quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Banca e a crise em Portugal

Os maiores bancos a atuarem em Portugal apresentaram um comportamento misto relativamente aos resultados líquidos no primeiro semestre deste ano, com o BPI e o Santander Totta a obterem lucro e o BCP, o BES e a CGD a apresentarem resultados líquidos negativos.
O BPI apresentou o resultado líquido mais robusto, com um lucro de 58,9 milhões de euros, dividido entre mercado doméstico (20,4 milhões de euros) e operações internacionais (38,5 milhões de euros). No entanto, face ao período homólogo de 2012, tal representa uma queda de 30,7%.
O Santander Totta conseguiu atingir um lucro de 30,9 milhões de euros, graças ao forte crescimento no segundo trimestre deste ano, em que duplicou o resultado do trimestre anterior. Comparando com o período homólogo de 2012, é evidente uma queda para metade neste ano mas o banco justifica-se com o facto de no primeiro trimestre do ano passado se ter verificado um ganho não recorrente “com a operação de recompra de títulos emitidos no âmbito de operações de securitização de créditos.”
O BES, que no primeiro semestre de 2012 tinha apresentado um lucro de 25,5 milhões de euros, sofreu uma forte queda no período homólogo deste ano e obteve um prejuízo de 237,4 milhões de euros. As principais razões deste comportamento são a diminuição do produto bancário em 17,6% e o reforço das provisões em 75,3%.
O BCP, apesar de um prejuízo de 488 milhões de euros entre janeiro e junho de 2013, conseguiu ser a única instituição bancária das cinco apresentadas a melhorar a sua situação face ao período homólogo de 2012 (-544 milhões de euros).
Quanto à CGD, o único banco de capital público em Portugal, com um resultado líquido negativo de 181,6 milhões de euros no primeiro semestre de 2013, agravou a sua situação, que era de 12,7 milhões de euros no período homólogo de 2012. A Caixa explica estes resultados através do comportamento desfavorável da margem financeira, do aumento das imparidades e do aumento não recorrente dos custos com pessoal.
Como se pode ver pela informação anterior, a crise não tem sido fácil para os bancos e 2008 marcou um antes e um depois para o sector. A banca passou para um novo cenário em que a economia entrou em recessão, a taxa de desemprego disparou, a rendibilidade diminuiu, a deterioração da qualidade do crédito exigiu um reforço de provisões para imparidades, os mercados grossistas deixaram de emprestar, o prémio de risco aumentou até níveis insustentáveis, a carteira de títulos perdeu valor devido à crise económica e ao prémio de risco soberano e surgiu a necessidade de recorrer ao BCE como fonte de liquidez, para além de ser efetuada uma regulação mais exigente em termos de capital.
Perante tal situação, cabe aos bancos garantir os meios de pagamento da economia, as necessidades financeiras de investimento das famílias, o financiamento do tecido empresarial, a recolha de poupança de aforradores e a prestação de serviço de aconselhamento nas decisões de investimento. Para que tal acontecesse surgiu a necessidade de aproximação ao cliente, aliada à maior proatividade, melhor adequação dos produtos às necessidades do cliente (segmentação dos clientes), melhor gestão do risco e maior rendibilidade. Os bancos têm, ainda, de posicionar-se para a época de pós-crise e para a próxima fase de crescimento do sector, recuperando a confiança dos clientes, efetuando uma aproximação ao mercado com bons gestores de clientes, realizando importantes investimentos tecnológicos, e sempre com qualidade de serviço para um produto que se parece cada vez mais a uma “commodity”.
A rendibilidade passou a ser a palavra de ordem para as instituições bancárias e para isso era preciso gerir melhor os recursos (o que conduziu ao encerramento de várias agências bancárias pouco rentáveis), fazer crescer o negócio de empresas, aumentar o cross-selling e a vinculação de clientes, alargar a margem financeira e complementar, e reduzir o incumprimento e as imparidades.
Face ao descalabro do negócio do crédito à habitação, os clientes particulares deixaram de ser o foco na banca e o negócio de empresas tornou-se na grande aposta dos bancos por ser um segmento de elevada rendibilidade e um pilar fundamental na dinâmica da economia portuguesa. Cada empresa é uma organização de pessoas, cada uma dessas pessoas é um potencial cliente e a cada empresa estão ligados meios de captar novos clientes. No entanto, face à concorrência do sector, já não é viável para o negócio da banca esperar que as empresas venham ter com as instituições, mas antes os bancos, são compelidos a tomarem uma posição de pró-actividade e sobrevivência, procurando novos clientes e empresas. A “caça às empresas” é hoje uma constante pois, apesar dos números e relatórios contabilísticos serem importantes, não são uma verdade absoluta e tornou-se fundamental o conhecimento da realidade de cada cliente, o chamado “ver com os pés”.
Com a economia nacional em recessão, a salvação de várias empresas passa pela internacionalização que está adjacente a vários riscos, como a falta de capacidade ou vontade do importador em efetuar o pagamento, acontecimentos de carácter político que impeçam o importador de fazer face às suas obrigações, a falta de capacidade/vontade dos Governos em permitir pagamentos na moeda acordada (controlos cambiais) ou, ainda, a depreciação da moeda do contrato. A missão dos bancos passa, portanto, por vender às empresas não só instrumentos de cobertura dos riscos anteriores, como o recebimento antecipado e o pagamento postecipado, mas também fornecer apoio à tesouraria, apoio ao investimento no estrangeiro, trade finance e apoio ao negócio internacional.

Anthony Macedo 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

1 comentário:

Felisberto Reigado disse...

Amigo e Professor Cadima Ribeiro gostei de ler o seu artigo.
Um abraço
F. Marques Reigado