sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eleições Autárquicas

O grande vencedor do dia 29 foi o Partido Socialista, que passou das 132 Câmaras Municipais conquistadas em 2009 para 148, obtendo uma vantagem de 39 Câmaras face ao PSD, o grande derrotado da noite eleitoral. Esta desaprovação do Governo tem consequências políticas e económicas. Neste artigo, vou-me focar apenas no efeito que as Eleições Autárquicas tiveram na Economia. Para isso, vou recorrer aos mercados de capitais e analisar a evolução do PSI 20 e das taxas de juro das Obrigações do Tesouro português.
A última cotação do PSI 20 de sexta-feira, 27 de Setembro, foi de 6000,47 pontos e, segunda-feira ,fechou nos 5953,51, o que representa uma queda de 0,8%. Para melhor analisar esta queda do índice bolsista português, vou recorrer às cotações da banca, devido a esta estar sempre intimamente relacionada com a situação do país, porque depende muito da atividade económica, das expetativas dos agentes económicos e detém grande parte da dívida pública. Então, o BCP passou dos 0,094 euros por ação para 0,08, uma queda de 14,9%, o BES caiu 3,5% e o BPI baixou 1,2%. Através desta informação, a conclusão que eu tiro é que é bastante pertinente discriminar as cotações da banca quando se está a fazer uma análise da economia portuguesa como um todo, porque, como podemos observar a partir destes dados, é muito mais sensível à atividade económica nacional e as variações são mais percetíveis do que as do índice. Assim, uma queda do índice de 0,8% pode parecer pequena, mas ao olhar para o setor bancário já ficamos mais apreensivos com as consequências da instabilidade política.
Surpreendentemente, as taxas de juro das Obrigações de Tesouro desceram no mercado secundário em todas as maturidades, senão vejamos: a 2 anos passou dos 5,43% para os 5,34%, o que equivale a uma queda de 9 pontos base; e a 10 anos estava nos 6,95% e desceu 12 pontos base para os 6,83%.
É sempre difícil fazer uma análise “ceteris paribus” porque há dezenas de acontecimentos que influenciam os mercados de capitais por dia e uma notícia em qualquer país no mundo tem reflexos em Portugal devido à globalização e à interdependência das economias. Assim sendo, convém comparar Portugal com outros países semelhantes, como Espanha, para tentar sentir o pulso de qualquer choque internacional que estivesse a influenciar os mercados nessa altura. E Espanha teve um comportamento semelhante ao português: tanto o IBEX 35 (-0,5%) como as taxas de juro das OT (-6 pontos base) desceram de 27 para 30 de Setembro, mas foi uma descida muito ligeira comparada com a portuguesa, o que me permite aferir que as Eleições Autárquicas acentuaram essa tendência de queda em Portugal.
A leitura que eu faço dos mercados é que o risco de Portugal não cumprir com os seus títulos de dívida a 2 anos não se alterou com as eleições, isto porque teremos um novo Governo nessa altura (previsivelmente do PS) e,  portanto, numa visão de médio e longo prazo, é um pouco indiferente termos eleições antecipadas agora ou Eleições Legislativas no final do mandato deste Governo. Por outro lado, no mercado de ações, o curto prazo é mais relevante, e o resultado destas eleições veio pôr em causa sobretudo a viabilidade governativa no próximo ano, por causa do aumento do peso político dos partidos da oposição, partidos de esquerda que tradicionalmente penalizam mais a banca nas suas medidas, o que também pode explicar a grande queda bolsista dos três maiores bancos nacionais do PSI 20.
Rui Vasco Rodrigues Ramos

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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