terça-feira, 22 de outubro de 2013

A aposta no mercado externo

Actualmente, apenas ouvimos dizer que a dívida não pára de crescer, o desemprego atingiu níveis recordes e a austeridade já se torna insuportável e atrasa cada vez mais o país. Contudo, temos vindo nos últimos anos a combater um problema crónico da nossa economia, o défice da balança comercial externa, o que dá alguma esperança para o futuro.
Segundo dados divulgados pelo INE, assistiu-se a um crescimento das exportações em 2012 de 5,8% face a 2011, e a uma diminuição das importações de 5,4% face a 2011, o que representa uma melhoria significativa da Balança comercial. Actualmente, as exportações portuguesas já ascendem a 39% do PIB, superando países como o Reino Unido (32%), Espanha (30%), Itália (28%) e França (27%), países conhecidos por serem potências industriais e de serviços na Europa. Embora tenha havido um aumento das exportações e o perfil geográfico dos clientes é mais diversificado, estamos a vender cada vez mais produtos de baixo teor tecnológico.
Apesar de já nos situarmos próximos da fasquia dos 40% do PIB, o objectivo segundo o actual ministro da Economia é de Portugal exportar pelo menos 50% do Produto. A realidade é que estes valores são mais influenciados pela queda do produto do que propriamente pelo aumento das exportações.
Outro lado negativo é o das exportações serem maioritariamente de tecnologia baixa e média-baixa, o que apresentou uma pequena tendência de subida no último ano, enquanto que o peso das exportações de elevado teor tecnológico no total das exportações tenha vindo a decrescer sucessivamente, sendo actualmente cerca de 40% mais baixo do que nos primeiros anos do euro. Isto significa algum risco para a continuidade do aumento das exportações, já que quem exporta produtos com baixo teor de tecnologia está a competir principalmente com países da Ásia, como a China, os quais possuem salários significativamente mais baixos, e com isso mais competitividade, em geral. No caso dos serviços, houve uma subida, passando o seu peso de 27% em 2011 para 30% do total das exportações em 2012.
Do lado das importações não há muito a dizer, embora  seja expectável uma estagnação em vez de uma descida, o que pode ser parcialmente justificado com o aumento das exportações.
Existem fortes indicadores para que a fonte da recuperação da economia sejam as exportações, e o equilíbrio e posterior superavit da balança comercial externa. Será um bocado cedo para pensar que apenas a aposta nos mercados externos por parte das empresas nacionais seja o suficiente. Prevê-se que em 2013 haja um forte abrandamento do aumento das exportações, o qual se acredita que não passe além dos 3%. Num futuro próximo, Portugal terá que apostar forte em países emergentes e tornar-se menos dependente dos mercados da União Europeia, que representam cerca de 75% das exportações portuguesas, e cujas economias apresentam expectativas de crescimento bastante baixas. Hoje em dia, é necessário arrecadar uma quota de mercado relevante em países emergentes para se conseguir  crescer de forma sustentada, o que já se verifica pela nossa parte para os PALOP, para a China e outros países emergentes do mundo asiático, e para países do norte de África como a Argélia e Marrocos, sendo que este último se tornou mais importante que a China e o Brasil no 1º semestre do ano corrente.
Para que as empresas consigam manter ou mesmo aumentar a sua competitividade nos próximos anos será necessário alguma ajuda por parte do Estado, que tem sido mais um obstáculo do que propriamente uma ajuda á expansão das exportações. Mas haverá alguma luz ao fundo do túnel que visa a austeridade como caminho a seguir caso o governo prossegua com a proposta de redução do IRC das empresas e caso aplique outras leis que promovam a competitividade.
Por parte das empresas, também se espera um certo trabalho para promover o comércio externo, principalmente no que diz respeito ás mudanças sectoriais e na formação de recursos humanos, para que seja possível tanto competir com mercados de mão-de-obra barata como em  mercados de indústria de alta tecnologia.

Nuno Francisco Gonçalves Correia

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]                                                                           

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