domingo, 20 de outubro de 2013

Desemprego em Portugal (ou será que devemos dizer: desemprego estratégico em Portugal?)

Num breve enquadramento desta problemática, podemos dizer que com o acordo assinado com a troika ficou acordada uma reestruturação da economia do país assente em bens e serviços não transaccionáveis. Assim, esta reestruturação só poderia resultar em desemprego (uma vez que era natural que fosse este sector a pagar a factura). No entanto, esta evolução negativa, apesar de esperada, verifica-se com números substancialmente mais elevados do que os aguardados.
Por outro lado, o Governo não está a conseguir gerir bem as expectativas desta reestruturação e da sua grande consequência – desemprego de longa duração e desemprego jovem. Muitas das reformas que estão a ser feitas, os seus efeitos apenas serão visíveis a longo prazo; assim como o novo quadro comunitário de apoio que chega em 2014 e não terá desde logo impacto.
O PIB previsto para 2014 não evita que o crescimento continue a contrair. Ora, o Governo não pode dizê-lo mas a destruição de emprego não é um dado colateral: é parte da estratégia de desvalorização interna. Como é possível ver no último World Outlook, o FMI escreveu: “…esta implica a queda no preço de bens não transaccionáveis em relação aos transaccionáveis para ajudar a reorientar a produção doméstica na direcção destas”. Induzir, através de políticas orçamentais, desemprego, é uma forma eficaz de diminuir os preços e desincentivar a alocação de recursos.
Por outro lado, o FMI considera como pequena a redução dos custos unitários, o que significa que uma possível recuperação da economia poderia ameaçar a redução do défice. Tal foi visível no 2º trimestre de 2013: o país cresceu 1.1% mas à custa da procura interna (as importações quase anularam o impacto das exportações).
Logo, encontramo-nos numa situação em que mesmo que consigamos sair da encruzilhada entre reduzir o défice externo ou aumentar o desemprego, ficamos com uma grande questão em aberto: “será que a opção de compressão dos salários é o caminho para a economia subir na cadeia de valor?”

José Miguel Soares

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]

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