quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Medidas de Austeridade e Consumo

        Tendo em conta algumas previsões do Banco de Portugal, que nos dizem que o consumo deverá cair este ano 3,8%, sofrendo em 2014 uma diminuição de mais 0,4%, parece-me relevante dissecar o principal motivo desta queda constante do consumo, as medidas de austeridade. Estas medidas têm implicações sobre a sustentabilidade das empresas, a qualidade de vida das famílias portuguesas e consequente redução do nível de consumo.
            É compreensível que as medidas de austeridade existam como forma de satisfazer a necessidade de reduzir o défice das contas públicas e a dívida externa, que estiveram na origem do pedido de resgate financeiro em 2011.
Recorde-se que este défice foi devido ao desequilíbrio da nossa balança comercial, que anos e anos apresentaram elevados desequilíbrios, com as importações a atingirem sucessivamente valores superiores às exportações. Como forma de colmatar este défice, surge a necessidade de aplicar medidas restritivas do consumo, para que Portugal possa cumprir o programa acordado com as entidades financeiras internacionais. Contudo, é preciso notar que estas medidas levam à estagnação do consumo e à paralisia económica.
Num pais onde cerca de 90% do tecido empresarial é composto por pequenas e médias empresas que dependem do mercado nacional, uma redução da procura interna, provocada pela redução do rendimento disponível das famílias, originará quase inevitavelmente um aumento do nível de desemprego, caindo-se assim numa espiral económica recessiva. Esta conclusão é suportada na análise do modelo IS/LM, que nos diz que um aumento dos impostos (T) faz a curva IS deslocar-se para a esquerda, dando origem a um novo ponto de equilíbrio em que verificamos um nível de produto inferior ao registado anteriormente. Durante este processo, assistimos a uma redução da procura (z) e do consumo (C), assim como a uma redução do investimento (I).
Posto isto, e tendo agora mais em conta as famílias, posso dizer que estas medidas de austeridade provocam uma clara redução do nível de consumo, potencializado por uma redução dos salários reais, o que causa uma redução clara da qualidade de vida dos consumidores. De acordo com a teoria do consumidor, este estará tanto melhor quanto mais produtos puder comprar. Um aumento dos impostos leva a uma redução do rendimento disponível ou, se quisermos, a uma nova e maior restrição orçamental, o que faz com que os consumidores possam comprar menos produtos. Posto isto, podemos dizer que uma redução no consumo leva a uma redução na qualidade de vida das famílias.
Concluindo, de forma a resolver ou melhorar o panorama atual e aumentar o consumo e a qualidade de vida dos consumidores, face á degradação da procura interna, a única solução para promover o crescimento económico é a aposta deliberada no sector empresarial exportador, fornecendo às empresas meios capazes de reforçar a sua atividade, nomeadamente linhas de apoio financeiro e a sua promoção externa, proporcionando-lhes mercados que individualmente lhe estão vedados. Esta aposta levaria a um superavit na balança comercial, reduzindo assim as necessidades de financiamento.

Diogo Alexandre de Queirós e Cardoso

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Sem comentários: