segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Natalidade em Portugal: Desafio ou Progresso?

        Nas últimas décadas, a natalidade, à vista de muitos, tornou-se um problema em Portugal. A sua diminuição drástica tem feito com que a população portuguesa envelhecesse gradualmente, situação que causa alerta na economia do país e que tem tendência para piorar no futuro. Contudo, será isto um aspeto negativo do país ou um progresso?

          A natalidade é um assunto muito falado na Assembleia com o objetivo de arranjar as melhores estratégias possíveis para pôr fim à sua queda e incentivar o seu aumento. Os portugueses queixam-se que não possuem os recursos suficientes para criar um filho e o governo trata de dar incentivos monetários às famílias. Será este o raciocínio mais correto? Se falarmos na natalidade, numa perspetiva mais histórica, reparamos que nas gerações mais antigas, como a dos nossos avós, por exemplo, ter 6, 7, 8 filhos ou mais era normal, e temos que ter em conta que Portugal e, respetivamente, as famílias portuguesas eram muito mais pobres.

          Estas adversidades fazem-nos questionar se será mesmo apenas a crise económica ou a falta de recursos que causa a queda da natalidade. Para respondermos a esta questão precisamos de refletir nos seguintes pontos:

·       Atualmente, devido aos requisitos da segurança social, é obrigatório colocar os filhos na escola até ao 12º ano, o que contrasta com um passado em que era pedido aos filhos para irem trabalhar (principalmente, em meios rurais). Assim, os filhos passaram de uma fonte de rendimento para uma forma de investimento. Os pais têm de, obrigatoriamente, pagar o ensino, que, mesmo que seja público, acarreta despesas como material escolar, livros, transportes, etc... Por outro lado, este investimento possui um custo de oportunidade: ao estar na escola, os filhos não ganham dinheiro, porém ganham conhecimento e educação para a vida toda.

·       Em comparação com as primeiras décadas do século XX, Portugal encontra-se muito melhor a nível económico e a grande queda que se deu na natalidade ocorreu na transição para o grupo dos países mais desenvolvidos.

Seguindo esta a perspetiva, a queda da natalidade em Portugal deve ser vista como um aspeto positivo, pois o país tornou-se mais moderno, sensato e rico.

No meu entendimento, as principais razões/fatores para a diminuição da natalidade são o crescimento económico, os direitos das mulheres e a emancipação feminina (implicação de maior independência financeira e maior respeito pelas suas escolhas acerca da natalidade), a segurança social e os métodos contracetivos.

É importante referir que entre estes fatores há aqueles que são mais responsáveis pela diminuição da natalidade. Os direitos das mulheres e a emancipação feminina e a segurança social são fatores que advém das alterações das normas socias, oriundas do crescimento económico.

Embora pareça ser uma razão importante, a razão dos métodos contracetivos é muito menos importante do que as outras porque, historicamente, todas as sociedades tiveram maneiras de controlar as taxas de natalidade dentro de certos parâmetros.

Ainda assim, a diminuição está descontrolada. Em 2000, a taxa bruta de natalidade era de 11,66%o, e sofreu uma queda para 9,59%o até 2010. A natalidade atingiu o menor valor de sempre em 2014, com uma taxa bruta de 7,92%o. Em 2015 e 2016 a natalidade recuperou muito pouco, voltando para valores de 8,44%o, mas em 2017 começou novamente a diminuir. A última taxa bruta de natalidade que se encontra calculada pelo INE (2020) é de 8,2%o.

Com isto, mesmo que determinada queda na natalidade possa compor alguma progressividade no país, esta, hoje, apresenta-se como um desafio e condiciona o futuro do país, como, por exemplo, a sustentabilidade da segurança social.

 

Ana Carolina Rodrigues Araújo

 [artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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