É sabido que a pandemia afetou gravemente a economia. Entre as suas inúmeras vítimas, destaca-se o setor da restauração, que reportou quebras de vendas superiores a 50% desde a chegada do Covid-19 a Portugal, segundo a Associação de Marcas de Retalho e Restauração. Das empresas inquiridas, mais de 70% contraiu dívidas na tentativa de cobrir os seus prejuízos e 60% acredita mesmo que será necessário recorrer a um plano de proteção de credores já em 2021.
O
Governo, reconhecendo o setor da restauração como um dos mais afetados pela
pandemia, tem procurado implementar medidas especificamente dirigidas a essa
área e, nesse sentido, aprovou apoios correspondentes a mais de 1000 M€, dos
quais mais de 500 M€ a fundo perdido para a restauração e similares. Numa
primeira fase de resposta, o governo implementou medidas de manutenção do
emprego (Lay-off simplificado, apoio
à Retoma Progressiva e Isenção da TSU) no valor de 286 M€ a fundo perdido e 580
M€ em Linhas de crédito a empresas no setor.
Contudo,
como afirmado pelo primeiro ministro António Costa, a situação é mais grave e
mais crítica do que a que vivemos na primeira fase da pandemia. Tal resulta evidente
pelo agravamento das medidas de confinamento que prejudicaram gravemente o
setor da restauração, nomeadamente a determinação do encerramento das 13h de
sábado às 8h de domingo e das 13h de domingo às 8h de segunda de todos os
estabelecimentos comerciais ou de restauração.
Assim,
para fazer face a este agravamento da pandemia, o Governo implementou uma
segunda fase de resposta, destacando-se o novo programa Apoiar.PT, que se
dirige às micro e pequenas empresas do setor da restauração que tenham
verificado uma quebra de faturação de 25%, detetada no sistema e-fatura, tendo assim direito a uma
compensação a fundo perdido de 20% dessa quebra, com limites de 7500 euros para
microempresas e 40 000 euros para pequenas empresas. Foi também
disponibilizada uma verba adicional com o objetivo de compensar as perdas
sofridas durante os últimos dois fins de semana de recolher obrigatório, através
da comparação com a faturação dos fins de semana de 2020, sendo a compensação
de 20% e acumulável com o programa Apoiar.PT. Mas serão estes apoios suficientes
para fazer face às dificuldades do setor da restauração?
A
meu ver sim, primeiramente, devo salientar que nem todo o setor foi afetado
igualmente, podendo distinguir-se dois segmentos: restaurantes fortemente
dependentes do turismo e da chamada população de almoço de trabalho; e
restaurantes que não perderam o contacto com os seus clientes. O primeiro
segmento mostra-se com mais dificuldades uma vez que viu perdidos praticamente
todos os seus clientes com as quebras no turismo e com grande parte da
população em teletrabalho. Já no caso do segundo segmento, as pessoas que se
deslocavam habitualmente as estes locais para fazer refeições continuam a fazê-lo
quando permitido e, portanto, estes restaurantes afirmam que estão por isso a
“ultrapassar a situação”.
Assim,
penso que o setor não deve esperar que os apoios sejam igualmente atribuídos
uma vez que, claramente, houve restaurantes que foram mais afetados que outros,
devendo sim estes ser os que inicialmente recebem apoios mais elevados por
parte do Governo para evitar o seu encerramento. Além disso, para compensar as
quebras de 1860 M€ na procura nos primeiros 9 meses já se desenvolveram apoios
que ascendem aos 1103 M€, o que me parece um valor considerável que o Governo
foi capaz de disponibilizar num curto espaço de tempo e dado que só no período
antes da pandemia é que o país se encontrava, lentamente, a recuperar a sua
situação económica.
Contudo,
concordo sim com o descontentamento do setor da restauração relativamente às
restrições de circulação durante o fim de semana uma vez que o horário coincide
com o período em que os restaurantes servem um maior número de refeições, e a
diminuição do horário de funcionamento de lojas e restaurantes apenas contribui
para maiores concentrações e aglomerados no curto espaço de tempo em que estão
abertos.
Joana Mendonça Dias
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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