A economia noturna pode ser definida como o conjunto das atividades económicas desenvolvidas em horário noturno (das 20h até às 6h), tais como: bares, cafés, discotecas, restaurantes de comida rápida, espetáculos, concertos e eventos. A atividade noturna e a vida noturna, como um todo, são uma parte significativa da economia e antes da pandemia eram um dos setores que mais crescia no país, não só devido ao grande número de atividades que este setor engloba mas também devido à mudança do nosso estilo de vida, uma vez que as pessoas, e especialmente os jovens de hoje em dia, têm uma maior qualidade de vida e buscam mais atividades de lazer que lhes proporcionem prazer e que lhes permitam sair da monotonia e do stress do dia-a-dia, e grande parte dessas atividades estão concentradas em horário noturno.
Além disso, as atividades
noturnas estão ligadas cada vez ao turismo, uma vez que destinos como Lisboa e,
principalmente, o Algarve, onde as atividades de lazer têm um peso cada vez mais
importante e são associadas a caraterísticas normalmente relacionados com a
noite, como a diversão, alegria e aventura. Por outro lado, o desenvolvimento
de atividades noturnas tem dado “vida”, em especial, ao centro das cidades, que
muitas vezes apresentam pouco dinamismo e são espaços que, além da degradação
social, dado o facto de serem espaços na maioria habitados por pessoas com
menores rendimentos e minorias sociais, apresentam também a degradação física
de prédios e infraestruturas, o que contribuí para o declínio destas áreas.
Assim, o impacto que esta
crise está a ter nos negócios e atividades ligadas à noite não tem apenas
consequências para as atividades deste setor, como o desemprego e o
encerramento de diversos espaços, que em muitos casos não voltam a retomar
atividade, dada a incapacidade de manter custos associados a estarem encerrados
e devido à incerteza daquilo que seriam os meses após o fim do estado de
emergência e a falta de apoio do Estado. Também relevam a esse respeito as
perdas económicas no setor do turismo e a perda de dinamismo, como um todo, já
que muitos bares e discotecas, por exemplo, têm-se tornado mais empresariais e
representados por marcas, bem como o agravamento do processo de degradação de
espaços e do centro das cidades, já que não existe incentivo à reabilitação de
prédios e atribuição de novos usos para os mesmos. O setor noturno é também
importante pois faz parte da economia criativa e promove o cruzamento e
interação entre diferentes pessoas, como produtores culturais, residentes, estudantes
e turistas.
Com o decorrer dos meses
e consequente evolução da pandemia, a economia foi-se abrindo e voltando “ao
normal”, processo este que não tem sido nada fácil para as atividades e
negócios noturnos. As regras impostas, como a limitação de pessoas em espaços
como bares, discotecas, espetáculos, o uso obrigatório de máscara em espaços
fechados, o distanciamento social e a adoção de medida higiénicas, têm
produzido tensões enormes na contabilidade dos negócios, em especial daqueles
de menor dimensão e que não estão protegidos por fundos de investimento
imobiliário ou grupos empresariais do setor do lazer. A maioria do tecido dos
negócios noturnos não possui liquidez nem capacidade financeira para aguentar este
cenário por um grande período de tempo, pelo que alguns negócios que conseguem
seguir em frente e prosperar são obrigados a reinventar-se, como é o caso de
DJs e promotores de indústria do lazer noturno e artistas que reagiram com
rapidez e criaram toda uma rede de iniciativas de streaming, a partir das suas casas, garagens
ou clubes vazios. No caso português, o comediante Bruno Nogueira é um caso
notório: através das redes sociais conseguia juntar mais de 50 mil pessoas nos
seus diretos. Outro caso de adaptação é o caso de estabelecimentos noturnos que
têm prestado serviços de pastelaria de modo a conseguirem abrir portas e de
alguma forma a abater algumas das perdas que verificaram.
Concluindo, depois
daquilo que se constatou, penso que o próximo cenário pós-pandemia deveria
identificar a vida noturna e todos os negócios e espaços que esta engloba como
parte intrínseca das políticas autárquicas e nacionais, pois a noite constitui
um mecanismo de bem-estar sócio- emocional, construção de comunidade e inclusão
e vai ao encontro de uma das caraterísticas naturais do ser humano que é a
união e socialização. Após um período longo de confinamento e restrições, isso
constitui uma rede de segurança emocional que permite às pessoas seguir em
frente e começar de novo, pelo que o Estado deveria criar maiores fundos de
apoio às empresas deste setor e também ajudar na promoção da noite e, portanto,
romper com a sua dinâmica frequentemente segregacionista.
Augusto Bernardes Espinosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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