Desde o 25 de Abril, o Estado Português
foi crescendo e gastando cada vez mais. O Estado habituou-se a uma subida de
gastos permanente. Quando o euro chegou, devido aos juros baixos, também os
particulares começaram a gastar e começaram a fazer uma vida regalada com o
dinheiro emprestado. Mantivemos um padrão de vida que não correspondia àquilo
que nós próprios produzíamos.
A soma desses dois endividamentos foi
galopando de uma forma extremamente rápida. A crise internacional de 2008
antecipou o grave problema português, porque trouxe mais dificuldades, para
além das que seriam normais.
A crise do euro tem origens profundas. Ela
é resultado do arrefecimento das economias, quer da zona euro quer dos Estados
Unidos. Estes dez últimos anos mostram a decadência da Europa. Entre 2001 e 2010,
a zona euro, no total, cresceu 1,1 por cento anualmente. Os países
desenvolvidos do Ocidente, incluindo os Estados Unidos, na primeira década do
século XXI, exibiram economias que vieram a arrefecer, devido à
desindustrialização, e é por isso que
temos taxas de desemprego elevadas, salários baixos e um empobrecimento geral
das sociedades.
Nestes trinta anos, com a liberalização do
comércio, as mercadorias passaram a circular livremente entre países. Por
conseguinte, passou a ser possível deslocar os capitais para o outro lado do
mundo – se uma empresa não dá resultado em Portugal porque a mão-de-obra é
cara, desloca os seus capitais e vai para um sítio onde a mão-de-obra é mais
barata. Estamos perto de uma estagnação muito prolongada, o que fará com que os
salários continuem baixos e o desemprego elevado. Este cenário contrasta com a
Europa de há trinta ou de há quarenta anos, quando a economia era muito próspera
e crescia seis ou sete por cento, em média.
Todos os anos produzimos menos do que no
ano anterior, portanto, não vai existir riqueza para pagar os juros e
reembolsar aos credores. A técnica do Estado de ‘injetar’ dinheiro na economia
fez com que a despesa pública atingisse 50 por cento do produto. Num contexto
de economia aberta, a despesa pública não conseguiu estimular a economia.
Quando a despesa pública se traduz num aumento do consumo de importações pelos
particulares, esses recursos abandonam a economia nacional. A solução passa por
tentar fazer com que os países produzam aquilo de que precisam.
A classe política dirigente falhou, uma
vez que não cuidou da economia, assistindo ao abandono da agricultura e à
desindustrialização. A economia está em declínio e é incapaz de suportar os
gastos do Estado. A redução de salários, a perda de ‘direitos adquiridos’ e o
definhamento das indústrias serão as consequências mais diretas do colapso das
economias ocidentais.
Os nossos credores olham para nós com a
desconfiança de que sejamos capazes de os reembolsar. Estamos, agora,
dependentes de terceiros e não poderemos perder esta oportunidade para
recolocar o país no caminho que se impõe.
Maria Luísa Araújo Alves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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