No presente ano, 2020, a Comissão Europeia tem vindo a expor
a sua opinião face às previsões que mantém sobre a economia portuguesa, nunca
desviando a crise social e financeira que tem assombrado o país, mas com
algumas alterações entre julho e novembro. Uma previsão carateriza-se pelo ato
ou efeito de prever, ver com antecipação.
Se em julho as
previsões para o défice português se encontravam nos 9,8%, espera-se agora,
quatro meses depois, uma contração de 9,3%. Embora estes números demonstrem uma
visão mais pessimista do que o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças,
que defendem quedas de 8,1% e 8,5%, respetivamente, existem entidades que
concordam com as estimativas vindas de Bruxelas. São elas o Conselho das
Finanças Públicas (-9,3%), a OCDE (-9,4%) e o FMI (-10,0%).
No entanto, as
previsões feitas vão mais longe, envolvendo o défice, a dívida pública ou a
taxa de desemprego. Quanto às duas primeiras, a CE conjetura uma visão mais
descrente. É esperado pela mesma um saldo orçamental negativo de 7,3% do PIB,
em conformidade com o Governo Português, e uma dívida pública de 135,1% do PIB,
um pouco acima do valor projetado pelo Governo, de 134,8%. Já sobre a taxa de
desemprego, Bruxelas melhorou as suas previsões apresentando um valor de 8,0%
face aos 9,7% em maio.
É importante
referir que na sua análise sobre a economia portuguesa, a CE aponta para razões
como a queda do setor do turismo, um dos mais afetados pela crise pandémica. O
desmazelo gradual das medidas de distanciamento social requeridas com o
aparecimento do vírus COVID-19 por parte da sociedade durante a estação do
verão permitiram a recuperação de alguns setores, também eles bastante
afetados. Como é o caso do alojamento e da restauração, que mantêm, também, um
peso extremamente importante para o país. Ainda que o crescimento não seja
extraordinário e capaz de salvar uma contração da economia, foi notório. Em
contrapartida, as infeções de Outono quebram essa melhoria sentida, não havendo
projeções de recuperações “completas”, como Bruxelas aponta, pelo menos até
2022.
Se excluirmos
o impacte da terceira ativação do mecanismo de capital contingente do Novo
Banco (0,5% do PIB) e outras medidas “one-off”, o saldo das contas públicas
poderia atingir um valor mais simpático, como 6,75% do PIB ainda em 2020.
Numa opinião
pessoal, seria inevitável uma conjuntura menos pessimista. A crise pandémica
vivida trouxe ao país inúmeras consequências negativas, dificilmente
concertáveis nos próximos tempos. Ainda que se trate de uma crise social,
arrastou-se visivelmente numa crise financeira de enorme escala.
Antes do aparecimento do vírus,
Portugal teria superado, em larga medida, uma crise anterior, não descurando
que a economia portuguesa ainda dependia de um largo caminho para a sua
recuperação oficial, não só devido a problemas estruturais na sociedade como a
herança terrível que o país carregava. No entanto, será certo que o aparecimento
da COVID-19 terá destruído todos os sonhos que poderiam ser planeados. Atitudes
como a quarentena e medidas de restrição da circulação, ainda que fundamentais
para a saúde pública, arruinaram a economia. Assim sendo, é necessário pensar
no futuro com olhos no passado e no que pode vir a ser feito, sempre com a
visão e crença de que será possível reerguer no longo prazo os resultados pessimistas
que se verificam no presente!
Ana Barreto de Sousa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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