É impossível negar que a pandemia provocada pelo coronavírus representa um desafio sem igual na vida da população mundial. Tudo mudou com a chegada deste inimigo invisível, e a acompanhar essa mudança deve estar a nossa relação com o setor da saúde.
O Serviço Nacional de
Saúde (SNS) constitui um sistema através do qual o Estado Português assegura o
direito à saúde a todos os cidadãos do país, independentemente
da condição económica e social de quem dele beneficia.
Em todo o país se
multiplicam relatos de falhas neste sistema. No entanto, perante esta situação,
continua a verificar-se a degradação dos edifícios e equipamentos, a emigração
de pessoas especializadas na área da saúde não diminui, as listas de espera
aumentam e a despesa do Estado em saúde, em percentagem do PIB, tem vindo a
diminuir desde 2012, onde atingiu um pico de 6,2%. Em 2018, situou-se nos 4,3%.
Contudo, na realidade, o sistema de saúde português fica sempre bastante bem
posicionado quando comparado com outros sistemas de saúde.
Suponho que todos prevemos
que, devido à situação pandémica que o mundo vive, iremos observar o maior
acréscimo de despesa no SNS de que há memória. O orçamento da saúde vai crescer mais de 700 milhões face à estimativa de execução de 2020, de acordo com o
relatório do Orçamento do Estado para 2021. O reforço orçamental,
positivo e necessário, tem como objetivo
melhorar a capacidade de resposta do SNS, reforçar este sistema e
controlar a pandemia em Portugal.
No entanto, é preciso
evidenciar que o facto de se gastar mais em saúde nem sempre repercute em melhores
resultados obtidos (como mencionado pela OCDE). É necessário ter a avidez de
fazer uma aposta estratégica de desenvolvimento neste setor e, tendo em conta a
situação pandémica, ainda mais. Mas mais
dinheiro não trará mais proveito para a população se for desperdiçado, nem
trará uma solução miraculosa para todos os problemas do SNS. É fundamental
reconhecer os problemas e as suas causas para partir para uma solução eficaz.
Considero importantíssima a organização do sistema, a gestão de serviços e a
capacidade dos líderes serem, efetivamente, bons líderes. E nisto não há
orçamento que ajude!
No presente ano, o
governo solicitou um orçamento suplementar para fazer face à pandemia e teve-o,
mas aproximamo-nos do final do ano e a pandemia ainda não está controlada,
sendo que exige cada vez mais recursos ao SNS. Existem várias consultas, exames
e rastreios em atraso. Há pessoas a
necessitar de cuidados de saúde e a não ter acesso a eles por falta de resposta
do sistema devido à sobrecarga do mesmo causada pela pandemia. A saúde é um
direito humano fundamental e não devem existir desigualdades nem dificuldades no
seu acesso.
No entanto, considero que
a oportunidade para melhorar o SNS está nas nossas mãos. Possuímos recursos
humanos qualificados, que são cruciais. Posto isto, apesar de considerar que o
SNS necessita efetivamente de um grande investimento, não pode a população Portuguesa
ajudar na manutenção da sua sustentabilidade, ainda mais, nos dias de hoje?
Cabe-nos a nós acatar as normais impostas, cumpri-las com rigor e tentar
impedir a progressão deste vírus.
Descontextualizando do
ambiente pandémico, o envelhecimento da população e as novas tecnologias
favorecem o aumento das despesas no setor da saúde. Para tentar contrariar esta
evidência, considero que investimentos nos cuidados preventivos vão permitir
que as pessoas vivam mais tempo, mas saudáveis durante a maior parte da sua
vida, o que leva a poupanças imediatas para o SNS. Eventualmente, prevenir
determinadas doenças é menos dispendioso que os possíveis gastos futuros para o
seu tratamento.
Acredito ser necessário retirar
a saúde dos hospitais. Consciencializar a população, investir na informação das
crianças quanto a hábitos de vida saudáveis para, desta forma, reduzir o
potencial de um dia serem doentes e, assim, fomentar a diminuição da despesa
neste setor.
Para concluir, devemos
valorizar e preservar o nosso SNS, assim como os seus profissionais, mas tendo
em consideração que é necessário um investimento acrescido no setor da saúde,
mesmo no pós-pandemia. Chegamos a um ponto em que dizer “vai ficar tudo bem” já
não é suficiente e precisamos de ações concretas para providenciar uma melhor
qualidade de vida ao povo lusitano e restabelecer a confiança dos mesmos no
nosso SNS.
Ana Carolina Ribeiro Abreu
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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