sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Afinal qual o efeito no setor imobiliário de habitação da pandemia?

Depois de quase um ano de ser declarada a pandemia da Covid-19, a situação do mercado imobiliário em Portugal dá sinais de abrandamento e futuro “incerto”. Numa altura em que o PIB atingiu mínimos históricos muito afetado pelo turismo, o mercado imobiliário pode perder alguma força. Porém, novas tendências indicam uma maior construção, e consequente oferta, nos concelhos vizinhos de Lisboa e Porto.

Segundo opinião escrita no Jornal de Negócios, “em termos percentuais o mercado viu a sua atividade diminuir em cerca de 21,6% em volume e em cerca de 15,2% em valor”, concluindo-se que “o impacto da pandemia afetou sobretudo os segmentos e as tipologias mais baixas do mercado, daí se explicará a variação negativa em volume ter sido maior que a variação em valor”. No mesmo artigo, pode ler-se também que, “não nos esperará nenhuma catástrofe mas as perspetivas terão de ser bastante moderadas, tendo-se mesmo de considerar que o mercado possa perder, este ano, entre 5 a 8% da sua atividade.”

É verdade que os preços das casas à venda subiram 10,3% em Portugal no primeiro trimestre de 2020, face ao mesmo período do ano passado, uma boa notícia para as imobiliárias, sendo que os números já contemplam o mês de março, marcado pela chegada da pandemia a Portugal. E mais: nos primeiros três meses do ano, foram vendidos 43.532 imóveis, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE). Contudo, “enquanto em janeiro e fevereiro de 2020 se observaram aumentos homólogos do número de transações (9,4% e 3,5%, respetivamente) e do respetivo valor (21,5% e 13,5%, pela mesma ordem), em março o número de transações e o respetivo valor reduziram-se 14,1% e 3,3%, face ao mesmo mês de 2019”, e constatou que no 2º trimestre de 2020 a desaceleração poderá ter sido condicionada pelas restrições impostas pelo estado de emergência, que motivou algumas situações como o adiamento de escrituras, o encerramento dos estabelecimentos ao público e o impedimento de realizar de visitas presenciais a imóveis. 

Contudo, e apesar do cenário ainda cinzento, podemos olhar para este mercado como um porto seguro, sendo o imobiliário um ativo que, normalmente, valoriza no longo prazo.  É ainda difícil prever o que pode vir acontecer no imobiliário residencial e turístico, mas parece-me que existirão muitas oportunidades depois desta pandemia. As habitações que se encontram bem localizadas e que estejam afastadas das grandes cidades serão cada vez mais procuradas.

Esta procura por localizações fora dos centros urbanos está diretamente relacionada com o momento atual, em que valorização dos espaços exteriores e a qualidade da nossa casa se torna evidente. Adicionalmente, uma das principais tendências do pós-covid é a procura crescente por propriedades rodeadas pela natureza ou com fácil acesso a amplos espaços verdes e ar puro, onde os residentes se sintam em segurança do ponto de vista físico e sanitário e onde possam passar tempo de qualidade em família, em comunhão com a natureza e com tranquilidade.

Em suma, incertezas à parte, o mercado imobiliário continuará a ser o mercado imobiliário, isto é, grandes oportunidades em períodos de recessão, com especulação de uma valorização a longo-prazo e a tendência de “fuga” dos grandes centros, procurando zonas mais periféricas, zonas menos movimentadas, zonas com mais espaços verdes.

 

João Manuel Martins da Silva 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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