segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Euro: estamos melhor dentro ou fora?

Em 1986, Portugal aderiu á CEE e nos primeiros anos (1986-91) de experiência da integração europeia verificaram-se taxas de crescimento anuais médias reais elevadas (à volta de 5.4%) beneficiadas pelo clima externo favorável, pela transferência de fundos comunitários e pela política orçamental expansionista. De facto, os primeiros anos de integração europeia tiveram bastante sucesso na economia portuguesa, contribuindo para um largo consenso em torno da participação na criação da UEM. O grande objectivo por detrás da adesão ao euro era que a economia portuguesa continuasse a convergir para os níveis dos países mais ricos da UE, como se tinha verificado nos primeiros anos de integração. Para além disto, acreditava-se que os ganhos de credibilidade externa e a consequente diminuição das taxas de juro, a estabilização da taxa de inflação e os benefícios de um maior aprofundamento da integração portuguesa justificavam a adesão.
Contudo, na primeira década do séc. XXI observou-se exatamente o contrário. Neste período (1999-2009), a atividade económica portuguesa praticamente estagnou: o PIB cresceu a apenas uma taxa média anual de 1.2%. Este dececionante desempenho da economia portuguesa, que se verifica até hoje, tem várias explicações. Entre elas podemos destacar o aumento da concorrência dos países emergentes e do Centro e Leste europeu, decorrente do aprofundamento da globalização e do alargamento da UE, a fragilidade do capital humano e a rigidez dos mercados de bens e serviços e do trabalho.
O fracasso, em termos de crescimento económico, da primeira década dentro da UEM, em contraste com as elevadas taxas de crescimento registadas nos primeiros anos de integração, suscitam muitas discussões e levantam a seguinte questão “E se Portugal não tivesse aderido ao euro?”.
Para responder a esta pergunta, vários economistas têm realizado exercícios contrafactuais, de forma a calcular o impacto que o euro teve no crescimento da sua economia[1]. Na realização deste exercício, admitiu-se que os objectivos de política económica dos governos portugueses permaneceriam inalterados caso Portugal não adotasse o euro e que a zona euro não seria afetada pela ausência de Portugal (podemos considerar o peso que Portugal representa no conjunto dos dezassete países da UEM marginal). Os resultados deste trabalho demonstraram, em primeiro lugar, que se Portugal não tivesse aderido ao euro a taxa de crescimento da sua economia teria sido, em média, 0.6 pontos percentuais mais elevada do que a verificada. Em segundo lugar, verificou-se que a amplitude do ciclo económico português teria sido superior, ou seja, se Portugal não tivesse aderido ao euro o desempenho da economia portuguesa em termos de crescimento do PIB teria sido mais favorável em anos de crescimento mas mais negativa em anos de recessão. Em 2009, a recessão teria sido bastante mais severa para Portugal - em vez de ter enfrentado uma recessão de 2.5% teria enfrentado uma recessão de mais de 8.5% -, ou seja, a UEM acabou por ser um porto seguro para Portugal neste período.
Concluindo, apesar de o euro ter tido um impacto negativo na evolução do PIB nos primeiros 11 anos, não se pode afirmar que Portugal deva abandonar a zona euro, ou mesmo que não deveria ter participado na sua criação, apenas que Portugal teve dificuldades em ajustar-se ao novo regime económico. Estas dificuldades resultaram quer de choques externos, como a concorrência dos países emergentes ou a subida do preço do petróleo, quer de erros de política económica, como a política salarial que prejudicou a competitividade da economia, e de uma política orçamental pró-cíclica.

José Costa

[1]Para este comentário recorri, apenas, ao seguinte trabalho: “O euro e o crescimento da economia portuguesa: uma análise contrafactual”, realizado por Luis Aguiar-Conraria, Fernando Alexandre e Manuel Correia de Pinho.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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