Os
maiores bancos a atuarem em Portugal apresentaram um comportamento misto
relativamente aos resultados líquidos no primeiro semestre deste ano, com o BPI
e o Santander Totta a obterem lucro e o BCP, o BES e a CGD a apresentarem
resultados líquidos negativos.
O
BPI apresentou o resultado líquido mais robusto, com um lucro de 58,9 milhões
de euros, dividido entre mercado doméstico (20,4 milhões de euros) e operações
internacionais (38,5 milhões de euros). No entanto, face ao período homólogo de
2012, tal representa uma queda de 30,7%.
O
Santander Totta conseguiu atingir um lucro de 30,9 milhões de euros, graças ao
forte crescimento no segundo trimestre deste ano, em que duplicou o resultado
do trimestre anterior. Comparando com o período homólogo de 2012, é evidente
uma queda para metade neste ano mas o banco justifica-se com o facto de no
primeiro trimestre do ano passado se ter verificado um ganho não recorrente “com a operação de recompra
de títulos emitidos no âmbito de operações de securitização de créditos.”
O
BES, que no primeiro semestre de 2012 tinha apresentado um lucro de 25,5 milhões de euros,
sofreu uma forte queda no período homólogo deste ano e obteve um prejuízo de
237,4 milhões de euros. As principais razões deste comportamento são a
diminuição do produto bancário em 17,6% e o reforço das provisões em 75,3%.
O
BCP, apesar de um prejuízo de 488 milhões de euros entre janeiro e junho de
2013, conseguiu ser a única instituição bancária das cinco apresentadas a
melhorar a sua situação face ao período homólogo de 2012 (-544 milhões de
euros).
Quanto
à CGD, o único banco de capital público em Portugal, com um resultado líquido
negativo de 181,6 milhões de euros no primeiro semestre de 2013, agravou a sua
situação, que era de 12,7 milhões de euros no período homólogo de 2012. A Caixa explica estes
resultados através do comportamento desfavorável da margem financeira, do
aumento das imparidades e do aumento não recorrente dos custos com pessoal.
Como
se pode ver pela informação anterior, a crise não tem sido fácil para os bancos
e 2008 marcou um antes e um depois para o sector. A banca passou para um novo
cenário em que a economia entrou em recessão, a taxa de desemprego disparou, a rendibilidade
diminuiu, a deterioração da qualidade do crédito exigiu um reforço de provisões
para imparidades, os mercados grossistas deixaram de emprestar, o prémio de
risco aumentou até níveis insustentáveis, a carteira de títulos perdeu valor
devido à crise económica e ao prémio de risco soberano e surgiu a necessidade
de recorrer ao BCE como fonte de liquidez, para além de ser efetuada uma
regulação mais exigente em termos de capital.
Perante
tal situação, cabe aos bancos garantir os meios de pagamento da economia, as
necessidades financeiras de investimento das famílias, o financiamento do
tecido empresarial, a recolha de poupança de aforradores e a prestação de
serviço de aconselhamento nas decisões de investimento. Para que tal
acontecesse surgiu a necessidade de aproximação ao cliente, aliada à maior
proatividade, melhor adequação dos produtos às necessidades do cliente
(segmentação dos clientes), melhor gestão do risco e maior rendibilidade. Os
bancos têm, ainda, de posicionar-se para a época de pós-crise e para a próxima
fase de crescimento do sector, recuperando a confiança dos clientes, efetuando
uma aproximação ao mercado com bons gestores de clientes, realizando
importantes investimentos tecnológicos, e sempre com qualidade de serviço para
um produto que se parece cada vez mais a uma “commodity”.
A
rendibilidade passou a ser a palavra de ordem para as instituições bancárias e
para isso era preciso gerir melhor os recursos (o que conduziu ao encerramento
de várias agências bancárias pouco rentáveis), fazer crescer o negócio de
empresas, aumentar o cross-selling e
a vinculação de clientes, alargar a margem financeira e complementar, e reduzir
o incumprimento e as imparidades.
Face
ao descalabro do negócio do crédito à habitação, os clientes particulares
deixaram de ser o foco na banca e o negócio de empresas tornou-se na grande
aposta dos bancos por ser um segmento de elevada rendibilidade e um pilar
fundamental na dinâmica da economia portuguesa. Cada empresa é uma organização de pessoas, cada uma dessas
pessoas é um potencial cliente e a cada empresa estão ligados meios de captar
novos clientes. No entanto, face à concorrência do sector, já não é viável para
o negócio da banca esperar que as empresas venham ter com as instituições, mas
antes os bancos, são compelidos a tomarem uma posição de pró-actividade e
sobrevivência, procurando novos clientes e empresas. A “caça às empresas” é
hoje uma constante pois, apesar dos números e relatórios contabilísticos serem
importantes, não são uma verdade absoluta e tornou-se fundamental o
conhecimento da realidade de cada cliente, o chamado “ver com os pés”.
Com a economia
nacional em recessão, a salvação de várias empresas passa pela
internacionalização que está adjacente a vários riscos, como a falta de
capacidade ou vontade do importador em efetuar o pagamento, acontecimentos de
carácter político que impeçam o importador de fazer face às suas obrigações, a
falta de capacidade/vontade dos Governos em permitir pagamentos na moeda
acordada (controlos cambiais) ou, ainda, a depreciação da moeda do contrato. A
missão dos bancos passa, portanto, por vender às empresas não só instrumentos
de cobertura dos riscos anteriores, como o recebimento antecipado e o pagamento
postecipado, mas também fornecer apoio à tesouraria, apoio ao investimento no
estrangeiro, trade finance e apoio ao
negócio internacional.
Anthony Macedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
1 comentário:
Amigo e Professor Cadima Ribeiro gostei de ler o seu artigo.
Um abraço
F. Marques Reigado
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