Segundo o Eurostat, em média, 45,5% dos jovens-adultos portugueses (de 25 a 34 anos) vivia em casa dos pais, em 2018 - um número que supera a média da UE, de 30,5%. Mais se sabe que, em 2020, a idade média em que ocorre a saída de casa fixa-se aos 29 anos em Portugal e 26,2 anos na UE, justificada pela dificuldade de inserção no mercado de trabalho, preços da habitação e, de alguma forma, motivações culturais diferentes.
Atualmente,
verifica-se uma dificuldade de integração dos jovens no mercado de trabalho e a
existência de condições de trabalho precárias, como é o caso de contratos a
prazo (temporários), trabalho a recibos verdes, estágios não remunerados e períodos
experimentais de 180 dias disponíveis para quem está a entrar pela primeira vez
no mercado de trabalho. Neste caso, não se concretizam os contratos, enviando
os jovens para o desemprego, aquando do término deste período, para dar lugar a
outros novos estagiários, e assim em diante. Mais facilmente despedidos, os
jovens sujeitam-se a depender da conjuntura do mercado de trabalho português.
Deste modo, a instabilidade no emprego provoca situações de fragilidade que não permitem aos jovens fazer face às despesas e aumentar o seu nível de poupança, o que contribui para a permanência dos jovens em casa dos pais. De acordo com o PORDATA, em 2019, observou-se o aumento da taxa de desemprego da população jovem licenciada para 5,3%, o que demonstra que nem sempre o investimento na educação superior assegura o rendimento. Este subaproveitamento de habilitações em nada contribui para a criação de riqueza e competitividade do país e, principalmente, para o bem-estar dos jovens.
Com a pandemia, um em cada seis jovens perdeu o seu emprego, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e de facto, em Portugal, um em quatro jovens está sem emprego, de acordo com o INE.
Conjugando a crise financeira de 2010-2014 e a atual crise socioeconómica provocada pelo Corona Vírus, as desvantagens sentidas estão a acentuar-se cada vez mais: além do desemprego jovem, os preços praticados atualmente no mercado de habitação são incomportáveis.
A Century21 realizou um estudo em que revelou que 40% dos jovens vive com os pais e 55,7% dependem financeiramente dos mesmos. No entanto, revela-se aqui que 80% dos jovens portugueses não estão satisfeitos na sua habitação atual, o que "desmistifica uma ideia preconcebida sobre esta geração, de que é acomodada ao conforto da casa dos pais". Assim, pode-se inferir que os valores de mercado de habitação e as condições precárias de trabalho debilitam a maioria da franja jovem-adulta portuguesa, quer estes vivam com os pais ou situação de partilha de casa, como muitas vezes acontece.
Apesar de existirem programas da iniciativa pública, como Porta 65, que apoiam a população jovem, estes revelam-se desadequadas à realidade portuguesa e insuficientes para a dimensão do problema. Deste modo, acredito que seja necessário a criação de programas de apoio mais ajustados ao público jovem e um mercado de arrendamento com preços mais acessíveis, em que a taxa de esforço seja menor.
Além disso, considero que a concentração de população e emprego nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto agravam este problema. Como se verifica no gráfico abaixo, os valores mais caros de arrendamento concentram-se nas duas grandes áreas metropolitanas. Em vez disso, a aposta deve passar pelo desenvolvimento das cidades médias portuguesas, como Aveiro, Braga, Coimbra e Viseu, com potencial para atrair pessoas e investimento empresarial, mas com um mercado habitacional mais acessível para os jovens e melhor qualidade de vida. O crescimento das mesmas irá conduzir naturalmente para o desenvolvimento das áreas adjacentes (cidades mais pequenas e áreas rurais, com as quais estabelecem relações).
Fonte: INEConsidero também que seria importante dar incentivos às empresas para a criação de emprego jovem, uma vez que persiste uma onda de emigração atual entre recém-licenciados, à procura de melhores condições de vida. É necessário que o investimento feito em educação tenha reflexo no mercado de trabalho e, consequentemente, na competitividade económica portuguesa, evitando que bons profissionais jovens saiam do país
Na minha opinião, é lamentável a inexistência de medidas que apoiem os jovens portugueses, seja na integração no mercado de trabalho, seja no mercado de habitação, conduzindo os jovens a situações de grande fragilidade. Portugal necessita de inverter a tendência de envelhecimento populacional e de atrair fontes de desenvolvimento e inovação, pelo que se considera ainda mais urgente o apoio à população jovem.
Ana Luísa Bento
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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