Em 1986, Portugal aderiu á CEE e
nos primeiros anos (1986-91) de experiência da integração europeia
verificaram-se taxas de crescimento anuais médias reais elevadas (à volta de
5.4%) beneficiadas pelo clima externo favorável, pela transferência de fundos
comunitários e pela política orçamental expansionista. De facto, os primeiros
anos de integração europeia tiveram bastante sucesso na economia portuguesa,
contribuindo para um largo consenso em torno da participação na criação da UEM.
O grande objectivo por detrás da adesão ao euro era que a economia portuguesa
continuasse a convergir para os níveis dos países mais ricos da UE, como se
tinha verificado nos primeiros anos de integração. Para além disto,
acreditava-se que os ganhos de credibilidade externa e a consequente diminuição
das taxas de juro, a estabilização da taxa de inflação e os benefícios de um
maior aprofundamento da integração portuguesa justificavam a adesão.
Contudo, na primeira década do
séc. XXI observou-se exatamente o contrário. Neste período (1999-2009), a
atividade económica portuguesa praticamente estagnou: o PIB cresceu a apenas
uma taxa média anual de 1.2%. Este dececionante desempenho da economia
portuguesa, que se verifica até hoje, tem várias explicações. Entre elas
podemos destacar o aumento da concorrência dos países emergentes e do Centro e
Leste europeu, decorrente do aprofundamento da globalização e do alargamento da
UE, a fragilidade do capital humano e a rigidez dos mercados de bens e serviços
e do trabalho.
O fracasso, em termos de
crescimento económico, da primeira década dentro da UEM, em contraste com as
elevadas taxas de crescimento registadas nos primeiros anos de integração,
suscitam muitas discussões e levantam a seguinte questão “E se Portugal não
tivesse aderido ao euro?”.
Para responder a esta pergunta,
vários economistas têm realizado exercícios contrafactuais, de forma a calcular
o impacto que o euro teve no crescimento da sua economia[1]. Na
realização deste exercício, admitiu-se que os objectivos de política económica
dos governos portugueses permaneceriam inalterados caso Portugal não adotasse o
euro e que a zona euro não seria afetada pela ausência de Portugal (podemos
considerar o peso que Portugal representa no conjunto dos dezassete países da
UEM marginal). Os resultados deste trabalho demonstraram, em primeiro lugar,
que se Portugal não tivesse aderido ao euro a taxa de crescimento da sua
economia teria sido, em média, 0.6 pontos percentuais mais elevada do que a
verificada. Em segundo lugar, verificou-se que a amplitude do ciclo económico
português teria sido superior, ou seja, se Portugal não tivesse aderido ao euro
o desempenho da economia portuguesa em termos de crescimento do PIB teria sido
mais favorável em anos de crescimento mas mais negativa em anos de recessão. Em
2009, a
recessão teria sido bastante mais severa para Portugal - em vez de ter
enfrentado uma recessão de 2.5% teria enfrentado uma recessão de mais de 8.5% -,
ou seja, a UEM acabou por ser um porto seguro
para Portugal neste período.
Concluindo, apesar de o euro
ter tido um impacto negativo na evolução do PIB nos primeiros 11 anos, não se
pode afirmar que Portugal deva abandonar a zona euro, ou mesmo que não deveria
ter participado na sua criação, apenas que Portugal teve dificuldades em
ajustar-se ao novo regime económico. Estas dificuldades resultaram quer de
choques externos, como a concorrência dos países emergentes ou a subida do
preço do petróleo, quer de erros de política económica, como a política
salarial que prejudicou a competitividade da economia, e de uma política
orçamental pró-cíclica.
José Costa
[1]Para este comentário
recorri, apenas, ao seguinte trabalho: “O euro e o crescimento da economia
portuguesa: uma análise contrafactual”, realizado por Luis Aguiar-Conraria,
Fernando Alexandre e Manuel Correia de Pinho.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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