O
mundo está cada vez mais dependente da tecnologia, onde a criação de novos
mecanismos surge da necessidade de enfrentar falhas e melhorar a capacidade de
resposta aos mais variados desafios. Daí levantam-se várias questões quanto
àquilo que nos espera no futuro. Um dos temas que mais entra nesta discussão é
o desemprego: serão os trabalhadores substituídos por máquinas?
Na última década, o volume de vendas de robôs industriais no
mundo triplicou, atingindo 400.000 unidades em 2018, com o setor automóvel
responsável por um terço da procura, sendo o Japão, China, Estados Unidos,
Coreia do Sul e Alemanha os principais fornecedores do mercado mundial. A
crescente automatização da indústria conduz inevitavelmente a alterações no mercado
de trabalho, tanto no desaparecimento de profissões como ao nível da formação
dos trabalhadores. Para um empregador pode ser mais atrativo
ter uma máquina, que pode produzir com maior velocidade e menor custo, e não
cometer erros humanos.
Este
fenómeno foi há muito previsto por John Maynard Keynes, em 1930: “Estamos a ser
atingidos por uma nova doença da qual alguns leitores podem não ter ouvido o
nome, mas da qual ouvirão muito nos próximos anos - o desemprego tecnológico”. Leontief
(1952) dizia também que, com a cada vez maior substituição dos trabalhadores
por máquinas, não haveria espaço nas indústrias para empregar todos os que
quisessem trabalhar. Mas será a automação responsável por causar desemprego?
Acemoglu
e Restrepo (2017) analisaram o impacte dos robôs industriais no mercado de
trabalho entre 1990 e 2007, evidenciando um efeito negativo em todas as
profissões, exceto cargos de gestão, e que este efeito diminui à medida que o
nível educacional do indivíduo aumenta, não havendo impacte em profissionais
com pós-graduações. Assim, a educação terá um papel cada vez mais importante
daqui para a frente. Os autores admitem que o uso de robôs é ainda limitado e,
por isso, causou a perda de um número limitado de empregos, mas com o aumento
da sua implementação previsto para o futuro empregos e salários poderão ser afetados.
Esta
observação pode ser questionada no sentido em que se evidenciam tendências de
aumento das especializações dos trabalhadores ocupando cargos mais altos e de
maior rendimento. Além do mais, não poderão estar os jovens a formar carreiras
em áreas em que a robotização não consegue (para já) chegar? Se um cargo está a
tornar-se desnecessário, já não vão haver interessados a dedicarem-se a essa
área. Pode ainda considerar-se uma modificação do modo de empregar a mão-de-obra
dispensada noutras áreas onde a tecnologia menos intervém. Assim, as pessoas
vão-se adaptando às modificações do mercado de trabalho, ao mesmo tempo que a nova
introdução de tecnologia melhora a produtividade e competitividade das
indústrias, permitindo a expansão do emprego.
Guy Ryder, o diretor-geral da Organização
Internacional do Trabalho, acredita que novas tecnologias podem criar empregos,
mas também roubar alguns, e que esta é uma realidade que teremos que enfrentar
à medida que vamos entrando na chamada 4ª revolução industrial, pois, olhando
para a história, as três primeiras revoluções industrias tiveram um “período de
turbulência e ajuste”. Depois, saímo-nos melhor do que quando começamos, com
mais empregos, de melhor qualidade e com padrões de vida mais elevados. Porque
não encarar esta mudança como uma libertação dos humanos? Permitir a redução
dos horários de trabalho; menos tarefas “chatas”. Seria inverter a condição do
“viver para trabalhar”
De
facto, o tempo de trabalho diminuiu substancialmente no último século e meio.
Segundo Walterskirchen (2016), as horas anuais de trabalho na Alemanha e França
diminuíram em mais de 50% entre 1870 e 2000, no Reino Unido essa diminuição foi
de 37% e nos EUA de 27%. As décadas que se seguiram ao fim da II Guerra Mundial
foram também marcadas por uma diminuição significativa das horas de trabalho na
Europa.
Daqui
emerge outra questão: serão estes efeitos iguais em todo o mundo? Pode dizer-se que o avanço tecnológico está para o
desenvolvimento do país assim como o desenvolvimento do país esta para o avanço
tecnológico. Ou seja, países que enfrentam um rápido envelhecimento populacional,
como a maioria dos países desenvolvidos, com cada vez menos jovens para trabalhar,
necessitam de recorrer à tecnologia para compensar esse défice de força
laboral. Já nos países em desenvolvimento, há uma tendência de rápido
crescimento populacional e uma grande procura de trabalho jovem para
desempenhar tarefas mais manuais e fisicamente exigentes. Aí, o progresso
tecnológico pode não ser sustentável, pois as populações não têm condições
financeiras e sociais para se adaptarem às alterações do mercado de trabalho.
Assim, quando utilizada de forma inteligente, a tecnologia
pode proporcionar crescimento económico e melhores condições de vida das
populações, aproveitando essa vantagem para transformar as comunidades que mais
necessitam, e não apenas dar ainda mais lucro aos mais ricos.
Cláudia Ribeiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário