O grande vencedor do dia 29 foi o Partido Socialista, que
passou das 132 Câmaras Municipais conquistadas em 2009 para 148, obtendo
uma vantagem de 39 Câmaras
face ao PSD, o grande derrotado da noite eleitoral. Esta desaprovação
do Governo tem consequências políticas e económicas. Neste artigo, vou-me
focar apenas no efeito que as Eleições Autárquicas tiveram na Economia.
Para isso, vou recorrer aos mercados de capitais
e analisar a evolução do PSI 20 e das taxas de juro das Obrigações do
Tesouro português.
A última cotação do PSI 20 de sexta-feira, 27 de
Setembro, foi de 6000,47 pontos e, segunda-feira ,fechou nos 5953,51, o
que representa uma queda de 0,8%. Para
melhor analisar esta queda do índice bolsista português, vou recorrer às
cotações da banca, devido a esta estar sempre intimamente relacionada
com a situação do país, porque depende muito da atividade económica, das
expetativas dos agentes económicos e detém
grande parte da dívida pública. Então, o BCP passou dos 0,094 euros por
ação para 0,08, uma queda de 14,9%, o BES caiu 3,5% e o BPI baixou
1,2%. Através desta informação, a conclusão que eu tiro é que é bastante
pertinente discriminar as cotações da banca quando
se está a fazer uma análise da economia portuguesa como um todo,
porque, como podemos observar a partir destes dados, é muito mais
sensível à atividade económica nacional e as variações são mais
percetíveis do que as do índice. Assim, uma queda do índice de
0,8% pode parecer pequena, mas ao olhar para o setor bancário já
ficamos mais apreensivos com as consequências da instabilidade política.
Surpreendentemente, as taxas de juro das Obrigações de
Tesouro desceram no mercado secundário em todas as maturidades, senão
vejamos: a 2 anos passou dos 5,43%
para os 5,34%, o que equivale a uma queda de 9 pontos base; e a 10 anos
estava nos 6,95% e desceu 12 pontos base para os 6,83%.
É sempre difícil fazer uma análise “ceteris paribus”
porque há dezenas de acontecimentos que influenciam os mercados de
capitais por dia e uma notícia em qualquer
país no mundo tem reflexos em Portugal devido à globalização e à
interdependência das economias. Assim sendo, convém comparar Portugal com
outros países semelhantes, como Espanha, para tentar sentir o pulso de
qualquer choque internacional que estivesse a influenciar
os mercados nessa altura. E Espanha teve um comportamento semelhante ao
português: tanto o IBEX 35 (-0,5%) como as taxas de juro das OT (-6
pontos base) desceram de 27 para 30 de Setembro, mas foi uma descida
muito ligeira comparada com a portuguesa, o que me
permite aferir que as Eleições Autárquicas acentuaram essa tendência de
queda em Portugal.
A leitura que eu faço dos mercados é que o risco de
Portugal não cumprir com os seus títulos de dívida a 2 anos não se
alterou com as eleições, isto porque
teremos um novo Governo nessa altura (previsivelmente do PS) e, portanto, numa visão de médio e longo prazo, é um pouco indiferente
termos eleições antecipadas agora ou Eleições Legislativas no final do
mandato deste Governo. Por outro lado, no mercado de ações,
o curto prazo é mais relevante, e o resultado destas eleições veio pôr
em causa sobretudo a viabilidade governativa no próximo ano, por causa
do aumento do peso político dos partidos da oposição, partidos de
esquerda que tradicionalmente penalizam mais a banca
nas suas medidas, o que também pode explicar a grande queda bolsista
dos três maiores bancos nacionais do PSI 20.
Rui Vasco Rodrigues Ramos
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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