segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O reflexo das remessas dos emigrantes na economia portuguesa

Portugal tem sido, desde o século XV, um país de emigrantes. Com um rumo inicial à Índia e Brasil, os portugueses foram-se espalhando, mais tarde, pela Europa, nomeadamente, pela França, Alemanha, Bélgica e Suíça, ambicionando, sobretudo, melhores condições de vida.
Expressas através da Balança de Pagamentos, as remessas dos emigrantes têm um papel importante na Economia portuguesa, apesar de, por vezes, omitido. Estas podem ser definidas como todas as transferências monetárias que um emigrante faz para o seu país de origem.
Como revela o secretário de Estado José Cesário, “o número de emigrantes tem aumentado com o crescimento das dificuldades económicas em Portugal.”. Podemos, assim, estabelecer uma relação entre os níveis de remessas e os períodos de crise de um país. No antigo período de 1993 a 1996, verificámos esta teoria ao observar uma queda das remessas em cerca de 15%, em resultado da fase final da recessão que influenciou o continente Europeu, tal como em 2007 e 2009, por consequência da instabilidade dos mercados a nível internacional. 
No entanto, a partir de 2009, começa-se a assistir a um aumento das remessas dos emigrantes, ainda que a ritmos inferiores ao de décadas passadas. Trata-se de uma tendência que se tem mantido nos últimos anos, a acompanhar o agravamento da crise do euro. 
Em 2008, ano em que rebentou a crise, os emigrantes travaram o envio de remessas, mas a partir daí os valores têm vindo a aumentar de modo consistente, segundo informação do Banco de Portugal.
De acordo com os últimos dados disponíveis, em Janeiro, o país recebeu quase 217 milhões de euros – mais 10% do que em igual período do ano anterior. No mesmo mês, saíram de Portugal 45 milhões, enviados por trabalhadores estrangeiros.    
As remessas de emigrantes subiram, em Junho deste ano, 2,5% quando comparados com o mesmo mês de 2012, segundo informação do Banco de Portugal, no seu boletim estatístico. De acordo com estes dados, os trabalhadores portugueses em França e na Suíça são os que mais contribuem, tendo enviado mais de 737 milhões de euros para Portugal neste primeiro semestre.
Os dados divulgados pelo Banco de Portugal permitem constatar que o total já enviado para Portugal ultrapassa os 1,3 mil milhões de euros, um pouco menos de metade dos 2,7 mil milhões de euros recebidos no total do ano passado, o que permite concluir que, a manter-se a tendência durante o segundo semestre, ainda por apurar na totalidade, Portugal receberá menos dinheiro de emigrantes este ano do que em 2012.
Do lado das remessas dos imigrantes, a subida em Junho foi bastante maior. Os trabalhadores estrangeiros em Portugal enviaram 47,2 milhões de euros em Junho, face aos 38,3 milhões que tinham enviado no mesmo mês do ano passado, o que representa uma subida de 23,3%.
Olhando para os primeiros seis meses, constata-se que os trabalhadores brasileiros, franceses e angolanos são os que mais enviam dinheiro para os seus países, num total de quase 260 milhões de euros até Junho.
No total do primeiro semestre, o envio de remessas de portugueses no estrangeiro suplanta de longe o dinheiro que sai do país: 1,3 mil milhões contra 260 milhões.
De modo geral, percebe-se que a crise internacional e, obviamente, a sua repercussão em Portugal, levou a que se registasse atualmente uma nova vaga de emigração nomeadamente para países como a Suíça, o Reino Unido, Espanha, Angola, etc.
Aquilo que leva os portugueses a emigrar hoje, embora seja diferente estruturalmente, não o é conjunturalmente. Nos anos 60, emigrava-se para mudar de vida; hoje, emigra-se pelas mesmas mas não com uma perspetiva de longo prazo. Emigra-se para pagar casa, resolver um desemprego inesperado, reequilibrar um orçamento familiar, etc.
Numa sociedade que não tem apetência ou possibilidade de investir na poupança, emigrar surge assim como um fundo financeiro a que se recorre quando as coisas ficam piores ou mais descontroladas, usufruindo de um quadro político especial onde a mobilidade é fator preponderante e facilitador do próprio movimento de emigração.
No meio de todo este quadro, as remessas dos emigrantes sempre tiveram e continuam a ter uma importância capital para o equilíbrio das nossas finanças, independentemente das opiniões diversas geradas. Recorde-se, por exemplo, que até Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, chegou a desvalorizar a importância deste fluxo de capitais, acabando mais tarde por lhe atribuir o devido valor.
Pode, por isso, afirmar-se que os valores das remessas dos emigrantes verificados atualmente, embora bastante distintos de valores observados em épocas passadas, continuam a ser um ponto fundamental na Economia Portuguesa, sendo extremamente relevante o contributo dado para o equilíbrio da balança de pagamentos.

Marisa Leite

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]

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