A crise portuguesa surge com a implementação do euro e a necessidade de convergência das políticas monetárias entre os países que iriam aderir à moeda única e os bancos centrais. As taxas de juro diminuíram, aumentando de forma considerável o crédito aos sectores público e privado. No sector privado, houve um aumento considerável do consumo e do investimento e, por isso, uma diminuição das poupanças. Perante um acesso ao crédito mais fácil, o Estado também expandiu sucessivamente a sua despesa pública corrente, que aumentou mais de 300% entre 1995 e 2010.
Com o aumento do consumo privado, seria de esperar a adopção de uma política orçamental mais favorável ao crescimento, através da diminuição da carga fiscal, para tornar o investimento mais atrativo, e não um aumento da despesa do Estado, sobretudo, via endividamento, que iria ter que ser compensado por um aumento da carga fiscal, condicionando o crescimento económico.
A injecção de liquidez na economia portuguesa, resultante da diminuição das taxas de juro, provocou um aumento dos salários reais superiores ao da produtividade, o que originou uma deterioração da competitividade da economia portuguesa. Desta forma, o crescimento da economia portuguesa registado entre 1995 e 2000 foi, essencialmente, sustentado pelo aumento do consumo privado e da despesa pública. De facto, a ausência de reformas estruturais que dinamizassem a oferta doméstica fez com que o aumento do rendimento e consumo se dirigissem, essencialmente, para a procura de bens estrangeiros, provocando assim uma deterioração da balança comercial.
Posteriormente, com a adesão ao euro e a estabilização das taxas de juro, verificou-se uma diminuição do investimento privado e uma desaceleração do consumo privado. Perante a quebra do sector privado e a impossibilidade de proceder a ajustes na taxa de câmbio para repor a competitividade da economia portuguesa, o Estado optou por aumentar a despesa pública de forma a assegurar a manutenção de ligeiros crescimentos económicos.
Recentemente, perante os efeitos da crise internacional, a economia portuguesa sofreu uma contracção em 2009 e acentuou-se o desequilíbrio das contas públicas. Embora esta queda da actividade económica em Portugal tenha sido inferior à média da Zona Euro, esta surge na sequência de uma década caracterizada por níveis de crescimento económico inferiores aos valores médios da Zona Euro. Os efeitos da crise na economia portuguesa traduziram-se, essencialmente, numa queda acentuada da procura externa, o que diminuiu as exportações líquidas, e num aumento do nível de incerteza, que terá funcionado como travão ao investimento privado e ao consumo, bem como contribuiu para o aumento do desemprego.
Concluindo, a actual crise financeira teve origem na adopção de políticas orçamentais despesistas, financiadas com baixas taxas de juro, que tinham como principal propósito dinamizar a convergência económica de Portugal com os restantes Estados-Membros da Zona Euro. Porém, essas mesmas políticas resultaram numa divergência económica, consequência da queda do investimento, do baixo nível de crescimento económico, da deterioração da competitividade portuguesa e dos elevados níveis de endividamento público e privado.
Hugo Barbosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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