Num breve enquadramento desta problemática, podemos dizer
que com o acordo assinado com a troika ficou acordada uma reestruturação da
economia do país assente em bens e serviços não transaccionáveis. Assim, esta
reestruturação só poderia resultar em desemprego (uma vez que era natural que
fosse este sector a pagar a factura). No entanto, esta evolução negativa,
apesar de esperada, verifica-se com números substancialmente mais elevados do
que os aguardados.
Por outro lado, o Governo não está a conseguir gerir bem as
expectativas desta reestruturação e da sua grande consequência – desemprego de
longa duração e desemprego jovem. Muitas das reformas que estão a ser feitas,
os seus efeitos apenas serão visíveis a longo prazo; assim como o novo quadro
comunitário de apoio que chega em 2014 e não terá desde logo impacto.
O PIB previsto para 2014 não evita que o crescimento
continue a contrair. Ora, o Governo não pode dizê-lo mas a destruição de
emprego não é um dado colateral: é parte da estratégia de desvalorização
interna. Como é possível ver no último World
Outlook, o FMI escreveu: “…esta implica a queda no preço de bens não
transaccionáveis em relação aos transaccionáveis para ajudar a reorientar a
produção doméstica na direcção destas”. Induzir, através de políticas
orçamentais, desemprego, é uma forma eficaz de diminuir os preços e
desincentivar a alocação de recursos.
Por outro lado, o FMI considera como pequena a redução dos
custos unitários, o que significa que uma possível recuperação da economia
poderia ameaçar a redução do défice. Tal foi visível no 2º trimestre de 2013: o
país cresceu 1.1% mas à custa da procura interna (as importações quase anularam
o impacto das exportações).
Logo, encontramo-nos numa situação em que mesmo que
consigamos sair da encruzilhada entre reduzir o défice externo ou aumentar o desemprego,
ficamos com uma grande questão em aberto: “será que a opção de compressão dos
salários é o caminho para a economia subir na cadeia de valor?”
José Miguel Soares
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
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