, que esta doença se assemelha a tantas outras com as quais já
convivemos no nosso quotidiano desde o dia em que nascemos. Aliás, sem
conhecimento de causa e numa fase inicial, foram várias as comparações desta
nova doença com um simples resfriado, uma gripe ou, em casos mais graves, uma
pneumonia.
A passagem deste surto trouxe (a nós
portugueses) uma nova realidade: a do Estado de Emergência. Este mecanismo
(proposto pelo chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, e aprovado pela
Assembleia da República) que, como o próprio nome assim o indica, reflete um
estado de preocupação agravado e de ameaça perante uma situação caótica, foi,
pela primeira vez, acionado nos 46 anos da nossa democracia. Para os jovens
tratou-se, em alguns casos, de um choque de realidade; já para os mais idosos,
uma espécie de regresso ao passado.
Ainda assim, e novamente interligando o
conceito de cidadania com a ideologia democrática, foi interessante analisar a
postura governativa do nosso parlamento, nomeadamente da terceira força mais
“poderosa” da nossa democracia, o primeiro-ministro, António Costa. O chefe do
governo português classificou o Estado de Emergência como uma medida
responsável, porém, que jamais poderia funcionar como suspensão da democracia,
e atribuiu às forças de segurança um papel pedagógico assente nos seus deveres,
sem nunca descurar os direitos do cidadão, à exceção do direito de resistência
por se tratar de uma situação que requer cooperação global e, neste caso,
existir uma necessidade abrupta de a impor perante os que, não sendo capazes de
respeitar a liberdade do outro, terão de responder por tal ato irrefletido e
inconsciente.
Caminhamos, a passos largos, e fruto de
uma liberdade irresponsável, para um modelo de cidadania “semidemocrático” e no
qual o Estado poderá ter de intervir, ainda que de forma pedagógica, no
comportamento dos indivíduos.
Esta é a primeira pandemia em tempos de
redes sociais e é estranho como, de repente, aprendemos a conviver no mundo
virtual com opiniões que, partindo do livre arbítrio das pessoas que as emitem,
não deixam de ser perigosas. Subitamente, no Facebook, Instagram, Twitter e/ou
outras redes sociais percebemos que existem especialistas de todo o tipo de
matérias: os “reis das teorias da conspiração” e os “ministros da especialidade
pandémica”. E não existindo donos de uma única verdade universal, creio que
cada cidadão deva cingir-se à sua área de estudos/profissionalização, sob pena
de viver toda uma vida em negação e induzir em erro os que fazem parte do seu
dia-a-dia.
Aprendemos a tratar o conceito de
cidadania como um direito, mas, com a constante evolução da sociedade, vamos
entendendo cada vez melhor a sua nova conceção: a de uma cidadania responsável!
Tudo tem um propósito e o novo coronavírus veio demonstrar que é possível viver sem futebol, mas jamais sem médicos. Mostrou-nos ainda que investir na ciência é muito mais importante que testar um novo míssil, mas, mais que tudo, trouxe de volta o valor da vida. E, alheios a qualquer nacionalidade, etnia, classe social ou habilitações literárias, é importante cuidarmos de nós, olharmos uns pelos outros e acreditar que tudo vai ficar bem!
Diogo Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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