A economia portuguesa registava
aumentos do produto e do nível de vida a convergir com os outros países
europeus. No entanto, a partir do século XXI, o produto começou a estagnar e o
seu desempenho em relação ao nível do poder de compra começou também a
desapontar. Gerou-se uma crise de dívida e foi necessário recorrer a ajuda
externa pela terceira vez na história de Portugal. O objetivo era corrigir
desequilíbrios económicos e resolver alguns problemas estruturais existentes na
economia portuguesa.
Vários autores
debruçaram-se sobre as causas deste abrandamento económico. No caso de
inadequação de políticas económicas adotadas após a adesão à UEM, Blanchard
(2017) refere que a política orçamental pós-cíclica, juntamente com o
crescimento excessivo dos salários nominais, levou ao aumento dos custos
unitários de trabalho. Outros autores referem a fraca qualidade dos fatores de
produção, nomeadamente do capital humano.
No final do primeiro
semestre deste ano, 2020, o endividamento da economia portuguesa atingiu 735,4
mil milhões de euros, em junho, o que se verifica uma descida comparada ao
máximo atingido em maio, de 740 mil milhões de euros. No entanto, este
endividamento agravou-se em percentagem do PIB de 340,8%, em março, para 360%.
Setor Financeiro e Endividamento Privado
A introdução do euro
contribuiu para aumentar a riqueza líquida dos agentes económicos na medida que
implicou uma transição para taxas de juro menos voláteis e mais baixas. Isto
levou, em parte, ao aumento do endividamento do setor privado. A adesão à CEE
e, posteriormente, à UEM dinamizou o setor bancário e este fator, juntamente
com a integração europeia e com condições macroeconómicas, facilitou o acesso
ao crédito por parte do setor privado, o que alterou profundamente as decisões
de poupança e endividamento das famílias.
Despesas do Estado e Endividamento Externo
As despesas com
prestações sociais têm continuado a crescer e Reis (2013) conclui que Portugal
tem dificuldade em controlar as despesas primárias públicas devido a decisões
erradas de política orçamental e/ou à falta de políticas direcionadas para o
crescimento económico estrutural. As despesas primárias têm aumentado devido
sobretudo ao aumento do endividamento externo. A receita total que o Estado
consegue arrecadar já não é suficiente face às despesas.
Desafios e Futuro
A recuperação económica
após uma crise financeira, com o grau elevado de endividamento de Portugal,
tende a ser relativamente lenta. É necessário manter um postura e compromisso
firme. A adesão aos compromissos assumidos no âmbito do Pacto de Estabilidade e
do Tratado Orçamental é imperativo. O cumprimento estrito destes compromissos
orçamentais assegura a sustentabilidade da dívida pública e revelam-se uma
política adequada para a economia portuguesa numa perspetiva intemporal. As políticas públicas deverão focar-se em
incentivos à inovação, à mobilidade de fatores e ao investimento em capital
humano e físico.
Todo este processo irá
determinar as possibilidades de Portugal voltar a apresentar convergência real
com a zona euro, e há que ter em conta que a ausência desta perspetiva
intemporal esteve na base de várias situações de crise económica portuguesa
observadas nas últimas décadas.
Daniela
Antunes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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