Durante muito tempo, as questões que surgiram sobre a pobreza e a desigualdade, relativamente à distribuição dos rendimentos, foram completamente ignoradas pelas principais instituições financeiras. Porém, nos dias de hoje, estas mesmas adversidades têm assumido uma importância cada vez mais relevante, uma vez que a erradicação da pobreza se tornou numa das temáticas centrais da economia.
A
Comissão sobre Direitos Sociais, Económicos e Culturais das Nações Unidas, em
2001, definiu a pobreza como uma “condição humana caraterizada por privação
sustentada ou crónica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder
necessários para o gozo de um adequado padrão de vida e outros direitos civis,
culturais, económicos, políticos e sociais”, ou seja, de uma forma mais clara e
sucinta, a pobreza pode ser caraterizada por uma privação das condições
necessárias para que cada indivíduo possa ter uma vida digna. No entanto, é cada
vez mais frequente que este conceito se limite a uma dimensão meramente
monetária/financeira.
Em
todos os países, são utilizados dois métodos para medir a pobreza. Por um lado,
existe a pobreza absoluta, onde se estabelece um limiar de pobreza, isto é, uma
expressão monetária de um cabaz de bens e serviços considerado mínimo para que
um indivíduo/família viva com dignidade. Assim, qualquer pessoa/família que
esteja abaixo daquele nível de rendimento é considerada pobre. Por outro lado,
a pobreza relativa carateriza-se pela forma como se distribuem os rendimentos
na sociedade e, desta forma, define-se o limiar de pobreza. Portanto,
considera-se uma pessoa em risco de pobreza quando o seu rendimento é inferior
a 60% do rendimento mediano por adulto equivalente.
De
acordo com os dados oficiais publicados, o limiar da pobreza em Portugal tem
apresentado uma tendência contínua e significativa de crescimento, passando de
2602 euros, em 1994, para 6014 euros, em 2018. Desta forma, podemos concluir
que a mediana da distribuição dos rendimentos aumentou consideravelmente. Por
conseguinte, em 2018, todos os portugueses que tivessem um rendimento monetário
líquido anual por adulto equivalente inferior a 6014 euros, totalizando um
valor de 501 euros por mês, estava em risco de pobreza. Os dados afirmam ainda
que, em 2018, 17,2% da população estava em risco de pobreza. Esta taxa
representa o nível mais baixo desde 2003, o que exprime um desenvolvimento
bastante positivo no sentido de uma convergência com os resultados da União
Europeia.
É
de salientar que a taxa de risco de pobreza inclui todos os rendimentos de um
indivíduo, nomeadamente as prestações sociais, as pensões, os subsídios de
desemprego, o rendimento social de inserção, entre outros. Supondo que estas
transferências não existiam, a proporção de indivíduos em risco de pobreza
seria de 43,4%. Um dado bastante importante de referir é que a maior taxa de
risco de pobreza antes das transferências sociais por grupo etário verifica-se
na população com 65 ou mais anos, apresentando uma taxa de 88,8%. Após as
transferências sociais, o grupo etário mais afetado é a população com menos de
18 anos.
Segundo
um relatório realizado pelo Banco Mundial, a pandemia COVID-19 colocará, este
ano, mais 88 a 115 milhões de pessoas de todo o mundo no limiar de extrema
pobreza, com o total a chegar aos 150 milhões em 2021, tendo em conta a
severidade da contração económica. No mesmo documento está também destacado que
a pandemia, aliada aos conflitos e às alterações climáticas, colocarão o
objetivo de acabar com a pobreza em 2030 um feito difícil de alcançar.
É
evidente que, até 2019, a trajetória da pobreza é bastante positiva, devendo-se
principalmente à queda da taxa de desemprego, à recuperação económica do país e
ao crescimento inclusivo, isto é, ao crescimento que abrange todos os
indivíduos de forma a diminuir as desigualdades na distribuição dos rendimentos
e, consequentemente, atenuar a exclusão e fragmentação social. Todavia, como
todos sabemos, devido à crise sanitária que se instalou, ocorreu um grande
retrocesso nos resultados satisfatórios que se tinham verificado. A taxa de
desemprego aumentou drasticamente e a economia sofreu uma grande recessão,
originando um forte aumento do risco de pobreza. Porém, caso não existisse este
progresso positivo nos anos anteriores, a situação ter-se-ia agravado muito
mais.
Assim,
na minha opinião, o maior obstáculo à erradicação da pobreza é a existência de
desigualdades ao nível dos rendimentos, fundamentalmente motivadas pelas
desigualdades dentro dos países e entre países. Uma boa estratégia de reverter
toda esta situação seria garantir uma economia capaz de responder às
necessidades das pessoas e aplicar políticas públicas capazes de fazer uma
redistribuição da riqueza justa e igualitária. Desta forma, o combate à pobreza
mundial tem de ser uma prioridade para todos nós!
Ana Inês Jorge Gonçalves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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