terça-feira, 2 de novembro de 2021

Apenas 100 empresas mundiais estão ligadas a 71% das emissões globais de gases efeito de estufa

Apenas 100 empresas mundiais foram a fonte de 71% das emissões globais de gases efeito de estufa desde 1988, segundo um estudo publicado pela Carbon Disclosure Project (CDP), em 2017, que mapeou a grande expansão da indústria dos combustíveis fósseis desde o final da década de 80. Geralmente, a produção de gases efeito de estufa é avaliada por países, mas este estudo permitiu-nos assim identificar entidades específicas e as suas caraterísticas. Segundo a CDP, este projeto permite assim aumentar a transparência entre os produtores de combustíveis fósseis e informar os seus investidores das emissões associadas aos seus investimentos.

De entre as 100 mencionadas, podemos destacar as 7 principais:

China Coal – 14,3 %

Saudi Aramco – 4,5 %

Gazprom OAO – 3,9 %

National Iranian Oil Co – 2,3 %

ExxonMobil Corp – 2,0 %

Coal India – 1,9 %

Petróleos Mexicanos – 1,9 %

Este estudo mostra assim a principal diferença entre a oferta e procura no que diz respeito aos combustíveis fósseis. Num oceano de consumidores que caraterizam a procura, os produtores são empresas “tangíveis” de grande relevância, em que os seus investidores são conhecidos, em especial investidores públicos, a que o estudo atribuí um quinto das emissões globais. A este título, podem destacar-se da lista acima a ExxonMobil (investimento público) ou Saudi Aramco e Gazprom (empresas estatais). Há assim uma necessidade enorme em perceber como funciona o lado da oferta no que diz respeito aos combustíveis fósseis.

As emissões que foram analisadas distinguem-se em 2 tipos: as emissões upstream, causadas pela extração dos combustíveis fósseis; e as emissões downstream, causadas pelos seus consumidores, que correspondem à maior percentagem. Ou seja, não nos podemos excluir como consumidores da responsabilidade, mas estaríamos a sobrevalorizar o nosso papel, a colocar apenas o foco em políticas na mudança do comportamento do consumidor, ou das empresas, caindo assim em retóricas políticas da exclusiva responsabilidade individual. É preciso que estas sejam acompanhadas por políticas para a indústria dos combustíveis fósseis, devido ao seu papel na produção de combustíveis, mas também ao protagonismo que estas têm tido na discussão das alterações climáticas.

Um exemplo disto foram as táticas usadas por esta indústria no passado, semelhantes às da indústria do tabaco, na tentativa de criarem um ambiente de discordância e debate na comunidade científica, quando esta na sua maioria estava em concordância em relação às alterações climáticas e ao papel do ser humano. Uma destas empresas era a ExxonMobil, a qual foi processada pelo estado americano do Minnesota por promover uma "campanha fraudulenta" que deliberadamente tentou sabotar a ciência que comprova o aquecimento global. Este ambiente de dúvida ainda hoje tem repercussões no debate político contemporâneo.

Na dicotomia produtores/consumidores há a tendência para responsabilizar produtores ou consumidores, ignorando que a responsabilidade é de produtores e consumidores, e as políticas têm que tornar ambos os protagonistas de um novo futuro. Num mundo onde cada vez é exigido políticas que façam a mudança para a descarbonização, perceber o importante papel de um grupo tão reduzido de empresas, e o poder que têm os seus donos e investidores, quer sejam estes governos ou privados, pode ser a chave para que estas políticas tenham o fim que tanto desejamos.

 

João Eduardo Vilaverde Lopes

BIBILOGRAFIA

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54284565

https://harvardpolitics.com/climate-change-responsibility/

https://b8f65cb373b1b7b15feb-c70d8ead6ced550b4d987d7c03fcdd1d.ssl.cf3.rackcdn.com/cms/reports/documents/000/002/327/original/Carbon-Majors-Report-2017.pdf?1499691240

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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