Apesar de parecer que o tempo anda mais devagar em tempos de pandemia, a verdade é que para os milhares de famílias por Portugal e Europa fora a vida não pára e as necessidades básicas e individuais mantém-se. Ainda antes da situação pandémica em que vivemos, o mercado imobiliário estava num período de grande inflação, face a anos anteriores. Sendo assim, o que define a procura de casas nestes tempos?
É indiscutível a marca
que o persistente “bicho” deixa em todos os setores da economia de todos os
países, por isso, as necessidades e preferências dos agentes económicos mudaram
e outros fatores, como o teletrabalho obrigatório e o convívio familiar,
ganharam particular destaque junto dos mesmos. Logo, seria de prever que as
habitações com uma certa proximidade dos centros populacionais (onde os postos
de trabalho são presumivelmente melhores e em maior número) e com amplos espaços
interiores e exteriores, assumissem uma tendência de relevo neste mercado –
nomeadamente, a procura desta tipologia de habitação teve um aumento de cerca
de 60%.
Mas e os preços? É também
verdade que este é um dos principais determinantes da procura de qualquer bem
ou serviço, portanto será sempre pertinente estabelecer as nossas opções e
prioridades, enquanto consumidores, tendo em conta o seu preço. Relativamente à
habitação, como relata um artigo do jornal Expresso, os preços mantiveram-se
estáveis, apesar da economia ter estado praticamente parada por alguns meses.
Se olharmos a números, a variação mínima, ainda que residual, atingida este ano
registou-se em julho (-0,2%). Em termos homólogos, a variação foi de 12,2%.
É então certo dizer que o
mercado da habitação tem persistentemente contrariado as previsões de queda,
aliás, como descreve o diretor da Confidencial Imobiliário, Ricardo Guimarães, mostrando-se
nesse âmbito “lento e resiliente”. Atualmente, o intervalo médio de preços mais
procurado para compra está entre os 115.000 e os 150.000 euros. Já para
arrendamento o valor varia entre os 450 e 600 euros. De acordo com as agências
imobiliárias, as oscilações de preços sentiram-se no arrendamento. Já na compra
de habitação os preços mantiveram-se, face aos registados em períodos
anteriores.
Como se comporta o
cliente pós-covid é outra questão que os agentes imobiliários terão de
responder, agora, mais do que nunca, virtualmente e através de soluções
tecnológicas que não impeçam a procura. Nos grandes centros urbanos, é provável
que ocorra um ajustamento de preços por força de uma mudança no perfil de
preferências, nomeadamente, em busca de “mais espaço”, e, consequentemente, de
uma descida na procura por apartamentos. Contudo, em última instância, o que
definirá sempre os preços no mercado será a lei da oferta e da procura.
Nas crises anteriores,
por exemplo, em 2007 e 2011, o mercado imobiliário verificou-se como um dos
principais responsáveis pela recuperação económica e, por certo, desta vez e,
dada a globalização desta crise, o tempo será crucial para a recuperação, até
nos níveis de investimento estrangeiro no mercado imobiliário em Portugal, que
sofreu uma grande diminuição.
Portanto, numa altura de
grande incerteza acumulada e de mínimos inéditos do PIB devido à queda do
turismo, mas não só, a maioria dos consultores imobiliários projeta um
“arrefecimento” deste mercado que, sendo “lento e resiliente”, não se apresenta
extremamente sensível a variações no ciclo económico, pelo contrário. Para os
próximos meses ou até mais, dependendo da evolução da situação pandémica,
antecipam-se três grandes dinâmicas, segundo o Jornal Económico: ajustamento
gradual dos preços de vendas à nova movimentação do mercado; o reforço da
relevância das tecnologias ao serviço de vendedor/consultor e de comprador; e,
ainda, a necessidade de encontrar novas estratégias para comercializar imóveis.
Para finalizar, é seguro
afirmar, na minha opinião, que dentro dos inúmeros setores de atividade de uma
economia, o setor imobiliário não sairá tão prejudicado com a atual situação,
considerando a urgência e preponderância que a população atribui ao seu lar,
espaço de convívio e privacidade, ainda mais acentuadas com o confinamento.
Acresce a isto o facto de o apoio dado pelas instituições de crédito ter sido
importante para a manutenção de rendimentos, nomeadamente, através de
moratórias ao crédito. A conjuntura anterior à pandemia era bastante favorável
a Portugal e, a meu ver, um mercado mais preparado e virado para a oferta em
vias digitais permitirá que o mesmo se mantenha uma vez mais de “pé”.
Gabriel Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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