Sendo
o Turismo um dos setores económicos com maior atividade exportadora no nosso
país, com décadas de existência e um crescimento contínuo, é aquele que está a
sofrer um maior impacte negativo na sua atividade devido à pandemia Covid-19.
De
acordo com os dados fornecidos pelo Turismo de Portugal (TP), este setor foi,
em 2019, responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das
exportações nacionais. Consequentemente,
verificou-se no setor um aumento de emprego, com um peso de 6,9% na
economia nacional, e as receitas registaram um contributo de 8,7% para o
Produto Interno Bruto (PIB). Por estas razões, o Turismo tem sido considerado o
“petróleo” nacional.
O surgimento de uma pandemia à escala global, em inícios de
2020, obrigou ao encerramento de fronteiras e a confinamentos
regionais e nacionais. Esta circunstância provocou uma imobilidade humana sem
precedentes e uma crise social e económica ainda
por contabilizar, impactando de forma significativa a situação económica e
financeira do setor. As receitas turísticas tiveram um impacte negativo
superior a 50% e, segundo o Banco de Portugal, o défice orçamental, em
2020, deverá chegar aos 7% do PIB e a dívida pública aos 134,4%.
Entre janeiro e maio, as viagens de turismo tiveram um impacte negativo de 320 mil milhões de dólares, valor três vezes superior ao registado na Grande Recessão de 2007-2009, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).
Segundo as mais recentes estatísticas, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), uma redução de 25% na atividade turística levará à redução de 2,9% do PIB anual em Portugal. De acordo com a OMT, estiveram em risco neste setor 120 milhões de empregos.
Como se pode observar no gráfico abaixo, 38% das empresas deste setor mantiveram-se em funcionamento, 56% encerraram temporariamente e 6% encerraram definitivamente.
Apesar
do país continuar com as mesmas caraterísticas atrativas para o Turismo, como afirmou
o Primeiro-Ministro em entrevista à TVI no dia 21 de outubro, nos próximos
meses teremos a presença de fatores de grande imponderabilidade, uma vez que a
pandemia é mundial, impossibilitando o Governo de controlar todas as variáveis
relacionadas com o Turismo, designadamente o fluxo de turistas estrangeiros que
entram no país.
Querendo minimizar os impactes da redução
temporária dos níveis de procura na atividade turística, o TP delineou uma
estratégia assente em 3 pilares: Confiança, Esperança e Reinvenção. A criação do selo Clean & Safe,
que distingue empreendimentos turísticos,
empresas de animação turística e agências de viagem que asseguram o cumprimento
dos requisitos recomendados pela Direção Geral de Saúde (DGS), e a criação da
campanha Awareness, para promover o distanciamento social,
transformando a assinatura Can't Skip Portugal em Can’t Skip Hope,
são exemplos dessa estratégia. Considero que esta estratégia terá um impacte
positivo no turismo interno, pois as pessoas procuram segurança.
Consequentemente, há uma crescente valorização deste tipo de turismo e dos bens
e serviços nacionais, levando a uma retoma de atividades e a melhorias nas
balanças corrente e de pagamentos.
Para além das medidas que têm sido
aplicadas, de forma imediata, com o objetivo de minimizar, a curto prazo, os
impactes da pandemia, considero fundamental que, a médio prazo, exista uma
visão estratégica para o nosso país, na qual sejam introduzidas medidas macroestruturais
em todos os setores da sociedade. Querendo construir o futuro, o atual governo
nomeou António Costa e Silva, engenheiro e gestor de renome, para delinear um
plano de recuperação pós-pandemia, tendo sido elaborado o documento “A Visão
Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020 – 2030”,
dividido em 10 eixos: infraestruturas, com destaque para a ferrovia;
qualificação da população e transição digital; setor da saúde; o Estado social;
reindustrialização do país; reconversão industrial; transição energética;
coesão do território, agricultura e floresta; mobilidade e cultura, turismo
e comércio.
Para construir uma oferta competitiva neste setor, o turismo
convencional deverá alinhar-se aos turismos cultural, de natureza, de saúde, … É
importante que o Turismo se desenvolva em maior articulação com outros setores
da economia, evitando o recurso sistemático a mão-de-obra precária e
desqualificada.
Considero que, se houver uma política
concertada, em que todos os setores de atividade integrem as medidas previstas
nesta “Visão Estratégica”, teremos as condições necessárias para que possa
existir um crescimento global e sustentável, no qual o Turismo terá um papel
fundamental.
Parafraseando o Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira: “A minha perspetiva para o turismo a médio prazo é muito otimista”.
Inês de Morais
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário